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SAÚDE
Remédio
pode se livrar
do relógio
JAIRO BOUER
especial para a Folha
A tradicional receita do seu médico ``tome um comprimido de
seis em seis horas'' pode estar com
os dias contados.
Uma verdadeira ``revolução''
promete aposentar o relógio no
momento de acertar o horário das
medicações.
Se a nova teoria emplacar, em
muitas situações, o doente vai tomar remédios apenas nas horas
em que seu corpo está precisando
dos efeitos da droga.
Como resultado, menores doses,
maior eficácia e menos reações colaterais.
Essa grande mudança está sendo
alavancada pela cronobiologia
-uma área da ciência que estuda
os ritmos biológicos do seres vivos
e as suas implicações práticas.
Segundo Luiz Menna-Barreto,
coordenador do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e
Ritmos Biológicos da USP, os
cientistas tentam agora desvendar
os múltiplos ritmos naturais do
homem para, no futuro, saber
qual é o melhor momento para fazer exames e usar os remédios.
Para Menna-Barreto, a cronobiologia tenta derrubar o conceito
(aceito há mais de um século) de
que o corpo vive em estado de
equilíbrio e que, portanto, as drogas dadas ao doente devem procurar manter esse estado.
Michael H. Smolensky, um dos
maiores pesquisadores do mundo
em cronobiologia e professor na
Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas-Houston, disse que a cronobiologia, uma velha
conhecida dos pesquisadores, têm
ganho mais fôlego nos últimos
anos e está tentando conquistar
mais adeptos entre os médicos que
prescrevem tratamentos para seus
pacientes.
Smolensky estará em São Paulo
em maio para participar de um
simpósio sobre as aplicações da
cronobiologia na área das doenças
cardíacas.
Ritmo das doenças
O corpo humano obedece a uma
série de ritmos biológicos controlados pelos seus múltiplos ``relógios internos''.
Assim, variações de sono, humor, desempenho, temperatura,
pressão etc. obedecem a padrões
definidos.
Da mesma maneira que o corpo
saudável obedece a variações circadianas (que acontecem ao longo
do dia), as doenças também estão
sujeitas a essa influência. Segundo
Smolensky, a maioria delas vai
piorar ou melhorar em horários
previsíveis ao longo do dia.
As úlceras e a asma, por exemplo, são condições que pioram para muitos doentes durante à noite.
Pessoas que enfrentam esses problemas podem se beneficiar se tomarem os remédios no começo da
noite, diminuindo a necessidade
de remédio no resto do dia.
A artrite reumatóide (que provoca dores nas articulações) é outra
condição que tende a ter sintomas
mais intensos na parte da manhã.
Segundo a cronobiologia, a medicação seria mais efetiva se fosse
concentrada nesse período.
Outro exemplo são as convulsões nos epilépticos, que tendem a
acontecer momentos antes ou depois deles deitarem ou acordarem.
Remédios para reduzir os níveis
de colesterol (gordura) no sangue
poderiam ser ação mais eficaz se
usados à noite, já que a maior parte do colesterol é produzida pelo
fígado enquanto a pessoa dorme.
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