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BATICUM
XICO SÁ
Barraco de casais põe fogo no Carnaval
O BARRACO entre os casais
ainda é o maior clássico carnavalesco. Nas primeiras 24
horas de folia, entre Recife e
Olinda, testemunhei pelo menos uma D.R. (a mitológica
discussão de relação) a cada
dez minutos, sem incluir outras centenas de pombinhos
que se separaram de véspera.
O que não falta é gente incendiando os lares antes de
começar a festa. Pela simples
vontade de brincar sozinho
-belo crime premeditado.
Depois volta tudo, traição
momesca não vale. Rasgou a
fantasia, o amor ressurge nas
cinzas da quarta.
Outros pombinhos, conhecedores dos altos índices de
explosivos que carregam nas
suas mochilas morais, decidem pelo retiro, a praia, o
campo, a reflexão na montanha. "Conheço o potencial
erótico da minha mulher", diz
o amigo recifense Antonio S.,
lembrando o título do livro do
francês David Foenkinos.
Em qualquer lugar, o Carnaval é pecaminoso. Porque
não é preciso ouvir o baticum
para ser picado pela serpente
bíblica que fez de todos nós
degredados filhos de Eva.
São Paulo, por exemplo,
aparentemente uma cidade
fria para a festa da carne, se
revela um perigo. Deve ser a
ausência de filas que remete
ao sexo. Conheço casais que
andavam esquecidos da conjunção carnal e despertaram,
milagrosamente, com uma libido momesca de fazer inveja
a qualquer Romeu & Julieta.
Nesse sentido, é a capital
do antibarraco amoroso.
Reaproxima as mãos que já
não se tocavam dentro do saco de pipocas das últimas
sessões do Belas Artes.
Nas outras praças, para
cada romance instantâneo
dos "ficantes", um casamento é destruído. Nem que seja
parcialmente ou até a Quarta-Feira de Cinzas. No cocoricó dionisíaco do Galo da Madrugada, aqui de onde escrevo, o potencial é infinito. Tudo
que é sólido se desmancha na
saliva de beijos roubados.
O cara vestido de Zé Bonitinho que o diga. Levava todas,
embora estivesse com a musa
a tiracolo. Com os Zés Bonitinhos e seus dublês não tem
essa de barraco, eles reinam
acima do canalha.
Para quem não tem toda
essa classe, melhor seguir o
mantra do momento: "Vou
não, quero não/ minha mulher não deixa não".
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