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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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Alvenaria reduziu resistência a ocupação

DA REPORTAGEM LOCAL

A líder comunitária Zorilda Maria dos Santos, 46, levará para a África do Sul idéias de organização dos movimentos de moradia que se aplicam à sua experiência pessoal. Ela leva uma lição na mala: as melhorias das favelas não se limitam a uma vantagem estética nas condições de vida, mas são uma forma de barrar preconceitos e de inserção na sociedade.
Zorilda Santos é diretora da Facesp (Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo) e teve a segunda maior votação entre os 16 conselheiros de habitação de movimentos populares eleitos neste ano (recebeu 13,7 mil votos, do total de 31,9 mil). Foi uma das convidadas para viajar ao exterior por sua atuação na zona leste.
Ela começou a participar de entidades que reivindicam moradia em 1986, quando vivia de aluguel. Com um grupo de oito famílias, Zorilda Santos ocupou em 1989 uma área pública da rua Antonio Kirsten, na Ponte Rasa, onde mora até hoje com seus dois filhos.
"Havia uma resistência muito grande dos moradores do bairro para aceitar essa ocupação. Para quebrar a resistência, combinamos que ninguém faria barraco de madeira, para não ter aquela "cara" de favela. Vendemos sofá, TV, mas tudo foi feito de alvenaria", conta ela, que já foi cozinheira e vendedora ambulante.
"A organização popular é assim: cada um faz aquilo que sabe. Em três dias, fizemos três cômodos, enquanto dormíamos na calçada. Ficamos seis meses sem água nem luz", diz. "Nos primeiros dias, os moradores chamavam a polícia. Hoje eles se misturam. Há pesquisadores que ainda chamam as nossas casas de favelas, mas é um conceito diferente. Só falta a regulamentação de posse, que deve chegar em agosto." Zorilda é ligada ao PC do B, partido que apóia a prefeita Marta Suplicy. "Um governo mais democrático ajuda muito. Mas nada se consegue se não houver participação e pressão popular", diz.


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