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Estudo vê
situação de
trabalhadora
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Boa parte das mulheres que trabalham nos hospitais e postos de
saúde da rede pública estadual está
desatualizada e tem posições conservadoras com relação à própria
saúde. A maioria se queixa das
condições de trabalho e uma em
cada quatro afirma ter problemas
de saúde decorrentes da própria
função que exercem.
Os dados aparecem em pesquisa
realizada com 1.200 mulheres entre as cerca de 64 mil que trabalham na rede pública de saúde do
Estado de São Paulo. A maioria
das entrevistadas era de auxiliares
de enfermagem. O levantamento
foi feito pelo sindicato da categoria -o Sindsaúde- e os dados serão debatidos a partir de hoje como parte das comemorações do
Dia Internacional da Mulher, que
acontece domingo.
A maioria das entrevistadas relata uma situação de dificuldades financeiras e sobrecarga de trabalho. Cerca de 50% ganha até R$
480,00 por mês, quase 80% têm filhos e um quarto delas arca sozinha com as contas e o trabalho da
casa. "Baixos salários e sobrecarga
de trabalho não favorecem a atividade de quem lida com pessoas
doentes, tristes e com dores'", diz
Denise Motta Dau, uma das diretoras do Sindsaúde.
Nas entrevistas, muitas relatam
a tensão provocada pela precariedade dos serviços. "São elas que
ouvem as queixas de familiares e
doentes reclamando da falta de
médicos, leitos e medicamentos",
diz Denise. Algumas afirmaram
que são ameaçadas e há mesmo relatos de agressão física.
Por outro lado, a pesquisa revela
posições conservadoras que chegam a surpreender num grupo
que forma opinião e define comportamentos em saúde. Por exemplo, apenas 28% das entrevistadas
disseram ser favoráveis à legalização do aborto. Uma delas escreveu, "na hora de fazer o filho foi
bom, agora que assuma".
Quase 30% das entrevistadas
disse ter optado pela esterilização
como método contraceptivo, porcentagem próxima à da média da
população. Um terço delas afirmou não se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis e
Aids. Nos relatos escritos, algumas justificaram a atitude dizendo
ser "mulher de um homem só", já
ter feito laqueadura ou acreditar
na fidelidade do marido.
"Trabalhando na área de saúde,
elas deveriam saber que o aumento de contaminações vem ocorrendo entre mulheres casadas e
que acreditam nos seus maridos",
diz Denise.
Para o Sindsaúde, a informação
e atualização das trabalhadoras
em saúde deveria ser uma preocupação do Estado. Apenas 52% delas afirmaram ter feito algum curso de qualificação profissional e só
em 15% dos casos a iniciativa foi
da Secretaria Estadual da Saúde.
Entre as reivindicações que as
mulheres fizeram ao sindicato, a
mais comum foi a necessidade de
cursos de atualização e realização
profissional. "Estamos paradas no
tempo", escreveu uma delas.
Outras queixas foram a falta de
creches para os filhos e a redução
da jornada de para 30 horas.
A pesquisa do Sindsaúde ainda
carece de detalhamentos. As respostas não foram ainda separadas
por grupos profissionais e escolaridade. Entre as entrevistadas há
desde auxiliares gerais sem o primeiro grau completo até trabalhadoras com nível universitário, que
representam 22% da amostra.
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