São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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SAÚDE
Remédio pode se livrar do relógio

JAIRO BOUER
especial para a Folha

A tradicional receita do seu médico ``tome um comprimido de seis em seis horas'' pode estar com os dias contados.
Uma verdadeira ``revolução'' promete aposentar o relógio no momento de acertar o horário das medicações.
Se a nova teoria emplacar, em muitas situações, o doente vai tomar remédios apenas nas horas em que seu corpo está precisando dos efeitos da droga.
Como resultado, menores doses, maior eficácia e menos reações colaterais.
Essa grande mudança está sendo alavancada pela cronobiologia -uma área da ciência que estuda os ritmos biológicos do seres vivos e as suas implicações práticas.
Segundo Luiz Menna-Barreto, coordenador do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP, os cientistas tentam agora desvendar os múltiplos ritmos naturais do homem para, no futuro, saber qual é o melhor momento para fazer exames e usar os remédios.
Para Menna-Barreto, a cronobiologia tenta derrubar o conceito (aceito há mais de um século) de que o corpo vive em estado de equilíbrio e que, portanto, as drogas dadas ao doente devem procurar manter esse estado.
Michael H. Smolensky, um dos maiores pesquisadores do mundo em cronobiologia e professor na Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas-Houston, disse que a cronobiologia, uma velha conhecida dos pesquisadores, têm ganho mais fôlego nos últimos anos e está tentando conquistar mais adeptos entre os médicos que prescrevem tratamentos para seus pacientes.
Smolensky estará em São Paulo em maio para participar de um simpósio sobre as aplicações da cronobiologia na área das doenças cardíacas.

Ritmo das doenças
O corpo humano obedece a uma série de ritmos biológicos controlados pelos seus múltiplos ``relógios internos''.
Assim, variações de sono, humor, desempenho, temperatura, pressão etc. obedecem a padrões definidos.
Da mesma maneira que o corpo saudável obedece a variações circadianas (que acontecem ao longo do dia), as doenças também estão sujeitas a essa influência. Segundo Smolensky, a maioria delas vai piorar ou melhorar em horários previsíveis ao longo do dia.
As úlceras e a asma, por exemplo, são condições que pioram para muitos doentes durante à noite. Pessoas que enfrentam esses problemas podem se beneficiar se tomarem os remédios no começo da noite, diminuindo a necessidade de remédio no resto do dia.
A artrite reumatóide (que provoca dores nas articulações) é outra condição que tende a ter sintomas mais intensos na parte da manhã. Segundo a cronobiologia, a medicação seria mais efetiva se fosse concentrada nesse período.
Outro exemplo são as convulsões nos epilépticos, que tendem a acontecer momentos antes ou depois deles deitarem ou acordarem.
Remédios para reduzir os níveis de colesterol (gordura) no sangue poderiam ser ação mais eficaz se usados à noite, já que a maior parte do colesterol é produzida pelo fígado enquanto a pessoa dorme.

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