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SEGURANÇA
Modelo de organização de grupos como o PCC e o Comando Vermelho chegou a pelo menos seis Estados e ao Distrito Federal
Presos criam facções fora do eixo Rio-SP
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A presença de facções criminosas em presídios brasileiros não é
mais exclusividade do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em pelo menos mais seis Estados e no Distrito
Federal há grupos de presos identificados por siglas ou nomes no
sistema penitenciário. Em três casos, as facções surgiram depois de
receber presos do PCC (Primeiro
Comando da Capital) paulista
transferidos.
Os grupos são parecidos com o
PCC e o CV (Comando Vermelho), do Rio. Alguns têm estatuto,
além de organizar rebeliões e tráfico de drogas nas cadeias e comandar crimes fora da prisão.
Um dos grupos é o PLD, que
significaria Paz, Liberdade e Direito. A facção atua no presídio da
Papuda, no Distrito Federal. O
PLD teria surgido em 2001, após a
transferência, de São Paulo para
lá, de Marcos Hebas Camacho, o
Marcola, um dos líderes do PCC.
Na mesma época, foi apreendido um suposto estatuto do PLD.
A Folha teve acesso ao documento, escrito por presos. Uma das regras diz que seus integrantes deveriam organizar um caixa para
financiar fugas e a entrada de armas e drogas na prisão.
Uma das ações do PLD foi detectada há cerca de seis meses,
quando a polícia descobriu que
integrantes do grupo e do PCC se
reuniram na cidade de Águas Lindas, perto de Brasília, para tramar
o resgate de presos da Papuda e de
presídios em SP. O suposto plano
não foi colocado em prática. Em
2002, o PLD chegou a recrutar
adolescentes presos no Centro de
Atendimento Juvenil Especializado (Caje), no Distrito Federal.
De acordo com o diretor de Comunicação Social da Polícia Civil
do DF, Miguel Lucena, o PLD hoje
estaria enfraquecido. Os 15 supostos integrantes do grupo estão em
celas isoladas na Papuda.
Em Mato Grosso do Sul, surgiram dois grupos: o PCMS (Primeiro Comando do Mato Grosso
do Sul) e o PCL (Primeiro Comando da Liberdade).
O PCMS foi criado há cerca de
seis anos, como forma de impedir
que integrantes do PCC, transferidos para o Estado, dominassem
as cadeias.
Segundo agentes penitenciários, integrantes do PCMS cobram "pedágio" dos presos.
Quem não paga costuma ser morto. Só em 2003, oito detentos foram assassinados por contrariarem as regras. No início do mês, a
polícia descobriu um plano de fuga que estava sendo organizado
pela facção na penitenciária central de Campo Grande.
O PCL surgiu há dois anos como dissidência do PCMS. Seu
criador, Odair Moreira da Silva, o
General, foi expulso do PCMS
após ter assassinado o fazendeiro
João Morel, um dos maiores produtores de maconha na fronteira
do Brasil com o Paraguai. Segundo a polícia, General teria cometido o crime a mando do PCC, o
que contrariou o PCMS. Para se
proteger, ele fundou o PCL.
Paraná
A transferência de presos do
PCC para o Paraná a partir de
1998 deu origem ao PCP (Primeiro Comando do Paraná). Um suposto estatuto do PCP previa uma
aliança com o PCC, que foi desfeita. Entre 2002 e 2003, o PCP comandou três rebeliões, duas na
penitenciária estadual de Piraquara e uma em Curitiba.
Em novembro do ano passado,
uma briga entre o PCP e o PCC,
durante uma rebelião em Piraquara, deixou dois detentos do
PCP mortos. Hoje, os líderes do
PCP estão sob regime disciplinar
especial. Isolados em celas individuais, eles só recebem visitas pré-agendadas.
Em março, a Polícia Civil do Rio
Grande do Norte conseguiu abafar um plano de tentativa de fuga
em três presídios do Estado. Por
meio de interceptações telefônicas, os policiais conseguiram descobrir que os líderes da ação estavam organizando o PCN (Primeiro Comando de Natal).
A confirmação da existência da
facção se deu no mesmo mês em
que foi apreendida, em uma favela de Natal, uma central clandestina de telefone usada pelos presos.
No local, foram encontradas inscrições com as iniciais PCN.
No Rio Grande do Sul, todos os
presos que entram no sistema penitenciário escolhem antes para
qual grupo vão: Manos ou Brasa.
Rivais, integrantes das duas facções são separados por galerias ou
pavilhões. Os chefes dos grupos
são chamados de "prefeitos".
Em Pernambuco, os agentes penitenciários admitem a existência
do Comando Norte-Nordeste
(CNN). A facção surgiu no final
da década passada como um braço do CV na região e foi citada em
um relatório encaminhado pela
polícia do Rio à CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados.
Segundo o presidente do sindicato dos agentes, Newton Albuquerque, os presos ligados ao
CNN comandariam, de dentro da
cadeia, crimes no Rio Grande do
Norte e no Ceará.
Desarticulação
Em Minas Gerais, agentes penitenciários admitem que duas facções chegaram a se formar: o
PCM (Primeiro Comando Mineiro) e o Comoc (Comando Mineiro de Operações Criminosas). Os
grupos, no entanto, já teriam sido
desarticulados.
O PCM surgiu entre os anos de
2001 e 2002. Seus líderes organizaram quatro rebeliões no presídio
Nelson Hungria, em Contagem
(região metropolitana de Belo
Horizonte), no ano passado. O
principal líder, Rogério Amaral
dos Santos, o Rogerão, comandava a venda de drogas na unidade.
O Comoc atuava no presídio de
Ribeirão das Neves. Na cadeia, os
integrantes da facção organizavam roubos de caminhões e tratores no Estado. Os veículos eram
levados para Mato Grosso e trocados por cocaína boliviana.
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