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Estudo defende terapia à base de maconha
Pesquisa da Unifesp vê vantagens em relação a outros remédios no uso da droga para combater sintomas da quimioterapia
Náuseas e vômitos, efeitos colaterais do combate ao câncer, podem resultar no abandono do tratamento de até 20% dos pacientes
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um remédio à base de derivado da maconha se mostrou
mais eficaz do que outros medicamentos aplicados contra enjôo e vômitos causados pela
quimioterapia, tratamento
usado no combate ao câncer.
Em uma revisão realizada
por pesquisadores da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), foram analisados 11 mil
trabalhos sobre o assunto feitos
no mundo todo até julho do ano
passado. Desses, 30 foram selecionados. A maconha fumada
não foi avaliada com profundidade, pois havia poucos estudos a respeito.
Náuseas e vômitos, efeitos
colaterais da quimioterapia,
podem resultar no abandono
do tratamento de até 20% dos
pacientes e causar depressão e
ansiedade.
Usada no passado com fins
medicinais, a maconha volta e
meia retorna ou é banida da terapia em função das posições
políticas dos órgãos governamentais, afirma Francisco Carlos Machado Rocha, psiquiatra
e um dos autores do estudo. O
trabalho é assinado também
por Leonardo Rosa-Oliveira e
Dartiu Xavier da Silveira.
No estudo, o derivado da maconha dronabinol teve eficácia
superior aos neurolépticos, remédios que são utilizados contra náuseas e vômitos causados
pela quimioterapia. Os pacientes também demonstraram
preferência pelos remédios
com os derivados da maconha.
"O estudo tem importância
ao mostrar a equivalência, e até
a melhor aceitação por parte
dos pacientes", afirma Vladimir Cordeiro de Lima, oncologista clínico do Hospital do
Câncer de São Paulo.
Lima destacou, no entanto,
que os remédios usados para
comparação, da classe dos neurolépticos, já têm concorrentes
mais eficazes, padronizados
para o combate aos efeitos colaterais da quimioterapia. E que
os neurolépticos hoje são usados principalmente como adjuvantes do tratamento.
No mês passado a FDA, agência norte-americana que regula
medicamentos, manifestou-se
contra o uso medicinal da maconha em estado puro, fumada
-prática em mais de uma dezena de Estados dos EUA para
combater sintomas de doenças
como o câncer. Disse que não
há provas de que a planta funcione como remédio. E contrariou uma revisão feita por um
comitê de cientistas em 1999.
A própria agência, no entanto, reconheceu que a declaração foi fruto de pressões do
Congresso norte-americano.
Os EUA, ainda assim, continuam permitindo a fabricação
de remédios com princípios
ativos derivados da maconha.
No Brasil, os derivados da
maconha são substâncias banidas, por isso não há remédios
com esses princípios ativos.
Segundo Pedro Gabriel Delgado, coordenador de Saúde
Mental do Ministério da Saúde,
ainda não houve uma revisão
da legislação para medicamentos, apesar de o governo, em
2004, ter defendido que a maconha deveria ser retirada da
lista das drogas com propriedades particularmente perigosas,
sem efeitos terapêuticos, que
consta de uma convenção internacional de 1961.
Segundo a pasta, existem
efeitos positivos para enjôos da
quimioterapia, emagrecimento
em pacientes com Aids e dores
em casos de esclerose múltipla.
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