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Moda do ideograma faz jovem tatuar símbolo errado
Nos estúdios, eles querem desenhos orientais que "traduzam" de estados espirituais a nomes
Comerciante buscou a palavra "paz" em livrinho e acabou tatuando "ladrão'; garota queria o nome do namorado, mas grafou "supermercado"
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Tem saído muito amor e felicidade", diz o tatuador, olhar
sério, ao abrir seu catálogo de
símbolos orientais em um estúdio da Galeria do Rock, no centro de São Paulo. Virou moda.
Todo dia aparece quem queira
"traduzir" de estados etéreos
de espírito a nomes próprios
por meio de ideogramas -só
não sabem que os álbuns são
improvisados a partir da internet, com desenhos sem sentido
ou, no mínimo, inesperados.
"Olhei o livrinho, estava escrito "paz". Tatuei e ficou bonito", diz Leandro Djehdian, 25.
"Mas aí procurei "paz" em outros lugares e não era igual."
Dono de loja de produtos de
R$ 1,99, ele mostrou o desenho
aos chineses do ramo. "Aí eles
disseram que era "ladrão"." Pior
foi quando viajou à China a trabalho: passou dias de calor e
manga comprida. "Já pensou se
um "china" me bate?"
Não bateram, mas ele se livrou do desenho. "Aquilo não
era "paz" nem aqui nem na China", ironiza Martin Tattoo, que
fez o "cover" (tatuagem parar
"cobrir outras que não agradaram o cliente"). Djehdian pagou R$ 50 pelo falso ideograma;
e R$ 500 para escondê-lo.
"Não sei por que virou moda
no Brasil", diz a vice-diretora
da escola Chinbra, Liang Yan.
"Recebo todo dia e-mail querendo saber como se escreve
nome com ideogramas." Só que
nomes ocidentais não têm símbolos em mandarim. A escrita
sai por pronúncia aproximada.
"Mas o ideograma tem significado. Como Marcelo: o primeiro sinal tem a pronúncia "ma",
"cavalo". Então é perigoso", afirma. "E eles fazem até de cabeça
para baixo", diz, rindo.
T.F. não riu. "Tatuei ou quis
tatuar "paz"." Ele descobriu o
engano em casa, ao mostrar o
desenho a um chinês pela internet. O professor de mandarim (que procurou depois) confirmou: os símbolos estavam
trocados. "Mas vou tentar cobrir", diz o rapaz; que, até lá, só
terá "paz" na frente do espelho.
"Quando o cara não traz o papelzinho, a gente acha na internet", diz a "body piercer" de um
estúdio na Galeria do Rock
-lugar com dezenas de tatuadores que, logo se vê, compartilham os álbuns de símbolos,
burilados no Google.
Lá, a Folha achou três catálogos iguais -ou quase, porque
um trazia os símbolos com correções a caneta. O ideograma
para "gato", por exemplo, virou
"divertido"; e muitos outros tinham traços a mais e a menos.
"Hoje em dia, todo tatuador
faz kanji [ideogramas japoneses]", diz o tatuador Jefferson
Vieira, que todo dia recebe até
quatro pessoas atrás de ideogramas. "Mas se ele pede para
tatuar o nome da mãe, eu convenço a fazer em português.
Afinal, ele tem uma ligação
com a língua materna."
Outros não hesitam. "Para facilitar, usa o dimarca.com.br",
diz um tatuador da zona oeste.
Lá há um tal "conversor de nomes" para japonês -mas claro
que, no canto do estúdio, está o
álbum -que, para o professor
Diego Raigorodsky, era "um
show de horror". "O dragão parece rabiscado por uma criança, e o "longa vida" não existe."
É ele quem indica o site hanzismatter.com, "dedicado ao
uso incorreto de caracteres
chineses na cultura ocidental".
Está lá a jovem que quis tatuar
o nome do namorado, mas grafou "supermercado". "Por isso
digo para pesquisar", diz Djehdian. Até porque, brinca a professora Yan: "Nunca vi tatuador em curso de mandarim".
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