São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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SEGURANÇA

Fragmento estava no material recolhido no cemitério clandestino da favela da Grota (zona norte do Rio) no mês passado

Exame identifica costela de Tim Lopes

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A polícia do Rio confirmou oficialmente ontem a morte do jornalista Tim Lopes. Exames de DNA feitos em 41 fragmentos de ossos, encontrados no cemitério clandestino da favela da Grota (complexo do Alemão, zona norte do Rio) no mês passado, concluíram que uma costela pertencia ao corpo do jornalista.
"Já temos a comprovação científica, por meio de exame de DNA, de que parte dos restos mortais são de Tim Lopes. Com isso, declaramos oficialmente a sua morte e a família poderá realizar o sepultamento", declarou o delegado Zaqueu Teixeira, chefe da Polícia Civil.
De acordo com Teixeira, a costela estava em meio aos pedaços de corpos recolhidos ao lado de uma microcâmera da TV Globo e de objetos pessoais de Lopes.
A polícia ainda não conseguiu prender o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, apontado como o principal responsável pelo assassinato do jornalista.
De acordo com Teixeira, dos oito suspeitos de terem participado do assassinato, quatro foram presos e confessaram o envolvimento no crime.
O delegado não deu informações sobre a tática adotada pela polícia para prender Elias Maluco e sua quadrilha. "Estamos trabalhando. No entanto, se falar como estou agindo, não vou conseguir prendê-lo", disse.

À solta
Investigações da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) indicam que Elias Maluco está circulando por favelas controladas pela facção criminosa CV (Comando Vermelho).
O traficante é apontado pela polícia como o principal líder da facção em liberdade.
O chefe da Polícia Civil afirmou que o inquérito sobre a morte do jornalista, que seria concluído ontem, será prorrogado por 30 dias. Apesar de dizer que não tem dúvidas sobre a autoria do crime, ele afirmou que pretende reunir mais provas contra os assassinos.
O delegado anunciou que a polícia aguarda receber da TV Globo uma agenda, um caderno de anotações e um celular usados por Lopes. Segundo ele, o material poderá trazer informações importantes para a investigação.
Lopes foi morto no dia 2 de junho quando fazia uma reportagem para a Globo sobre um baile funk na favela Vila Cruzeiro (Penha, zona norte).
No baile, haveria consumo de drogas e sexo explícito com menores de 18 anos. O jornalista tinha 51 anos.
Segundo a polícia, Lopes foi capturado pelo bando de Elias Maluco, sendo torturado, "julgado" e morto. Seu corpo foi esquartejado, queimado e enterrado no alto da favela da Grota.

Mais corpos
Restos de três outros corpos (dois homens e uma mulher) foram encontrados entre os 41 fragmentos de ossos analisados pelo laboratório Sonda, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a pedido da polícia.
De acordo com a polícia, os restos mortais devem pertencer a desaparecidos na região.
Levantamento da Delegacia de Homicídios revela que, nos últimos dois anos, pelo menos 60 pessoas sumiram na região abrangida pelos bairros de Bonsucesso, Penha, Olaria e Ramos, onde ficam o complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro, redutos de Elias Maluco.
O coordenador do laboratório Sonda, Franklin Rumjanek, disse que a identificação da costela como sendo do jornalista só foi possível porque ela estava presa a um pedaço de tecido muscular, o que facilitou o exame de DNA.

Comparação
Para realizar o teste, foram recolhidas amostras de sangue da mãe de Lopes, Maria do Carmo Lopes, e do filho Bruno.
O coordenador informou que existem outros cem fragmentos de ossos recolhidos no cemitério clandestino e que estão sendo analisados pelo laboratório.



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