São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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SEGURANÇA

Nove detentos e um funcionário ficaram feridos numa rebelião no complexo de presídios da rua Frei Caneca

Greve de agentes faz preso se rebelar no Rio

TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Nove presos ficaram feridos por estilhaços de bombas de efeito moral ontem de manhã durante uma rebelião na penitenciária Milton Dias Moreira, no complexo de presídios da rua Frei Caneca (Estácio, região central do Rio).
O motim foi debelado por policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do Batalhão de Choque.
A rebelião foi deflagrada às 9h, quando os cerca de 1.300 presos foram informados de que, por causa da greve dos agentes penitenciários, iniciada à 0h de ontem, as visitas estavam proibidas.
Os presidiários se revoltaram. Segundo agentes ouvidos pela Folha, eles começaram a bater nas grades, quebraram os cadeados e tomaram conta do presídio. Os agentes que não participavam da greve conseguiram deixar a prisão. Os rebelados não teriam conseguido fazer reféns.
Cerca de 40 homens da PM (Polícia Militar) entraram no Milton Dias Moreira. Pelo menos uma bomba de gás lacrimogêneo foi jogada nos rebelados. Os presos feridos foram internados no Hospital Penitenciário, também no complexo da Frei Caneca. Segundo informações do governo estadual, o estado de saúde dos feridos não era grave.
Os presos estenderam três cartazes nas janelas gradeadas do presídio. Os cartazes eram avistados do vizinho morro de São Carlos. Um deles trazia a sigla SOS. Um outro acusava os policiais militares de estarem "barbarizando". No terceiro, estava escrita a frase "dois baleados".
Durante o confronto, um agente levou uma pedrada, mas ele passa bem, segundo os colegas. De acordo com o diretor do Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Rio, Alcy Coutinho, a segurança do complexo Frei Caneca era feita por 12 agentes penitenciários.
Depois que a rebelião foi controlada, a PM colocou os presos nus no pátio da penitenciária, para conferir se houve fugas e revistar as celas em busca de armas.
O Milton Dias Moreira é controlado por presidiários vinculados às facções criminosas TC (Terceiro Comando) e ADA (Amigo dos Amigos). Anteontem, cinco detentos conseguiram fugir do presídio, pulando um muro e correndo para a favela.

Greve
Com a greve dos agentes penitenciários por tempo indeterminado, aumenta a crise no sistema carcerário do Rio, iniciada a partir da rebelião ocorrida na semana passada na Casa de Custódia de Benfica (zona norte). Pelo menos 30 presos e um agente penitenciário foram mortos durante a rebelião, que durou 61 horas.
Os agentes serão substituídos por 805 PMs enquanto a paralisação continuar. As visitas e os banhos de sol foram suspensos, o que está irritando os cerca de 20 mil presos do Estado. Do lado de fora do Milton Dias Moreira, 200 parentes de presos protestavam e chegaram a tentar interromper o trânsito na Frei Caneca.
Os grevistas reivindicam reposição salarial de 72%, melhoria nas condições de trabalho e a convocação dos aprovados no último concurso para preenchimento de vagas na carreira.
Até a conclusão desta edição a Folha não havia conseguido falar com o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos. O secretário de Segurança, Anthony Garotinho, também não havia dado entrevistas sobre a nova rebelião.


Colaborou a Folha Online


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