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SAÚDE
Elaborado em conjunto com três entidades médicas, projeto prevê distribuição de remédios e treinamento de equipes
Governo "guarda" plano contra asma há 1 ano
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um plano nacional de controle
da asma elaborado há quase um
ano por três sociedades médicas
brasileiras, em conjunto com o
Ministério da Saúde, ainda não
saiu do papel. A doença, uma inflamação crônica das vias aéreas,
chega a afetar 20% dos brasileiros,
representa a segunda maior causa
de internação hospitalar e mata
ao menos seis pessoas por dia.
Em 2004, o SUS registrou
367.036 internações por causa da
asma, ao custo de R$ 124 milhões.
O plano prevê a distribuição de
remédios inalatórios (broncodilatadores e cortisona) a doentes leves, moderados e graves, além de
treinamento de equipes de saúde
para diagnóstico, tratamento e
controle do mal.
Somente os doentes graves
-que somam 10% do total-
têm acesso aos medicamentos
inalatórios, dentro do programa
de remédios de alto custo. Para
obtê-los, o paciente e a equipe que
o assiste precisam preencher pelo
menos seis formulários, com dados clínicos sobre a doença.
Os asmáticos leves e moderados
sem condições financeiras de
bancar o tratamento (cerca de R$
50 por mês) não estão sendo medicados ou recebem o remédio de
forma descontínua -amostras
grátis dadas por médicos, por
exemplo. Esses doentes têm até
50% de chance de a doença se
agravar, segundo especialistas.
A não-capacitação das equipes
de saúde provoca desperdício de
remédios. Três especialistas relataram à Folha que tiveram notícias de que lotes inteiros de medicamentos foram descartados porque venceram antes de ser distribuídos aos pacientes. Razão: médicos e enfermeiros simplesmente não sabiam como ensinar os
doentes a usá-los.
A "bombinha" usada pelos asmáticos tem um mecanismo que
exige treino para que o medicamento contido nela chegue até o
pulmão. Mas, por falta de informação, é comum os doentes cometerem erros na utilização.
"Para mim, é inadmissível o
doente ter uma asma maltratada e
morrer porque não foi bem orientado ou porque não teve acesso
aos remédios", diz o pneumologista do Hospital das Clínicas de
São Paulo Rafael Stelmach, presidente da Sociedade Paulista de
Pneumologia e Tisiologia.
De acordo com ele, o problema
não se resume à rede pública de
saúde. "Tem muito médico de
convênio que receita o remédio e
não explica como usá-lo. O doente chega à farmácia, pede o remédio e o farmacêutico também não
sabe ensiná-lo", conta.
Qualificação
Na opinião do médico Roberto
Stirbulov, chefe do serviço de
pneumologia da Santa Casa de
São Paulo, mais do que distribuir
remédios, o ministério precisa,
com urgência, qualificar as equipes de saúde para diagnosticar e
tratar corretamente a doença. Só
assim, avalia, é que os pacientes
vão aderir ao tratamento, evitando as crises persistentes que podem levar a internações e mortes.
Stirbulov diz que só para explicar ao paciente os efeitos do remédio e a utilização da bombinha ele
usa 20 minutos da consulta. "Hoje, o governo gasta mais com asma do que com diabetes ou hipertensão. E, muitas vezes, os efeitos
desse investimento não aparecem
porque ainda não há um plano
homogêneo para o controle da
doença. Dar o remédio deve ser
apenas uma conseqüência." Para
ele, o ideal é municipalizar os serviços, deixando que cada cidade
treine suas equipes conforme a
realidade local.
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