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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Autores dos disparos, guardas dizem que vítima estava armada e que tentou invadir o local, na zona sul de SP; família nega

Rapaz é morto em base da Guarda Civil

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois do início dos ataques a delegacias e bases da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) de São Paulo, o ambulante Leandro Machado, 23, foi morto a tiros dentro da base da Guarda Civil da Capela do Socorro, zona sul da capital.
Segundo os guardas que atiraram, Machado estava armado e teria tentado invadir o local, pulando o portão. Segundo a família do rapaz e colegas da sociedade de amigos de bairro, ele não carregava arma, estava apenas tentando conseguir o apoio da GCM para um torneio esportivo e foi vítima do estado de tensão que reina na área de segurança pública desde que os atentados começaram.
O inquérito policial que investigará o caso, registrado como resistência seguida de morte no 101º DP (Distrito Policial), será acompanhado por uma sindicância da Ouvidoria da GCM, segundo o secretário municipal da Segurança Urbana, Benedito Mariano, a quem a guarda está subordinada.
Embora não tenha questionado formalmente a atitude dos guardas que atiraram contra Machado, Mariano não descartou que ela tenha sido um abuso.
O secretário admitiu que não há evidências físicas que corroborem a tese de legítima defesa (como buracos de bala nas paredes da base ou guardas feridos), afirmou que não é procedimento padrão atirar quando alguém, mesmo armado, pula o muro da base e disse que, se for encontrado algum indício de que a versão da GCM não é a verdadeira, haverá punições.
Mariano teve ontem à tarde uma reunião com comandantes da guarda para pedir calma, cautela e atenção redobrada, principalmente no período noturno.
Uma tia de Machado, que não quis se identificar, afirmou que a família está chocada e só quer justiça. Para ela e para colegas do rapaz, ele foi uma vítima do medo da polícia. Machado, que vendia água de coco em semáforos, não tinha antecedentes criminais.
Segundo o boletim de ocorrência, com o relato dos três guardas de serviço anteontem à noite, o rapaz chegou à base por volta das 22h30, para entregar um ofício.
Quando a guarda Andréa Alves dos Santos, 29, foi dizer a ele que voltasse em horário comercial, notou que havia outras duas pessoas numa moto, do lado do muro da base. Machado teria, então, dito à guarda: "A noite está sinistra". Logo depois, teriam sido ouvidos tiros do lado de fora, e o rapaz teria tentado pular o portão.
Ainda segundo Santos, nesse instante Machado colocou a mão na cintura e fez menção de sacar uma arma. Foi o que bastou para que os guardas Orlando Sérgio dos Santos e José Donizete de Freitas, 39, disparassem oito tiros. Pelo menos dois deles atingiram o ambulante. Os outros dois suspeitos na moto teriam fugido.
No 101º DP, os guardas entregaram uma garrucha calibre 38 e duas cápsulas íntegras. Ela teria sido encontrada com Machado.
A tia de Machado conta, porém, que ele havia saído de casa para comprar leite para filha de três anos e aproveitou para, no caminho, deixar na GCM um ofício pedindo apoio para a segurança de um campeonato de basquete, planejado para o dia 21, na quadra que fica próxima à base. Ele não estava armado e estava sozinho.
A GCM diz que Machado não levava consigo nenhum ofício.
A tia de Machado, uma das pessoas que identificaram o corpo do rapaz, acredita que a arma foi colocada de propósito no local. A Secretaria da Segurança informou que isso será investigado pelo inquérito e pela sindicância.


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