São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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21% dos municípios do PA não têm médicos

Ausência de profissionais em 31 dos 143 municípios do Estado obriga mulheres grávidas a buscar tratamento em Belém

Só 1 em cada 3 mulheres no Pará que usam o SUS tem acompanhamento durante a gravidez, como o pré-natal, o que poderia impedir doenças

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Ao menos 30 dos 143 municípios (21%) do Pará não têm nenhum médico, o que impede a atuação permanente do programa Saúde da Família nessas cidades e obriga as mulheres grávidas a buscar tratamento, muitas vezes tardio, em Belém.
Hoje, apenas uma em cada três mulheres do Estado que usam o SUS (Sistema Único de Saúde) tem durante sua gravidez acompanhamento preventivo, como o pré-natal, o que poderia impedir que doenças de solução simples -como infecções urinárias- acabassem complicando a gestação.
As estimativas são do próprio governo de Ana Júlia Carepa (PT), que enfrenta uma crise depois que ao menos 30 bebês morreram na maternidade da Santa Casa de Belém, hospital estadual, desde 20 de junho.
Para o governo e médicos do hospital ouvidos pela reportagem, a falta de atenção básica à saúde no Estado é o pano de fundo dos óbitos. A responsabilidade de fazer essa assistência é das administrações municipais, geralmente com repasse de recursos federais.
"Se elas forem gestantes adolescentes, gestantes que não têm pré-natal, se tiverem algum problema de desnutrição, elas terão uma gravidez de alto risco", disse à Folha Danieli Cavalcante, diretora técnica da Secretaria Estadual da Saúde.
Dentre as 12 primeiras mortes, ocorridas entre os dias 20 e 22 do mês passado, por exemplo, dois bebês tinham peso abaixo do normal para sua idade, o que pode indicar descuido com a alimentação da mãe.
O déficit de médicos não se deve à falta de dinheiro para pagar seus salários, mas à falta de vontade dos profissionais em morarem em pequenos municípios que muitas vezes estão isolados em lugares remotos da floresta amazônica.
A situação mais crítica é na região do Marajó (norte do Estado), onde algumas cidades no arquipélago são acessíveis apenas de barco, já que a maioria da população não pode comprar uma passagem de avião.
Os doentes que têm sorte conseguem que o helicóptero do Corpo de Bombeiros os resgate. Mas boa parte dos pacientes usa o transporte fluvial -que pode demorar mais de um dia até chegar a um médico.
A dificuldade logística, diz o governo, impossibilita a cobertura médica a toda a população. "Se chegar a 50%, já seria bom", afirmou Silvia Cumaru, presidente interina da Santa Casa de Belém. Mesmo no hospital, a secretária da Saúde, Laura Rossetti, estima que haja a necessidade da contratação de ao menos 70 pediatras.
Segundo ela, a falta de gente capacitada para atender recém-nascidos foi uma das causas para a não-implantação de uma força-tarefa logo depois das primeiras mortes.
Dados do Ministério da Saúde indicam que o Saúde da Família alcança só 33,6% da população paraense -cerca de 7 milhões de pessoas. De janeiro a junho deste ano, a pasta gastou R$ 25,5 milhões com equipes do programa no Estado.


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