São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

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Samba de SP migrou do centro para a periferia

Estudo mostra que escolas buscam locais onde exista espírito comunitário

Agremiações deixaram áreas com elevado poder aquisitivo e hoje apenas Tom Maior e Pérola Negra continuam nessas regiões

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de um verdadeiro espírito comunitário nas áreas nobres de São Paulo impediu que o mundo do samba criasse raízes sólidas nestas regiões.
De acordo com o geógrafo Alessandro Dozena, estudioso do carnaval, as "relações sociais mais verticalizadas ou individuais" nos bairros ricos da capital ajudam a explicar a baixa quantidade de escolas de samba em bairros ricos. Mesmo os tradicionais blocos sofrem com as perseguições dos vizinhos.
O doutorado do pesquisador mostra com clareza. No centro paulistano, como diz a letra de Nelson Sargento, o "samba agoniza, mas não morre". Por causa das tradicionais Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e Lavapés. Escolas que ainda existem nos locais que nasceram. Respectivamente, no Bexiga, na Barra Funda e no bairro do Glicério.
Se em meados do século passado quase todas as escolas estavam próximas ao centro, como mostra o estudo da USP, hoje só existem sete em funcionamento nesta área da capital.
Em regiões com alto poder aquisitivo, segundo os critérios socioeconômicos usados por Dozena em seu doutorado, restam apenas duas agremiações: Tom Maior (Pinheiros) e Pérola Negra (Vila Madalena).
Muitas outras já atravessaram o rio Tietê. As comunidades autênticas, no centro, foram sendo expulsas com a transformação da cidade.
O samba migrou junto. Principalmente devido à mudança das comunidades negras.
O chamado segundo período do samba em São Paulo, entre os anos 50 e 60, tem uma geografia peculiar, de acordo com o mapeamento do geógrafo que, no mundo do samba, "passou a conhecer muito mais a cidade".
As escolas, então, começaram a criar raízes na Casa Verde, na Freguesia do Ó, em Santana e na Vila Maria.
Ao mesmo tempo, surge na Vila Matilde, a Nenê -considerada por Dozena uma das precursoras do Carnaval paulista. Na Vila Esperança (Tatuapé) ocorrem desfiles carnavalescos, que inspirariam até o sambista Adoniran Barbosa, que fez uma letra usando como pano de fundo aquele Carnaval.
As áreas periféricas, até hoje, continuam o território do samba paulista. Desde 1981, mostra o estudo, foram fundadas 39 escolas de samba na capital. "Todas têm uma comunidade por trás. Até a Pérola Negra [em área rica]", diz o geógrafo.
As comunidades e os territórios, segundo Dozena, nos dias de hoje, também extravasam a simples questão geográfica da cidade. Se os moradores do Peruche tem um grande apreço pela escola daquela região, por exemplo, os corintianos e os palmeirenses de toda a cidade, costumam ter uma ligação com Gaviões da Fiel e com a Mancha Verde. Os são-paulinos e os santistas idem.
Após visitar todos os territórios do samba paulistano, diz o pesquisador, fica difícil concordar com os discursos simplificadores. "De que o samba autêntico encontra-se no Rio. E de que o Carnaval é uma festa que só ocorre no Anhembi".


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