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"Caso de amor" desmontou quadrilha do furto ao BC
Policial infiltrado teve romance com parente de um dos chefes do grupo
Após 6 meses colhendo informações para a PF, agente galã sumiu da vida da "namorada"
do interior do Ceará
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
Em 2005, três dezenas de
pessoas consumaram o
maior furto do país com uma
estratégia típica de filmes de
ação: por um túnel de 89 metros, retiraram R$ 164,8 milhões do cofre do Banco Central de Fortaleza, no Ceará.
Agora, cinco anos depois,
começam a surgir detalhes
da operação que identificou
os chefes da quadrilha.
Entre esses detalhes, o
mais inusitado também tem
ares cinematográficos. O roteiro, porém, se assemelha
mais a um filme romântico.
Com nome fictício de personagem bíblico e jeitão de
galã, Nicodemos, agente da
Polícia Federal especializado
em infiltrações, se aproximou de uma mulher, parente
de um dos criminosos, engatou um relacionamento de
cerca de seis meses e conseguiu boa parte das pistas que
levaram aos chefes do furto.
Com dados preliminares
da PF, Nicodemos chegou a
Boa Viagem, cidade de 56 mil
habitantes a 216 km de Fortaleza, semanas após o furto.
Enquanto parte dos agentes usava a máxima "follow
the money" (siga o dinheiro)
e percorria o Brasil atrás das
notas de R$ 50 levadas do
banco, Nicodemos investigava no estilo "love is in the air"
(amor está no ar).
Adotando estilo romântico, conquistou o coração de
uma moradora, parente de
Antônio Jussivan Alves dos
Santos, o Alemão, personagem central do furto ao banco, responsável pelo braço
nordestino do grupo.
Ao fazer parte do dia a dia
da família da namorada cearense, entre festas e tradicionais almoços aos domingos,
Nicodemos teve acesso a detalhes sobre o megafurto e
alimentou ações policiais.
Nos relatórios de inteligência, por exemplo, há imagens de Antônio Edimar Bezerra circulando por Boa Viagem numa caminhonete.
Bezerra foi preso em 28 de
setembro de 2005 numa casa
na periferia de Fortaleza.
Com ele e outros quatro acusados de participar do crime,
foram encontrados enterrados R$ 12,5 milhões do dinheiro levado do BC.
Outros cinco acusados de
participação no furto milionário também eram de Boa
Viagem e tiveram as vidas investigadas por Nicodemos.
SUMIÇO
O agente infiltrado fazia o
tipo discreto, colhia suas informações quase sempre nas
rodas de conversas familiares. Mais ouvia do que falava.
Posava de tímido, às vezes.
Alguns dos familiares dos
ladrões que eram de Boa Viagem sentiam uma pontinha
de prazer em comentar o que
sabiam sobre o crime e, sem
saber, falavam com a polícia.
Quando a PF teve convicção de que sete dos acusados
de furtar o banco eram da cidade, Nicodemos, o forasteiro que chegou com a conversa de formar família, sumiu.
Talvez até hoje a mulher
abandonada não saiba que,
na realidade, viveu um falso
caso de amor.
Antônio Jussivan, o parente da mulher que se apaixonou sem saber por um agente
federal disfarçado, foi preso
em 25 de fevereiro de 2008.
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