São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2005

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URBANIDADE

Escola para empresários

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Paulo Cunha é um dos empresários mais bem-sucedidos do Brasil. Filho de um militar e de uma professora primária, cursou escola pública, formou-se engenheiro e, atualmente, é proprietário de empresas cujo faturamento anual chega a R$ 4,8 bilhões. É obrigado a decidir sobre assuntos que envolvem de comércio exterior a projetos de infra-estrutura e inovações tecnológicas petroquímicas. Apesar do sucesso na gerência de grandes negócios, sente-se inseguro ao receber lições de uma pequena escola pública em Sapopemba, na zona leste de São Paulo. "Não sei as respostas."
Presidente do Grupo Ultra, Paulo Cunha integra uma equipe de 20 empresários que se propuseram a dar idéias para melhorar a gestão do ensino municipal em São Paulo. Cada empresário ficou responsável pelo diagnóstico de uma escola. Há um mês, Paulo Cunha analisa o funcionamento de uma unidade em Sapopemba.
Com seu olhar de executivo, ele encara a escola como uma linha de produção e procura entender cada etapa do processo de aprendizado. Vai, aos poucos, vendo como as falhas, com o tempo, se agigantam. "O produto final é um desastre." Desastre significa que os alunos desistem de aprender.
Reconhece que a diretora e as professoras são esforçadas e até preparadas, mas, segundo ele, vítimas de um esquema ineficiente. De acordo com as suas contas, descontando os recreios, cada aluno da rede municipal, onde existem três turnos, fica no máximo duas horas e meia em sala de aula. Além disso, são poucos os pais que se envolvem no aprendizado dos filhos. A maioria deles não ajuda na lição de casa nem, muitos menos, freqüenta a escola. Os alunos, despreparados, mudam de série, muitas vezes sem merecer e sem reforços para que recuperem o que deveriam saber. O empresário diz que não há premiação nem para o aluno empenhado nem para a professora dedicada. "Isso não foi feito para dar certo."
Para o Grupo Ultra, não seria tão difícil ajudar especificamente aqueles estudantes de Sapopemba. "A questão não é encontrar uma solução isolada, mas ajudar a gestão de toda a rede."
Paulo Cunha admite que seu conhecimento de educação pública está defasado. Afinal, ele é de um tempo que hoje parece exótico: o tempo em que um menino podia estudar numa escola pública e virar um dos maiores empresários do país.

@ - gdimen@uol.com.br


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