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URBANIDADE
Ilustração Vincenzo Scarpellini
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CRIME ACÚSTICO Britadeiras pertencem a empresas terceirizadas e não são raras as que abusam dos horários invocando o prazo de entrega. Na falta de uma lei, não têm obrigação de coordenar-se entre si, abrem e fecham um mesmo trecho de rua (assim como os tímpanos dos cidadãos) antes para o telefone, depois para o gás, em seguida para o esgoto, então para a eletricidade... (VINCENZO SCARPELLINI)
Retrato em preto-e-branco
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Eliana Fátima dos Santos neste ano deixou de fazer parte de uma desconhecida
modalidade de exclusão -os
sem-fotos. Pela primeira vez, ela
já pode ostentar no porta-retrato, depositado no ponto mais visível da sala de estar de sua casa,
uma foto de família, em que
aparece, toda cheia de sorrisos e
abraços, ao lado da mãe e das filhas. "É uma emoção", conta.
A emoção de Eliana Fátima
faz parte de uma experiência de
estudantes de jornalismo e de
publicidade realizada na periferia de São Paulo.
Eles descobriram pessoas que
jamais tiveram uma foto de família e resolveram incluí-las no
mundo tão corriqueiro das recordações presas em porta-retratos e em álbuns.
A idéia partiu de Simone Barreto, professora de fotografia das
Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam), apaixonada, desde adolescente, pela arte
de tirar retratos.
"Queríamos que os alunos
aprendessem quantas informações relevantes pode conter um
simples retrato", afirma a professora Simone Barreto .
Da experiência curricular surgiu o projeto de extensão universitária de combate à exclusão fotográfica. Dando solenidade
àquele momento histórico, um
cabeleireiro se ofereceu para preparar o visual dos integrantes da
família.
"Que maravilha!", exclamou a
catadora de papel Maria Roseli
Ferreira ao receber a foto. "Vai
ser ótimo mostrar minha família
para todo mundo."
Uma das fotografadas foi convidada pelos estudantes a entrar
no laboratório de revelação. Na
escuridão, sentiu-se diante de
um passe de mágica, observando
as combinações químicas, incompreensíveis, tirarem lentamente do papel branco a imagem de sua família.
Batizada de "Retrato de Família", a experiência deu tão certo
que vai continuar. "Deu certo
porque é, em primeiro lugar,
simples e, em segundo, porque,
além de aprenderem, os alunos
se emocionam com a emoção de
quem recebe sua primeira foto",
diz Simone Barreto.
Desde a semana passada, as
anônimas famílias, fotografadas
pelos anônimos estudantes, ganharam notoriedade: "Retrato
de Família" transformou-se numa exposição ambulante na Vila Madalena, bairro da cidade
de São Paulo onde existem mais
estúdios fotográficos por metro
quadrado.
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