São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2009

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Foco

Cego desde pequeno, pianista é aprovado em vestibular de
música no RS

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Mesmo sem ter como ver a partitura enquanto dedilha as teclas, o pianista André Vicente da Silva executa peças sofisticadas, como a Sonata nº 2 de Beethoven ou a Invenção nº 3 de Bach. Para isso, conta só com os ouvidos e uma memória prodigiosa.
Cego desde as primeiras horas após seu nascimento, vinte anos depois, André conseguiu passar na seleção do vestibular de música da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) -e se matriculou ontem.
Diferentemente dos pianistas que enxergam, André tem muito trabalho antes mesmo de começar a tocar. Como partituras para cegos são uma raridade no Brasil, um amigo músico dita as composições, nota por nota, para que ele as reescreva em braille. Só então ele passa horas a percorrer as partituras com os dedos e a exercitá-las ao piano, além de ouvir a música incontáveis vezes. Sem poder interromper a execução para tatear a partitura, o pianista memoriza as peças. "É o meu método: a música entra na cabeça e, com exercícios, não sai mais", disse ontem à Folha.
A paixão pela música começou ainda na infância; o caminho para a erudição, aos 11, quando aprendeu a tocar teclado. Aos 17, aprendeu a ler partituras para se habilitar para o vestibular.
Ironicamente, a política de cotas da universidade foi uma barreira; em 2007, ficou em 47º lugar, numa oferta de cinquenta vagas para o curso. Mas, como não se inscreveu como cotista do ensino público, ficou de fora.
Agora se inscreveu na cota e obteve a vaga. "Não tem jeito, eu nasci para a música, estar aqui prova que não vale a pena viver sem sonhar."
André não é o primeiro deficiente a chegar à faculdade de música da UFRGS. O pioneiro, Vilson Zattera, também cego, formou-se em instrumentos de cordas e sopros nos anos 80 e, hoje, toca jazz nos Estados Unidos.
A chefe do departamento, Flávia Alves, afirma que a chegada desses jovens é um desafio à faculdade, que já começou a desenvolver material didático em braille.


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