São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GILBERTO DIMENSTEIN Escola dá vida
SERÁ DIVULGADA na próxima semana a primeira pesquisa
mostrando o impacto, no Brasil, da melhoria da escolaridade na
redução da violência. Pela precisão
das estatísticas, esse é um daqueles
marcos capazes de orientar, por todo o país, uma série de políticas públicas. Os resultados da pesquisa sugerem que determinados projetos, em discussão ou ainda engatinhando, teriam o efeito colateral de prevenir a barbárie. Exemplos: levar o Bolsa Família até estudantes de 18 anos; criar uma poupança em todo o país para os concludentes do ensino médio (projeto aplicado em Minas Gerais, iniciado em Brasília) e disseminar as escolas técnicas a partir das vocações locais. Na próxima semana, o Ministério da Educação vai anunciar, no Rio, o compromisso de difundir e apoiar modelos de educação em tempo integral. O anúncio está previsto para ocorrer em Nova Iguaçu, onde se ampliou a jornada escolar com baixo custo, com o cruzamento de programas de esporte, informática, cultura e assistência social -localizada na Baixada Fluminense, a cidade é conhecida por seus extermínios. A julgar pelas descobertas da Fundação Seade, tais programas atiram no que eles vêem, mas acertariam também no que não vêem. Arquitetados para mexer nas notas, acabariam atingindo as estatísticas de assassinatos. A única medida do plano nacional de educação capaz de gerar efeito rápido no desempenho dos alunos é a ampliação do Programa de Saúde da Família até as redes de ensino. Quem quiser testar a eficácia disso acompanhe a experiência que se inicia na cidade de São Paulo. Consultórios móveis, carregando equipes de pediatras, começam a percorrer escolas municipais. Por questões de saúde, boa parte dos alunos -cerca de 30%, segundo diversas pesquisas médicas- tem problemas de aprendizado, muitos deles simples de serem resolvidos. Falta de óculos, por exemplo. O custo previsto para fazer as visitas (R$ 3 milhões) em toda a rede é ridículo. Ridículo especialmente se comparado com o tamanho do drama de crianças serem chamadas de burras ou preguiçosas porque não se detectou que elas não enxergavam direito. Ou porque dormiam em sala de aula devido a uma rinite alérgica. Esse é um poderoso fator, quase totalmente descuidado, na produção de alunos ruins ou marginais. Ficar mais tempo estudando significaria apostar no futuro e aprender regras de convivência; é nessa faixa etária, afinal, que o indivíduo está entrando na delinqüência. Uma adolescente interessada na sua profissão tenderia a refletir antes de ter um filho fora do tempo. A região do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, deixou a condição de campeã mundial da violência justamente pela conjugação de ações que produziram perspectivas de vida. Vemos esse mesmo tipo de efeito no morro do Cavalão, em Niterói, que, agora, completa quatro anos sem tiroteios. Como no Jardim Ângela, combinaram-se policiamento comunitário e educação. O resumo da descoberta da Fundação Seade é o seguinte: se quisermos mesmo reduzir a violência, o país terá de fazer o jovem ficar mais velho na escola do que chegar mais novo à prisão. Já se conhece a receita da escola da vida, basta aplicá-la. PS - Tenho mostrado nesta coluna exemplos, nas mais diversas áreas, de projetos bem-sucedidos que driblam a falta de dinheiro com talento gerencial. Um deles é o morro do Cavalão, cujo relato coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br).
gdimen@uol.com.br |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |