São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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SAÚDE

Elaborado em conjunto com três entidades médicas, projeto prevê distribuição de remédios e treinamento de equipes

Governo "guarda" plano contra asma há 1 ano

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um plano nacional de controle da asma elaborado há quase um ano por três sociedades médicas brasileiras, em conjunto com o Ministério da Saúde, ainda não saiu do papel. A doença, uma inflamação crônica das vias aéreas, chega a afetar 20% dos brasileiros, representa a segunda maior causa de internação hospitalar e mata ao menos seis pessoas por dia.
Em 2004, o SUS registrou 367.036 internações por causa da asma, ao custo de R$ 124 milhões.
O plano prevê a distribuição de remédios inalatórios (broncodilatadores e cortisona) a doentes leves, moderados e graves, além de treinamento de equipes de saúde para diagnóstico, tratamento e controle do mal.
Somente os doentes graves -que somam 10% do total- têm acesso aos medicamentos inalatórios, dentro do programa de remédios de alto custo. Para obtê-los, o paciente e a equipe que o assiste precisam preencher pelo menos seis formulários, com dados clínicos sobre a doença.
Os asmáticos leves e moderados sem condições financeiras de bancar o tratamento (cerca de R$ 50 por mês) não estão sendo medicados ou recebem o remédio de forma descontínua -amostras grátis dadas por médicos, por exemplo. Esses doentes têm até 50% de chance de a doença se agravar, segundo especialistas.
A não-capacitação das equipes de saúde provoca desperdício de remédios. Três especialistas relataram à Folha que tiveram notícias de que lotes inteiros de medicamentos foram descartados porque venceram antes de ser distribuídos aos pacientes. Razão: médicos e enfermeiros simplesmente não sabiam como ensinar os doentes a usá-los.
A "bombinha" usada pelos asmáticos tem um mecanismo que exige treino para que o medicamento contido nela chegue até o pulmão. Mas, por falta de informação, é comum os doentes cometerem erros na utilização.
"Para mim, é inadmissível o doente ter uma asma maltratada e morrer porque não foi bem orientado ou porque não teve acesso aos remédios", diz o pneumologista do Hospital das Clínicas de São Paulo Rafael Stelmach, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia.
De acordo com ele, o problema não se resume à rede pública de saúde. "Tem muito médico de convênio que receita o remédio e não explica como usá-lo. O doente chega à farmácia, pede o remédio e o farmacêutico também não sabe ensiná-lo", conta.

Qualificação
Na opinião do médico Roberto Stirbulov, chefe do serviço de pneumologia da Santa Casa de São Paulo, mais do que distribuir remédios, o ministério precisa, com urgência, qualificar as equipes de saúde para diagnosticar e tratar corretamente a doença. Só assim, avalia, é que os pacientes vão aderir ao tratamento, evitando as crises persistentes que podem levar a internações e mortes.
Stirbulov diz que só para explicar ao paciente os efeitos do remédio e a utilização da bombinha ele usa 20 minutos da consulta. "Hoje, o governo gasta mais com asma do que com diabetes ou hipertensão. E, muitas vezes, os efeitos desse investimento não aparecem porque ainda não há um plano homogêneo para o controle da doença. Dar o remédio deve ser apenas uma conseqüência." Para ele, o ideal é municipalizar os serviços, deixando que cada cidade treine suas equipes conforme a realidade local.


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