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VIOLÊNCIA
Autores dos disparos, guardas dizem que vítima estava armada e que tentou invadir o local, na zona sul de SP; família nega
Rapaz é morto em base da Guarda Civil
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois do início dos
ataques a delegacias e bases da
Polícia Militar e da GCM (Guarda
Civil Metropolitana) de São Paulo, o ambulante Leandro Machado, 23, foi morto a tiros dentro da
base da Guarda Civil da Capela do
Socorro, zona sul da capital.
Segundo os guardas que atiraram, Machado estava armado e
teria tentado invadir o local, pulando o portão. Segundo a família
do rapaz e colegas da sociedade de
amigos de bairro, ele não carregava arma, estava apenas tentando
conseguir o apoio da GCM para
um torneio esportivo e foi vítima
do estado de tensão que reina na
área de segurança pública desde
que os atentados começaram.
O inquérito policial que investigará o caso, registrado como resistência seguida de morte no 101º
DP (Distrito Policial), será acompanhado por uma sindicância da
Ouvidoria da GCM, segundo o secretário municipal da Segurança
Urbana, Benedito Mariano, a
quem a guarda está subordinada.
Embora não tenha questionado
formalmente a atitude dos guardas que atiraram contra Machado, Mariano não descartou que
ela tenha sido um abuso.
O secretário admitiu que não há
evidências físicas que corroborem
a tese de legítima defesa (como
buracos de bala nas paredes da
base ou guardas feridos), afirmou
que não é procedimento padrão
atirar quando alguém, mesmo armado, pula o muro da base e disse
que, se for encontrado algum indício de que a versão da GCM não
é a verdadeira, haverá punições.
Mariano teve ontem à tarde
uma reunião com comandantes
da guarda para pedir calma, cautela e atenção redobrada, principalmente no período noturno.
Uma tia de Machado, que não
quis se identificar, afirmou que a
família está chocada e só quer justiça. Para ela e para colegas do rapaz, ele foi uma vítima do medo
da polícia. Machado, que vendia
água de coco em semáforos, não
tinha antecedentes criminais.
Segundo o boletim de ocorrência, com o relato dos três guardas
de serviço anteontem à noite, o
rapaz chegou à base por volta das
22h30, para entregar um ofício.
Quando a guarda Andréa Alves
dos Santos, 29, foi dizer a ele que
voltasse em horário comercial,
notou que havia outras duas pessoas numa moto, do lado do muro da base. Machado teria, então,
dito à guarda: "A noite está sinistra". Logo depois, teriam sido ouvidos tiros do lado de fora, e o rapaz teria tentado pular o portão.
Ainda segundo Santos, nesse
instante Machado colocou a mão
na cintura e fez menção de sacar
uma arma. Foi o que bastou para
que os guardas Orlando Sérgio
dos Santos e José Donizete de
Freitas, 39, disparassem oito tiros.
Pelo menos dois deles atingiram o
ambulante. Os outros dois suspeitos na moto teriam fugido.
No 101º DP, os guardas entregaram uma garrucha calibre 38 e
duas cápsulas íntegras. Ela teria
sido encontrada com Machado.
A tia de Machado conta, porém,
que ele havia saído de casa para
comprar leite para filha de três
anos e aproveitou para, no caminho, deixar na GCM um ofício pedindo apoio para a segurança de
um campeonato de basquete, planejado para o dia 21, na quadra
que fica próxima à base. Ele não
estava armado e estava sozinho.
A GCM diz que Machado não
levava consigo nenhum ofício.
A tia de Machado, uma das pessoas que identificaram o corpo do
rapaz, acredita que a arma foi colocada de propósito no local. A
Secretaria da Segurança informou
que isso será investigado pelo inquérito e pela sindicância.
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