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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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POLÍCIA

Eles são acusados de ligação com quadrilha que cooptaria vendedores de órgãos no Brasil; operações eram feitas no país africano

3 são presos na África do Sul por traficar rins

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A polícia da África do Sul -país onde atuaria uma quadrilha internacional de tráfico de órgãos humanos com ramificações no Brasil- informou ontem que três pessoas foram presas nos últimos dois dias sob acusação de integrar o grupo. Dois são sul-africanos e o outro, israelense.
De acordo com o embaixador da África do Sul no Brasil, Mbulelo Rakwena, seis pessoas já foram detidas naquele país nos últimos meses sob suspeita de integrar a quadrilha. No Brasil, a Polícia Federal prendeu dois israelenses e nove brasileiros na última terça-feira, em Recife. O grupo é acusado de ter aliciado pelo menos 30 pessoas no período de um ano.
Em troca de quantias que variavam de US$ 6.000 a US$ 10 mil (de R$ 17,7 mil a R$ 29,5 mil), os cooptados, de acordo com a PF, eram levados para Durban, cidade ao leste da África do Sul, e submetidos à cirurgia de extração de um dos rins.
Presos anteontem em Durban após terem sido submetidos a transplantes de rim, o israelense Agania Robel, 42, e o sul-africano de origem israelense Meir Shushan, 49, foram soltos após pagarem fiança. Eles tiveram seus passaportes retidos e foram convocados a prestar depoimento na próxima quarta-feira. Ontem, a polícia local prendeu um homem de 58 anos, que não teve a identidade divulgada e deve depor hoje.
"Ainda estamos no início das investigações. Não há como precisar o número de pessoas que foram utilizadas pelo grupo nem o dinheiro que eles movimentaram", afirmou ontem à reportagem, por telefone, Mary Martins-Engelbrecht, porta-voz da polícia da África do Sul.
Tanto a porta-voz da polícia local quanto o embaixador do país no Brasil afirmaram que não existem negociações, por enquanto, sobre extradições. No Brasil, o caso está sob segredo de Justiça.

Capitão e advogado
Os 11 acusados que estão em Recife permanecem presos, divididos em três locais: a Superintendência da Polícia Federal, o centro de triagem da Secretaria Estadual da Justiça e o presídio feminino.
A reportagem apurou que, entre os detidos, cinco são considerados integrantes da cúpula da quadrilha em Pernambuco.
Além dos dois israelenses, que chefiariam a ramificação brasileira, fariam parte dessa "elite" um capitão da reserva da Polícia Militar pernambucana, a mulher dele e um advogado.
O capitão e a mulher atuariam como "gerentes" na quadrilha. O advogado também teria influência em todas as áreas.
Dos outros seis presos, quatro teriam vendido um de seus rins e passado a trabalhar para o grupo, intermediando os contatos de compra e venda. Os dois últimos seriam somente intermediários, que não chegaram a ser submetidos à cirurgia, mas faturariam comissões com base na cooptação, em comunidades carentes, de interessados em vender um rim.


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