São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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SEGURANÇA

Modelo de organização de grupos como o PCC e o Comando Vermelho chegou a pelo menos seis Estados e ao Distrito Federal

Presos criam facções fora do eixo Rio-SP

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A presença de facções criminosas em presídios brasileiros não é mais exclusividade do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em pelo menos mais seis Estados e no Distrito Federal há grupos de presos identificados por siglas ou nomes no sistema penitenciário. Em três casos, as facções surgiram depois de receber presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) paulista transferidos.
Os grupos são parecidos com o PCC e o CV (Comando Vermelho), do Rio. Alguns têm estatuto, além de organizar rebeliões e tráfico de drogas nas cadeias e comandar crimes fora da prisão.
Um dos grupos é o PLD, que significaria Paz, Liberdade e Direito. A facção atua no presídio da Papuda, no Distrito Federal. O PLD teria surgido em 2001, após a transferência, de São Paulo para lá, de Marcos Hebas Camacho, o Marcola, um dos líderes do PCC.
Na mesma época, foi apreendido um suposto estatuto do PLD. A Folha teve acesso ao documento, escrito por presos. Uma das regras diz que seus integrantes deveriam organizar um caixa para financiar fugas e a entrada de armas e drogas na prisão.
Uma das ações do PLD foi detectada há cerca de seis meses, quando a polícia descobriu que integrantes do grupo e do PCC se reuniram na cidade de Águas Lindas, perto de Brasília, para tramar o resgate de presos da Papuda e de presídios em SP. O suposto plano não foi colocado em prática. Em 2002, o PLD chegou a recrutar adolescentes presos no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), no Distrito Federal.
De acordo com o diretor de Comunicação Social da Polícia Civil do DF, Miguel Lucena, o PLD hoje estaria enfraquecido. Os 15 supostos integrantes do grupo estão em celas isoladas na Papuda.
Em Mato Grosso do Sul, surgiram dois grupos: o PCMS (Primeiro Comando do Mato Grosso do Sul) e o PCL (Primeiro Comando da Liberdade).
O PCMS foi criado há cerca de seis anos, como forma de impedir que integrantes do PCC, transferidos para o Estado, dominassem as cadeias.
Segundo agentes penitenciários, integrantes do PCMS cobram "pedágio" dos presos. Quem não paga costuma ser morto. Só em 2003, oito detentos foram assassinados por contrariarem as regras. No início do mês, a polícia descobriu um plano de fuga que estava sendo organizado pela facção na penitenciária central de Campo Grande.
O PCL surgiu há dois anos como dissidência do PCMS. Seu criador, Odair Moreira da Silva, o General, foi expulso do PCMS após ter assassinado o fazendeiro João Morel, um dos maiores produtores de maconha na fronteira do Brasil com o Paraguai. Segundo a polícia, General teria cometido o crime a mando do PCC, o que contrariou o PCMS. Para se proteger, ele fundou o PCL.

Paraná
A transferência de presos do PCC para o Paraná a partir de 1998 deu origem ao PCP (Primeiro Comando do Paraná). Um suposto estatuto do PCP previa uma aliança com o PCC, que foi desfeita. Entre 2002 e 2003, o PCP comandou três rebeliões, duas na penitenciária estadual de Piraquara e uma em Curitiba.
Em novembro do ano passado, uma briga entre o PCP e o PCC, durante uma rebelião em Piraquara, deixou dois detentos do PCP mortos. Hoje, os líderes do PCP estão sob regime disciplinar especial. Isolados em celas individuais, eles só recebem visitas pré-agendadas.
Em março, a Polícia Civil do Rio Grande do Norte conseguiu abafar um plano de tentativa de fuga em três presídios do Estado. Por meio de interceptações telefônicas, os policiais conseguiram descobrir que os líderes da ação estavam organizando o PCN (Primeiro Comando de Natal).
A confirmação da existência da facção se deu no mesmo mês em que foi apreendida, em uma favela de Natal, uma central clandestina de telefone usada pelos presos. No local, foram encontradas inscrições com as iniciais PCN.
No Rio Grande do Sul, todos os presos que entram no sistema penitenciário escolhem antes para qual grupo vão: Manos ou Brasa. Rivais, integrantes das duas facções são separados por galerias ou pavilhões. Os chefes dos grupos são chamados de "prefeitos".
Em Pernambuco, os agentes penitenciários admitem a existência do Comando Norte-Nordeste (CNN). A facção surgiu no final da década passada como um braço do CV na região e foi citada em um relatório encaminhado pela polícia do Rio à CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados.
Segundo o presidente do sindicato dos agentes, Newton Albuquerque, os presos ligados ao CNN comandariam, de dentro da cadeia, crimes no Rio Grande do Norte e no Ceará.

Desarticulação
Em Minas Gerais, agentes penitenciários admitem que duas facções chegaram a se formar: o PCM (Primeiro Comando Mineiro) e o Comoc (Comando Mineiro de Operações Criminosas). Os grupos, no entanto, já teriam sido desarticulados.
O PCM surgiu entre os anos de 2001 e 2002. Seus líderes organizaram quatro rebeliões no presídio Nelson Hungria, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), no ano passado. O principal líder, Rogério Amaral dos Santos, o Rogerão, comandava a venda de drogas na unidade.
O Comoc atuava no presídio de Ribeirão das Neves. Na cadeia, os integrantes da facção organizavam roubos de caminhões e tratores no Estado. Os veículos eram levados para Mato Grosso e trocados por cocaína boliviana.


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