São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2005

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MASSACRE NA BAIXADA

Pedreiro foi morto a tiros na rua paralela à delegacia que centraliza apuração sobre chacina de 30

Homem é assassinado ao lado do QG policial

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O primeiro estampido quase passou despercebido. Mas foi seguido de mais um, dois e três. "Tiros?", jornalistas e policiais se perguntam, diante da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, onde estavam aglomerados à espera de informações da cúpula da polícia do Rio e da Polícia Federal sobre o massacre de 30 na quinta passada. "Acabaram de matar um cara", diz um repórter.
De bermuda jeans, camiseta estampada e sandálias, o pedreiro José Martins Rodrigues, 52, ainda agonizava no chão, com quatro tiros na cabeça. Zezinho Pedreiro, como era conhecido, morreu dez minutos depois, às 17h15, na esquina das ruas Iolanda Ferreira dos Santos e João N. da Rocha.
Não se sabe a razão da morte de Rodrigues, mas policiais admitem que pode ser mais uma afronta à cúpula da polícia, que acusa PMs de matarem 30 pessoas na noite de quinta passada em Queimados e Nova Iguaçu, na Baixa Fluminense (Grande Rio).
Uma hora após o assassinato na rua paralela à da delegacia, a polícia anunciou que a Justiça decretou a prisão temporária de seis PMs suspeitos de atuar no massacre. Quatro já tinham tido a prisão preventiva concedida na apuração paralela da Polícia Federal.
A morte de Zezinho Pedreiro foi definida como "episódica". Antes de deixar a delegacia e de o crime ser cometido, o chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, disse ter certeza de que quatro PMs executaram a chacina. Segundo ele, um seria o soldado Carlos Jorge de Carvalho. Preso anteontem, o policial foi reconhecido por testemunha como o autor dos disparos que mataram pessoas em Queimados.
Carvalho e os soldados José Augusto Moreira Felipe, Ivonei de Souza, Fabiano Gonçalves Lopes, Júlio Cesar Amaral e Maurício Montezano tiveram ontem a prisão temporária (30 dias) decretada pela Justiça. Outros três PMs estão em prisão administrativa de 72 horas, cujo prazo vence hoje. A medida pode ser renovada.
Não havia indício de que a morte do pedreiro tivesse ligação com as apurações. José Martins Rodrigues foi preso três vezes, por receptação de furto, falta de porte de arma, agressão e roubo. Deixou a prisão em 25 de dezembro. Sua mãe, Mercedes Martins, 75, esteve na delegacia e protestou contra a morte. "O que ele devia já pagou."
Testemunhas disseram que os tiros partiram de um carro vermelho. Ninguém registrou modelo ou placa. Carros da polícia saíram em busca do assassino, sem direção definida e sem suspeitos.
O soldado Carlos de Carvalho é ainda o principal suspeito de seqüestrar Mara Valéria Bittencourt Moreira, 40, e seu filho Enil Fagundes Neto há quatro meses. Ela é mulher do ex-vereador José Rechuem, de Mesquita. A suspeita é que os dois estejam mortos.
Na noite de anteontem, a polícia apreendeu na casa de Carvalho jóias e uma balança de precisão que pertenceriam a Mara. Os irmãos da vítima teriam reconhecido os objetos. Haverá perícia.
Carvalho e outros PMs presos, diz Álvaro Lins, respondem a inquéritos por participação em grupo de extermínio, roubo e seqüestro na Baixada. Lins justificou a permanência deles na polícia dizendo que a apuração não provou nada de concreto contra eles.
O chefe da Polícia Civil afirmou que os assassinos, em Nova Iguaçu, não usaram máscaras. Em Queimados, esconderam o rosto, exceto Carvalho. Ele teria retornado ao local do crime, cerca de 40 minutos depois, e discutido com policiais que registravam o crime.


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