UOL


São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

URBANIDADE

Ilustração Vincenzo Scarpellini


CRIME ACÚSTICO Britadeiras pertencem a empresas terceirizadas e não são raras as que abusam dos horários invocando o prazo de entrega. Na falta de uma lei, não têm obrigação de coordenar-se entre si, abrem e fecham um mesmo trecho de rua (assim como os tímpanos dos cidadãos) antes para o telefone, depois para o gás, em seguida para o esgoto, então para a eletricidade... (VINCENZO SCARPELLINI)


Retrato em preto-e-branco

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Eliana Fátima dos Santos neste ano deixou de fazer parte de uma desconhecida modalidade de exclusão -os sem-fotos. Pela primeira vez, ela já pode ostentar no porta-retrato, depositado no ponto mais visível da sala de estar de sua casa, uma foto de família, em que aparece, toda cheia de sorrisos e abraços, ao lado da mãe e das filhas. "É uma emoção", conta.
A emoção de Eliana Fátima faz parte de uma experiência de estudantes de jornalismo e de publicidade realizada na periferia de São Paulo.
Eles descobriram pessoas que jamais tiveram uma foto de família e resolveram incluí-las no mundo tão corriqueiro das recordações presas em porta-retratos e em álbuns.
A idéia partiu de Simone Barreto, professora de fotografia das Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam), apaixonada, desde adolescente, pela arte de tirar retratos.
"Queríamos que os alunos aprendessem quantas informações relevantes pode conter um simples retrato", afirma a professora Simone Barreto .
Da experiência curricular surgiu o projeto de extensão universitária de combate à exclusão fotográfica. Dando solenidade àquele momento histórico, um cabeleireiro se ofereceu para preparar o visual dos integrantes da família.
"Que maravilha!", exclamou a catadora de papel Maria Roseli Ferreira ao receber a foto. "Vai ser ótimo mostrar minha família para todo mundo."
Uma das fotografadas foi convidada pelos estudantes a entrar no laboratório de revelação. Na escuridão, sentiu-se diante de um passe de mágica, observando as combinações químicas, incompreensíveis, tirarem lentamente do papel branco a imagem de sua família.
Batizada de "Retrato de Família", a experiência deu tão certo que vai continuar. "Deu certo porque é, em primeiro lugar, simples e, em segundo, porque, além de aprenderem, os alunos se emocionam com a emoção de quem recebe sua primeira foto", diz Simone Barreto.
Desde a semana passada, as anônimas famílias, fotografadas pelos anônimos estudantes, ganharam notoriedade: "Retrato de Família" transformou-se numa exposição ambulante na Vila Madalena, bairro da cidade de São Paulo onde existem mais estúdios fotográficos por metro quadrado.


Texto Anterior: Ordens continuam a sair das prisões
Próximo Texto: A cidade é sua: Advogado se queixa de falta de varrição em rua de Guarulhos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.