São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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Daslu faz "caça ao Rolex" para atrair novos clientes

Gincana atraiu mais de cem pessoas e incluiu perguntas sobre grifes e montagem de "looks"

Eliana Tranchesi diz que, pelo regulamento, não pode participar da brincadeira; "o meu Rolex o ladrão roubou", disse ela

PAULO SAMPAIO
REPORTAGEM LOCAL

Um Rolex de US$ 5.000 escondido em algum canto da Daslu atraiu ontem um seleto grupo de clientes para uma gincana inédita na butique.
Cada participante deveria acertar dez perguntas "bem basiquinhas" sobre grifes para poder participar da busca ao relógio propriamente dita.
A primeira era adivinhar o "estilista americano criador da marca Polo", e achar o espaço da respectiva grife na loja.
Respostas possíveis: a) Ronald Reagan; b) Ronald McDonald; c) Richard Gere; d) Ralph Lauren. Não havia limite de tempo para pensar.
Antes do jogo de adivinhação, o concorrente tinha de montar dois "looks" com peças das grifes. O concurso foi das 11h às 19h, sem registros de incidentes. Não houve caso de desclassificação.
"Nós esperávamos umas 50 pessoas, veio o dobro", comemorou a relações-públicas Daniella Lunardelli, 35, que chama a estratégia de marketing para atrair público de "ação".
Lunardelli explica: "Nosso conceito é receber seja quem for no nosso espaço... Para não dizer "todos os níveis sociais", a gente pode afirmar que alcança "quase todos". Mas não podemos perder a identidade. O DNA foi mantido".
Tradução: depois de um longo período de vacas magras, a obsequiosa Daslu está disposta a ampliar o seu leque de abrangência e atingir um maior número de consumidores.
A "ação" de ontem, que foi anunciada em colunas sociais, serviu para que esse público potencial conheça a loja -e compre muito, claro.
"A gente vendeu superbem com essa brincadeira", diz Tânia Bayeux, 31, da loja Ricardo Almeida.
Loja não, "shop". Os espaços lá se dividem em "shop in shop" (loja na loja) e "corner" (quiosque). Os primeiros são administrados pelas próprias grifes, os outros, pela Daslu.
O repórter aproveita a gincana para desbravar a butique. Entre um Salvatore Ferragamo e um Giorgio Armani há espaços como o Teresa Perez, onde se vendem pacotes de viagem personalizados. Por exemplo, Quênia -US$ 8.798 por pessoa.
Tem viagens especiais "para o aniversário do vovô e da vovó". Nas ilustrações, o vovô é algo como um Paul Newman, e a vovó, como Ingrid Bergman.
Na Calvin Klein, o vendedor Gustavo Alvarenga, 21, de calça "skinny" (muito justa nas pernas) papeia com o programador visual Luciano Noronha, 33. A Folha se intromete e diz: "Está vazio hoje. Nos fins de semana vem mais gente?"
"Vem muita gente de fora. É um cliente que paga com dinheiro vivo. Eu me lembro de que no início eu trabalhava perto do caixa e via as mulheres abrindo a bolsa e tirando aqueles bolos de nota. É pra não ter de especificar na declaração do Imposto de Renda..."
Eliana Tranchesi, a dona, aparece, cumprimenta os clientes efusivamente e diz: "Não pude participar. É contra o regulamento. O meu Rolex o ladrão roubou", conta com um relógio da marca Chopard.
Para um leigo, todo mundo no local parece personagem. Um rapaz meio grandalhão, com cabelo estilo escova definitiva e bochechas artificialmente avermelhadas, circula com duas sacolas Burberry em um braço e a mãe no outro.
No meio de uma das salas, muito animada, Maria Lúcia Nascinbeni, 54, conta que comprou os dois looks que a gincana pedia para montar.
Como soube da gincana?
"Imagina, freqüento a Daslu há muitos anos. Para te dar uma idéia, meu número no cadastro é 166." Todos em volta se admiram.
Qual a profissão de uma pessoa que pode participar de uma caça ao Rolex, em plena terça-feira útil? Maria Lúcia pensa (mas não muito):
"Cuido muito bem da minha casa e dos meus filhos", diz.
"Paty!", diz Daniella Lunardelli. "Esse é o Paulinho."
Será que é muita desinformação não saber quem é a Paty? "Você sabe, é a doceira... A Paty Piva", informam.
A atmosfera ao redor é leve, todo mundo ri de tudo.
Faltam dois minutos para o início da caça ao Rolex, avisam.
Pela quantidade de mulheres reunidas no gazebo do leão -uma das salas da loja-, com a bota de cano longo para fora da calça, a caçada promete.
Por enquanto, todas bebericam um cafezinho, um chá, um champanhe. Como nos bingos, na Daslu oferecem-se drinques para distrair a cliente enquanto ela gasta... E foi dada a largada!
A caçada não chega a ser indigna, mas é engraçado ver aquelas louras de botas correndo com suas bolsas de grife, enquanto vasculham as prateleiras e reviram os sapatos.
"Tô achando que tá calmo, uma beleza", diz uma produtora. "Civilizado, né?", concorda um vendedor.
Uma gritaria vem de uma das salas da Daslu Homem. "AAAAAAAAAAAAAAAAAA!"
Tumulto. Já se sabe quem é a ganhadora. A dona de bufê Cintia Hoehne, 35, achou o Rolex no bolso de um blazer. Ela é santista e veio com duas amigas, "a Taís e a Flávia", para umas comprinhas vespertinas. O que vai fazer com o relógio?
É Taís quem responde: "A gente combinou que, se uma das três ganhasse, ia dividir com a outra".
Então vão vender?
"Não sabemos ainda. Pode ser que fique um pouquinho na casa de cada uma."
Cintia Hoehne parece arrependida do trato inicial. A brincadeira acabou.


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