São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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VIOLÊNCIA

Caso aconteceu na Tijuca, zona norte do Rio; motivo seria o fato de não ter parado para passageiros

Motorista de ônibus é sequestrado

Zulmair Rocha/Folha Imagem
Policial no morro do Borel, para onde teria sido levado o motorista de ônibus espancado e sequestrado na Tijuca (zona norte)



RAPHAEL GOMIDE
free-lance para a Folha

Os criminosos do Rio deram mais uma demonstração de ousadia e violência na cidade. O motorista de ônibus Marcelo Barbosa Nascimento, 28, foi espancado e sequestrado de dentro do veículo por três homens na Tijuca (bairro de classe média na zona norte do Rio) por não ter parado num ponto anteontem.
Segundo testemunhas, Nascimento foi levado para o morro do Borel, no mesmo bairro. Até as 18h de ontem, Nascimento não havia sido encontrado e a polícia considera remotas as chances de encontrá-lo com vida. Cerca de 50 homens passaram o dia realizando operações de busca no morro e receberam informações de que o motorista teria sido "executado".
Uma das maiores favelas da Tijuca, o morro do Borel é conhecido pela violência. Na década de 90, a guerra do tráfico entre o Borel e morros vizinhos obrigou a polícia a fechar ruas próximas diversas vezes. Com isso, o bairro de classe média sofreu uma desvalorização de seus imóveis.
Nascimento trabalhava havia 11 meses na Auto Viação Tijuca S.A., na linha 234 (Barra da Tijuca-Rodoviária). De acordo com depoimentos prestados na 19ª DP (Tijuca), dois homens fizeram sinal no ponto de ônibus em frente ao morro do Borel às 13h15 e o motorista não teria parado.
Armados e com a ajuda de um cúmplice, os dois homens esperaram, no ponto do outro lado da rua, o ônibus ir até a Barra e voltar, o que aconteceu por volta das 15h. Quando Nascimento parou para o desembarque de passageiros, eles invadiram o ônibus e dispararam um tiro, que não atingiu o motorista. Em seguida, Nascimento foi retirado à força do veículo e levado para o morro.
"Esses caras se julgam os donos do mundo, acima da lei e da ordem", disse o delegado Aluísio Russo, da 19ª DP, acrescentando que toda a sua equipe está empenhada em apurar o crime.
O guarda municipal Dalmir Lima do Nascimento viu o crime e avisou uma patrulha da Polícia Militar que passava no local. A polícia iniciou, então, buscas no morro, mas até o fim da tarde de ontem não havia identificado os criminosos.
Ontem, uma nova versão do fato estava sendo investigada pela Polícia Civil. Segundo ela, Nascimento teria parado no ponto e se recusado a permitir que os dois homens entrassem pela porta da frente sem pagar. Teria havido uma discussão entre eles. Um dos homens teria um ferimento na perna e a polícia suspeita que ele seria o líder do tráfico no morro, conhecido como Galego, recentemente baleado na perna.
A Polícia Militar ocupou o Borel anteontem e mantinha cerca de 40 homens no local até a tarde de ontem. A Polícia Civil enviou 12 agentes.
Na noite de anteontem, houve troca de tiros entre PMs e supostos criminosos no alto do morro. Os homens estavam em um Escort vinho, placa LAA-0149, que havia sido roubado na Tijuca no mesmo dia. Um rastro de sangue de cerca de 50 metros foi visto pela Folha numa escadaria
Duas pessoas foram levadas para o Hospital do Andaraí (zona norte do Rio) com ferimentos a bala. Um deles morreu com tiros nas pernas e o outro, atingido na mão, foi liberado. A polícia não soube informar se os dois eram criminosos.
A "lei do silêncio", comum nos morros cariocas, também impera no morro do Borel. Os moradores evitam comentar os casos de violência no local. "A gente conhece Paulo, Ezequiel, Isaías. Sobre esses a gente pode falar", disse um morador, referindo-se a personagens bíblicos.












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