São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PERNAMBUCO

Bezerros, no interior do Estado, reproduz a tradição dos "papangus" há 70 anos

"Veneza do Agreste" faz Carnaval de rua com 5.000 mascarados

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Foliã mascarada e vestida com túnica tradicional dança frevo em rua da cidade de Bezerros


FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Bezerros (PE)

Apesar de Recife ser conhecida como a "Veneza brasileira", em razão dos rios que cortam a cidade, é no interior de Pernambuco que acontece o maior Carnaval de máscaras do Estado, à semelhança do que ocorre na Itália.
Em Bezerros, considerada a "Veneza do Agreste", jovens, idosos e crianças vestem máscaras e fantasias, comem angu com carne e desfilam pelas ruas do centro da cidade, em todos os domingos de Carnaval.
A tradição surgiu há cerca de 70 anos. Grupos de pessoas se aproveitavam das máscaras que usavam para comer angu mais de uma vez nas casas que serviam o alimento aos parentes e amigos.
Esses foliões passaram a ser conhecidos como "papangus". Ontem foi mais um dia de os grupos marcarem sua tradição na cidade.
A festa, animada por orquestras de frevo, começou com um desfile de blocos que reuniu cerca de 5.000 pessoas, segundo estimativa dos organizadores.
Ao contrário do que acontece em outros Estados, a exposição da pele não faz parte do ritual dos papangus. Os foliões cobrem os corpos com túnicas coloridas. Quem não tem máscara, usa capuz. Luvas brancas cobrem as mãos.
Quanto mais os foliões conseguem manter os corpos escondidos, mais próximos estão do ideal do Carnaval da cidade -mesmo que isso signifique um sacrifício a mais, em razão do calor do agreste pernambucano.
A festa começa no início da manhã e só termina no final da tarde, quando os rostos podem ser descobertos.
Faz parte da festa tentar descobrir quem está por trás das máscaras.
Até o prefeito da cidade, Lucas Cardoso (PFL), participa da folia. Ele oferece um fim-de-semana em Gravatá para quem conseguir encontrá-lo no meio da multidão mascarada.
Desde que instituiu o prêmio, há dois anos, ninguém o encontrou. Neste ano, Cardoso desfilou fantasiado de noivo.
Na folia da cidade, que tem 127 anos e 52 mil habitantes, até os cachorros usam máscaras. Bonecos gigantes, produzidos para a folia, também.
Na falta de carros alegóricos, alguns são improvisados sobre carrocerias de caminhões.

Estiagem
Bezerros, como a maioria das cidades de Pernambuco, enfrenta um período de estiagem e racionamento de água.
A população só é abastecida uma vez por mês. Grande parte dos moradores depende dos carros-pipa.
O município arrecada R$ 400 mil por mês, dinheiro suficiente apenas para pagar os servidores e movimentar a máquina pública. "Hoje, não temos como investir em nada", disse o prefeito.
De acordo com Cardoso, 10% das famílias de Bezerros se envolvem na confecção de máscaras e túnicas durante o Carnaval. "A festa virou um importante fator social na região", afirmou.


Texto Anterior: Porto Seguro inaugura o Carnarock
Próximo Texto: Carnaporto importa mulata "Globeleza"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.