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DANUZA LEÃO
Uma mulher
Uma mulher segura: é o que
todas queremos ser.
Como seria ela? Firme; marca
seus encontros diretamente no
restaurante, não hesita na hora
de escolher o que vai comer e beber, sabe sempre o que quer
-não só na mesa- e diz, sem
nenhum constrangimento.
Tem noções básicas de economia e consegue discutir, com a
maior naturalidade, a taxa de juros. Se vai a um jantar ou a uma
festa, chega em seu próprio carro,
o que a faz praticamente inabordável: afinal, é na volta, na carona, que as coisas começam a se
definir (contanto que seja ela
quem decida, claro).
Para ela, o acaso, nem pensar.
Prática, prefere que as rédeas da
situação -qualquer que seja
ela- estejam sempre em suas
mãos. Afinal, uma mulher segura
é aquela que tem controle sobre a
sua própria vida e a dos outros, se
possível.
Para isso lutou muito: se libertou da família, chorou em vários
divãs de analistas e conseguiu a
tal da independência. Mora só e
entra em qualquer restaurante
para almoçar ou jantar sozinha,
sem medo de ser abordada com
segundas -ou quintas- intenções, pois sabe perfeitamente como lidar com isso. Aprendeu
criando uma couraça, mas valeu
a pena; há muito tempo não se
descabela por homem nenhum e
não deixa que nenhum deles chegue perto do seu coração -a não
ser seu cardiologista.
Quando convida um amigo para tomar um drinque em sua casa, não lhe passa pela cabeça, em
nenhum momento, perguntar se
ele prefere ouvir o Chico ou a Callas. É ela quem dá as cartas,
quem decide, e está muito feliz assim. Tem consciência de quem é e
o que quer da vida, como devem
ser as mulheres modernas.
Ninguém melhor do que ela sabe se comportar numa festa: conversa com todo mundo, faz todos
os charmes, mas sabe que o caminho para não se envolver é nunca
olhar nos olhos de homem algum;
se se distrair e acontecer, desvia
rápido, e quando sente um olhar
mais firme e percebe que está correndo algum risco, disfarça e vai
para outro grupo. Sabe o risco que
corre se, quando um homem a
olha com firmeza, olha de volta.
Se mantiver o olhar, pode ser um
caminho sem volta, por isso brinca, ri, continua fazendo charme e
foge. Tudo muito naturalmente, e
nunca chegou a refletir sobre isso:
já está ligada no automático há
anos. Foge, a palavra é essa. Mas
qual é seu medo?
Medo de se perder -perder sua
força, sua segurança, ficar vulnerável. A vulnerabilidade, para
uma mulher segura, é o maior dos
perigos, e gostar de alguém é ficar
frágil e correr riscos. O de ele um
dia não querer tanto quanto ela
ou não querer mais.
Ela conhece: como encarar uma
reunião de trabalho, tomar decisões, assinar papéis; e se estiver
apaixonada e ele ainda não tiver
dado sinal de vida às 11h30 da
manhã?
Por essas e outras não se distrai
nunca, pois pretende continuar
independente e segura, como
sempre disseram que uma mulher
deve ser.
Só que, no trânsito, vai pensando: bem que gostaria às vezes de
ter alguém nem que fosse para
discutir, para se queixar, para
passar a noite em claro pensando
que tem que mudar o rumo da vida pois assim não está dando; no
fundo, para ser menos só.
Mas morre de medo: nada desorganiza mais a vida do que
uma paixão.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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