São Paulo, sexta, 6 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudo vê situação de trabalhadora

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Boa parte das mulheres que trabalham nos hospitais e postos de saúde da rede pública estadual está desatualizada e tem posições conservadoras com relação à própria saúde. A maioria se queixa das condições de trabalho e uma em cada quatro afirma ter problemas de saúde decorrentes da própria função que exercem.
Os dados aparecem em pesquisa realizada com 1.200 mulheres entre as cerca de 64 mil que trabalham na rede pública de saúde do Estado de São Paulo. A maioria das entrevistadas era de auxiliares de enfermagem. O levantamento foi feito pelo sindicato da categoria -o Sindsaúde- e os dados serão debatidos a partir de hoje como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher, que acontece domingo.
A maioria das entrevistadas relata uma situação de dificuldades financeiras e sobrecarga de trabalho. Cerca de 50% ganha até R$ 480,00 por mês, quase 80% têm filhos e um quarto delas arca sozinha com as contas e o trabalho da casa. "Baixos salários e sobrecarga de trabalho não favorecem a atividade de quem lida com pessoas doentes, tristes e com dores'", diz Denise Motta Dau, uma das diretoras do Sindsaúde.
Nas entrevistas, muitas relatam a tensão provocada pela precariedade dos serviços. "São elas que ouvem as queixas de familiares e doentes reclamando da falta de médicos, leitos e medicamentos", diz Denise. Algumas afirmaram que são ameaçadas e há mesmo relatos de agressão física.
Por outro lado, a pesquisa revela posições conservadoras que chegam a surpreender num grupo que forma opinião e define comportamentos em saúde. Por exemplo, apenas 28% das entrevistadas disseram ser favoráveis à legalização do aborto. Uma delas escreveu, "na hora de fazer o filho foi bom, agora que assuma".
Quase 30% das entrevistadas disse ter optado pela esterilização como método contraceptivo, porcentagem próxima à da média da população. Um terço delas afirmou não se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis e Aids. Nos relatos escritos, algumas justificaram a atitude dizendo ser "mulher de um homem só", já ter feito laqueadura ou acreditar na fidelidade do marido.
"Trabalhando na área de saúde, elas deveriam saber que o aumento de contaminações vem ocorrendo entre mulheres casadas e que acreditam nos seus maridos", diz Denise.
Para o Sindsaúde, a informação e atualização das trabalhadoras em saúde deveria ser uma preocupação do Estado. Apenas 52% delas afirmaram ter feito algum curso de qualificação profissional e só em 15% dos casos a iniciativa foi da Secretaria Estadual da Saúde.
Entre as reivindicações que as mulheres fizeram ao sindicato, a mais comum foi a necessidade de cursos de atualização e realização profissional. "Estamos paradas no tempo", escreveu uma delas.
Outras queixas foram a falta de creches para os filhos e a redução da jornada de para 30 horas.
A pesquisa do Sindsaúde ainda carece de detalhamentos. As respostas não foram ainda separadas por grupos profissionais e escolaridade. Entre as entrevistadas há desde auxiliares gerais sem o primeiro grau completo até trabalhadoras com nível universitário, que representam 22% da amostra.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.