São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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Exército vai manter sargento gay preso

A corporação informou ontem que os exames médicos consideraram Laci Marinho de Araújo apto para o serviço militar

O militar continuará a responder processo por deserção e pode ser expulso do Exército; ele chorou e disse que não queria morrer

ANGELA PINHO
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preso na madrugada de anteontem após participar de um programa de televisão, o sargento Laci Marinho de Araújo passou ontem por exames médicos que, segundo o Exército, o consideraram apto a exercer a atividade militar -e não doente, como ele diz estar.
Com isso, ele seguirá preso e continuará a responder processo por deserção. O Superior Tribunal Militar disse que o laudo só irá chegar hoje.
Também de acordo com o Exército, o companheiro de Araújo, o sargento Fernando Alcântara de Figueiredo, deverá responder administrativamente por sua ausência ao trabalho durante o período que passou em São Paulo com Laci -três dias, segundo o sargento.
Alcântara disse ontem ter se apresentado no Hospital Geral de Brasília, onde trabalha. À noite, seguiu para a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, em Brasília.
A deserção é caracterizada pela ausência por mais de oito dias. A pena é de seis meses a dois anos de detenção, podendo chegar a expulsão. Araújo havia justificado a ausência dizendo estar doente.
Araújo e Alcântara contestam os exames médicos feitos pelo Exército. Um atestado feito anteontem pelo psiquiatra Paulo Sampaio, representante do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, apontou um quadro de confusão mental, agitação e agressividade.
Ontem, Araújo foi transferido a Brasília junto com seu companheiro. Lá, foi levado ao IML. Chegou algemado e gritando. "Sabe por que eu estou preso? Porque eu denunciei um esquema de corrupção! Eles vão me matar!"
O exame no IML demorou três minutos, da hora em que o médico fechou a porta até abri-la novamente. Segundo a assessoria de comunicação do Exército, o objetivo era verificar se houve maus-tratos no trajeto, o que não foi constatado.
Depois disso, o sargento foi encaminhado ao Hospital Geral de Brasília. Ele ficaria preso lá, segundo o Exército, porque estava "exaltado".

Sem discriminação
Um oficial do Exército responsável por prender Araújo afirmou que a detenção não foi baseada em discriminação, já que há vários homossexuais nas Forças Armadas.
Segundo esse oficial, que integra o Comando Militar do Sudeste e só aceitou falar sob a condição de anonimato, Araújo foi preso por deserção.
No Estado de São Paulo há uma média de quatro deserções ao ano, de acordo com o oficial. Ele não soube informar quantos desertores são presos. Atualmente, São Paulo tem um efetivo de 22 mil militares.


Colaborou KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local


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