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AGENDA DA TRANSIÇÃO
Em outubro, despesas autorizadas foram de R$ 515,7 milhões, contra média mensal superior a R$ 1 bilhão
Na reta final, Marta corta gastos pela metade
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os números do Orçamento
apontam para o sério risco de a
máquina enferrujar nesse fim de
governo. Segundo dados do Sistema de Execução Orçamentário
(SEO), em outubro, a Prefeitura
de São Paulo reduziu em 52,6% o
volume de suas despesas, em
comparação com a média mensal
do ano. De janeiro a setembro, a
média de gastos autorizados (liquidados) foi de R$ 1,09 bilhão.
Em outubro, caiu para R$ 515,7
milhões.
A redução é ainda mais significativa em comparação com o mês
de setembro, quando o total de
despesas liquidadas chegou a R$
1,234 bilhão. Os dados -levantados pela Folha no sistema onde
são lançados os gastos do município- registram a tendência de a
prefeitura pôr um pé no freio para
cobrir o buraco acumulado ao
longo de todo o ano.
O mês passado foi, por exemplo, o único em que liberou mais
recursos do que os gastos autorizados. Na execução orçamentária, o pagamento só é realizado
depois que a despesa é formalmente reconhecida (liquidada).
Em outubro, a prefeitura pagou
R$ 687,6 milhões. Como o total liquidado foi de R$ 515,7 milhões,
os dados indicam que a diferença
de R$ 161 milhões foi destinada ao
pagamento de atrasados.
Não é para menos. Até ontem, a
prefeitura tinha autorizado R$
10,4 bilhões em despesas, mas desembolsado apenas R$ 9,9 bilhões. O buraco é, então, de R$
487 milhões. O cenário é ainda
mais nebuloso se levado em conta
o total de recursos oficialmente
comprometidos (empenhados):
R$ 11,88 bilhões.
Outro indicativo dessa contenção de despesas está no balanço
de empenhos dos primeiros dias
de novembro. O saldo é negativo
em R$ 3,8 milhões, mostrando
que o volume de cancelamentos
foi maior do que o de empenhos.
Autor do levantamento a pedido da Folha, o vereador Ricardo
Montoro (PSDB) vê "na tentativa
desesperada de não fechar no vermelho" a ameaça de paralisação
de "diversos serviços que estavam
previstos para 2004".
Segundo o levantamento, a limpeza urbana é o exemplo mais
emblemático desse breque. Como
a Folha antecipou ontem, a prefeitura reduziu à metade o serviço
de varrição em São Paulo. Os números endossam: em setembro,
os recursos liquidados para o programa de limpeza pública somaram R$ 51,7 milhões. No mês passado, foram R$ 3,3 milhões.
A lógica é a mesma. Embora tenha reconhecido o débito e autorizado o pagamento de apenas R$
3,3 milhões, a prefeitura liberou
R$ 60,4 milhões em outubro. Os
R$ 57 milhões restantes serviriam
para pagar atrasados, num déficit
que já supera R$ 90 milhões.
Até agora, a prefeitura admitiu
uma dívida de R$ 433,1 milhões
com as empreiteiras de lixo. Pagou R$ 341,1 milhões. Faltam R$
92 milhões. Se a prefeitura não
cancelar empenhos, a situação fica ainda pior. Foram, por enquanto, empenhados R$ 663,9
milhões para limpeza pública.
Como foram pagos R$ 341,1 milhões, a diferença é de mais de R$
322 milhões. Também no setor de
lixo, os primeiros dias de novembro trazem saldo negativo, com
um cancelamento de R$ 3,2 mil
em empenhos.
A prefeitura tem uma arrecadação média de R$ 1 bilhão mensal.
Cerca de R$ 100 milhões são consumidos pela dívida e outros R$
380 milhões, pela folha de pagamento, sendo que, no fim do ano,
há ainda o décimo-terceiro.
Apesar dos números, a prefeitura tem negado a existência de
atraso no pagamento a fornecedores e descarta a ameaça de paralisação de obras.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Finanças disse que
seus técnicos analisarão a diferença verificada em outubro. Uma
das suposições era de que o feriadão do fim de outubro tenha atrasado o reconhecimento de serviços prestados para autorização de
gastos. Mas a planilha de uma empreiteira de lixo, por exemplo,
mostra que a liquidação é realizada ao longo de todo o mês.
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