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Samba de SP migrou do centro para a periferia
Estudo mostra que escolas buscam locais onde exista espírito comunitário
Agremiações deixaram áreas com elevado poder aquisitivo e hoje apenas Tom Maior e Pérola Negra continuam nessas regiões
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de um verdadeiro espírito comunitário nas áreas
nobres de São Paulo impediu
que o mundo do samba criasse
raízes sólidas nestas regiões.
De acordo com o geógrafo
Alessandro Dozena, estudioso
do carnaval, as "relações sociais
mais verticalizadas ou individuais" nos bairros ricos da capital ajudam a explicar a baixa
quantidade de escolas de samba em bairros ricos. Mesmo os
tradicionais blocos sofrem com
as perseguições dos vizinhos.
O doutorado do pesquisador
mostra com clareza. No centro
paulistano, como diz a letra de
Nelson Sargento, o "samba agoniza, mas não morre". Por causa das tradicionais Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e Lavapés.
Escolas que ainda existem nos
locais que nasceram. Respectivamente, no Bexiga, na Barra
Funda e no bairro do Glicério.
Se em meados do século passado quase todas as escolas estavam próximas ao centro, como mostra o estudo da USP,
hoje só existem sete em funcionamento nesta área da capital.
Em regiões com alto poder
aquisitivo, segundo os critérios
socioeconômicos usados por
Dozena em seu doutorado, restam apenas duas agremiações:
Tom Maior (Pinheiros) e Pérola Negra (Vila Madalena).
Muitas outras já atravessaram o rio Tietê. As comunidades autênticas, no centro, foram sendo expulsas com a
transformação da cidade.
O samba migrou junto. Principalmente devido à mudança
das comunidades negras.
O chamado segundo período
do samba em São Paulo, entre
os anos 50 e 60, tem uma geografia peculiar, de acordo com o
mapeamento do geógrafo que,
no mundo do samba, "passou a
conhecer muito mais a cidade".
As escolas, então, começaram a criar raízes na Casa Verde, na Freguesia do Ó, em Santana e na Vila Maria.
Ao mesmo tempo, surge na
Vila Matilde, a Nenê -considerada por Dozena uma das precursoras do Carnaval paulista.
Na Vila Esperança (Tatuapé)
ocorrem desfiles carnavalescos, que inspirariam até o sambista Adoniran Barbosa, que
fez uma letra usando como pano de fundo aquele Carnaval.
As áreas periféricas, até hoje,
continuam o território do samba paulista. Desde 1981, mostra
o estudo, foram fundadas 39
escolas de samba na capital.
"Todas têm uma comunidade
por trás. Até a Pérola Negra
[em área rica]", diz o geógrafo.
As comunidades e os territórios, segundo Dozena, nos dias
de hoje, também extravasam a
simples questão geográfica da
cidade. Se os moradores do Peruche tem um grande apreço
pela escola daquela região, por
exemplo, os corintianos e os
palmeirenses de toda a cidade,
costumam ter uma ligação com
Gaviões da Fiel e com a Mancha Verde. Os são-paulinos e os
santistas idem.
Após visitar todos os territórios do samba paulistano, diz o
pesquisador, fica difícil concordar com os discursos simplificadores. "De que o samba autêntico encontra-se no Rio. E
de que o Carnaval é uma festa
que só ocorre no Anhembi".
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