São Paulo, Terça-feira, 06 de Julho de 1999
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GUARULHOS
Dos 21 vereadores da cidade, 18 são acusados em fita de vídeo de exigir dinheiro, cargos ou favores
Prefeito acusa Câmara de cobrar por apoio

da Reportagem Local

O Ministério Público de São Paulo recebeu duas fitas de vídeo em que o prefeito da cidade de Guarulhos (Grande SP), Jovino Cândido (PV), acusa 18 dos 21 vereadores da cidade de exigirem dinheiro, cargos ou favores para apoiá-lo.
As fitas foram gravadas nos dias 20 de dezembro de 1998 e 10 de maio de 1999 pelo presidente da Associação Comercial de Guarulhos, Luís Roberto Mesquita.
O prefeito não sabia que estava sendo filmado. O deputado estadual Elói Pietá (PT) participou das duas reuniões em que o prefeito fez as acusações.
As denúncias mais pesadas foram feitas contra os vereadores Oswaldo Celeste, Geraldo Celestino, Obreiro Jackson, Sebastião Alemão, Gilberto Penido, Silvana Mesquita, Toninho Magalhães, Peter Pong, Paulo Roberto, Waldomiro Ramos, Wanderley Figueiredo, Fausto Martello e Roberto Ribeiro.
Celeste, por exemplo, teria pedido R$ 40 mil mensais para apoiar o prefeito na Câmara. Paulo Roberto teria exigido R$ 200 mil para aprovar o Orçamento da prefeitura de 1999.
Há ainda nas fitas menções aos nomes de Alexandre Kise, Paulo Carvalho, Edson Soltur, Edson David e Victor Veronezi.
Apenas três vereadores não são citados nas fitas pelo prefeito: Orlando Fantazzini, Edson Albertão e Sandra Tadeu.
Procurado na tarde de ontem pela Folha, o prefeito não quis comentar o assunto.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Cândido disse que vai tratar do caso apenas quando for chamado a depor pelo Ministério Público ou pela polícia.
A mesma declaração foi dada na última sexta-feira pelo prefeito na Comissão Especial de Investigação aberta pela Câmara para tratar do assunto. Até então, a existência das fitas não tinha sido anunciada publicamente.

Momento delicado
A cidade de Guarulhos, a segunda maior do Estado de São Paulo, passava por uma situação de instabilidade política quando o prefeito reuniu-se pela primeira vez com Mesquita e Pietá.
Eleito vice-prefeito, Cândido assumiu a prefeitura em setembro de 98 quando Néfi Tales (PDT) foi afastado do cargo pela Justiça por improbidade administrativa (leia texto ao lado).
Tales, entretanto, estava recorrendo da decisão, e tinha chances de ser reconduzido ao cargo.
As fitas revelam que vereadores estavam oferecendo ao prefeito Cândido cassar Néfi Tales em troca de vantagens pessoais.
Tales acabou cassado em 23 de dezembro do ano passado pela Câmara Municipal.
"Pelas conversas de maio, acredito que ele não cedeu às exigências", diz o deputado Pietá.
Segundo o relato do prefeito, os parlamentares garantiriam também a aprovação dos projetos na Câmara se recebessem os favores e a propina.
Dizendo estar se sentindo pressionado pelos parlamentares, Cândido procurou o presidente da associação comercial e pediu que ele intermediasse um encontro com o deputado.
Após a segunda reunião, Pietá, que havia anotado as acusações, decidiu denunciar o caso ao Ministério Público.
"Na representação, relatei as denúncias mais graves, envolvendo 13 vereadores", afirmou o deputado.
Na próxima quinta-feira, Pietá e o presidente da associação vão depor ao delegado seccional da cidade de Guarulhos, Cláudio Gobetti.


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