São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

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BATICUM

XICO SÁ

Barraco de casais põe fogo no Carnaval

O BARRACO entre os casais ainda é o maior clássico carnavalesco. Nas primeiras 24 horas de folia, entre Recife e Olinda, testemunhei pelo menos uma D.R. (a mitológica discussão de relação) a cada dez minutos, sem incluir outras centenas de pombinhos que se separaram de véspera.
O que não falta é gente incendiando os lares antes de começar a festa. Pela simples vontade de brincar sozinho -belo crime premeditado. Depois volta tudo, traição momesca não vale. Rasgou a fantasia, o amor ressurge nas cinzas da quarta.
Outros pombinhos, conhecedores dos altos índices de explosivos que carregam nas suas mochilas morais, decidem pelo retiro, a praia, o campo, a reflexão na montanha. "Conheço o potencial erótico da minha mulher", diz o amigo recifense Antonio S., lembrando o título do livro do francês David Foenkinos.
Em qualquer lugar, o Carnaval é pecaminoso. Porque não é preciso ouvir o baticum para ser picado pela serpente bíblica que fez de todos nós degredados filhos de Eva.
São Paulo, por exemplo, aparentemente uma cidade fria para a festa da carne, se revela um perigo. Deve ser a ausência de filas que remete ao sexo. Conheço casais que andavam esquecidos da conjunção carnal e despertaram, milagrosamente, com uma libido momesca de fazer inveja a qualquer Romeu & Julieta.
Nesse sentido, é a capital do antibarraco amoroso. Reaproxima as mãos que já não se tocavam dentro do saco de pipocas das últimas sessões do Belas Artes.
Nas outras praças, para cada romance instantâneo dos "ficantes", um casamento é destruído. Nem que seja parcialmente ou até a Quarta-Feira de Cinzas. No cocoricó dionisíaco do Galo da Madrugada, aqui de onde escrevo, o potencial é infinito. Tudo que é sólido se desmancha na saliva de beijos roubados.
O cara vestido de Zé Bonitinho que o diga. Levava todas, embora estivesse com a musa a tiracolo. Com os Zés Bonitinhos e seus dublês não tem essa de barraco, eles reinam acima do canalha.
Para quem não tem toda essa classe, melhor seguir o mantra do momento: "Vou não, quero não/ minha mulher não deixa não".


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