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BARBARA GANCIA
Tiro pela culatra
Não é por conta de atitudes como a do sargento que a presença de homossexuais é malvista nas Forças Armadas?
ISRAEL, REINO UNIDO, Canadá,
Suíça e Austrália são alguns dos
países em que a questão dos homossexuais nas Forças Armadas já
foi amplamente debatida, digerida e
resolvida. Nesses lugares, gays e lésbicas estão livres para servir e, ao
mesmo tempo, têm seus direitos
preservados por lei.
Nos países árabes, o assunto nem
sequer é colocado em discussão e,
em locais como Rússia, Turquia, Coréia do Sul e Líbia, os gays não podem, por lei, seguir carreira militar.
Nos EUA, a questão continua em
aberto. Até 1993, a lei dizia o seguinte: "O homossexualismo é incompatível com o serviço militar. A presença em ambiente militar de pessoas
que praticam conduta homossexual
ou que, por meio de suas afirmações,
demonstram propensão para a prática de conduta homossexual, compromete seriamente o cumprimento da missão militar".
Bill Clinton redirecionou a controvérsia ao introduzir o ato que ficou conhecido como "don't ask,
don't tell" (não pergunte, não diga),
que admite homossexuais, mas os
proíbe de revelar sua preferência, e o
comando militar de investigar a sexualidade dos seus comandados.
Atualmente, o Congresso norte-americano estuda um novo ato, que
admite, sem restrições, os homossexuais e ainda promete garantir plenamente os seus direitos.
Já aqui na terrinha, como era de se
esperar, a questão virou galhofa. A
história da prisão por suposta deserção do sargento Laci Marinho de
Araújo, gay assumido, enquanto gravava o programa "Superpop", fez
mais gente rir do que se aprofundar
na questão de se homossexuais devem ou não ter os mesmos direitos
do restante da população.
Mas, vem cá: dava para ser diferente? Como é que a gente vai se
compadecer com o sargento, que se
diz perseguido por comandantes
preconceituosos, quando o próprio,
num arroubo de candura, afirma
que "as Forças Armadas são um paraíso", pois não há, segundo ele,
"coisa melhor para um homossexual
do que tomar banho com um monte
de homem pelado e sarado"?
Ora, não é justamente por conta
desse tipo de pensamento que a presença dos homossexuais é malvista
nas Forças Armadas?
Confesso que, ao tomar conhecimento da declaração do sargento
Laci, a primeira coisa que me veio
em mente foi a imagem do referido
militar passeando pela caserna de
pênis ereto. E olha que eu não sou
nenhuma carola, não tenho nada
contra o Village People, adoro a
Cher e a Liza Minnelli, os musicais
da Broadway e já aplaudi de pé muito número de transformista imitando a Bethânia.
O que eu quero dizer é que, em vez
de elevar a discussão ao degrau que
ela mereceria, a história do sargento
Laci só serve como exemplo para
aprofundar o preconceito e mostrar
aos contribuintes, cujos impostos
sustentam as Forças Armadas, que
os homossexuais não têm temperamento adequado para servir.
Um pouco como a Parada Gay de
São Paulo que, para muitos, virou sinônimo de dia em que o sexo está liberado para ser praticado no meio
da rua (há inúmeros relatos de gente
que vive no entorno das avenidas
Paulista e Rebouças atestando que,
neste ano, a farra passou dos limites), o drama do sargento Laci mais
prejudica do que ajuda a causa pelos
direitos dos homossexuais.
barbara@uol.com.br
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