Instrumentos dos terreiros de candomblé serão tocados por 20 percussionistas de cultos religiosos

MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO

Com o enredo "Vira, Bahia, pura energia", a Viradouro vai inovar no Carnaval com atabaques na bateria. Os instrumentos dos terreiros de candomblé e umbanda serão tocados por 20 ogãs, percussionistas nos cultos religiosos.
Há 12 anos sem vencer, a Viradouro resolveu "pedir a benção dos orixás" com o toque dos instrumentos sagrados. A ideia foi do Mestre Ciça, 54, que chamou ogãs de comunidades de Niterói e São Gonçalo, próximas à escola. Eles são os escolhidos pelos orixás para tocar e cantar nos terreiros.
"Como eu gosto de inventar história, disse: "Quero pôr um som da Bahia". Aí os atabaques "tocaram" na minha cabeça. Espero que eles rufem na avenida", disse, animado, Ciça, há dez anos diretor de bateria.
A escola, que encerrará os desfiles do Grupo Especial, costuma inovar. Os percussionistas já entraram em ritmo do funk, ajoelharam na "paradinha", desfilaram em carro alegórico e jogaram bola.
O coreógrafo Carlinhos de Jesus, também ogã, aprovou a criatividade. "Essa mistura já existe na medida em que o samba está dentro do candomblé. Quando acaba uma sessão espírita, começa o samba. Mas o candomblé dentro do samba é a primeira vez." O instrumento já tinha sido usado pelo Salgueiro, em 1960, no enredo sobre Zumbi dos Palmares.
Em alguns momentos do desfile, os outros 300 ritmistas vão silenciar, para que os ogãs mostrem o som dos terreiros.
A batida tocada por eles é o igexá, a única que encaixou bem no refrão.
No ano passado, a Viradouro, que tinha a atriz Juliana Paes como madrinha de bateria, gerou polêmica com um carro alegórico que representava o Holocausto. Para apresentar uma leitura moderna dos orixás, a escola promete fazer neste ano um desfile "tradicional e luxuoso". O destaque ficará por conta da bateria.


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