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PLACA GARANTIDA
Prefeitura de SP assinou contratos para a construção de 24 CEUs, mas obras começarão apenas em 2005
Marta "amarra" futuro governo a escolões
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), amarrou a próxima
administração, seja dela ou não,
aos escolões, uma de suas principais bandeiras de campanha.
A prefeitura contratou oito empresas para a construção de mais
24 CEUs (Centro de Educação
Unificado), no valor de R$ 480
milhões, a partir de 2005.
Segundo especialistas, caso
Marta não seja reeleita, e o futuro
prefeito opte por não realizar as
obras, as empreiteiras poderão requerer indenização na Justiça.
Os contratos foram assinados
em 30 de abril, último dia em que
poderia ser realizada sem ferir a
Lei de Responsabilidade Fiscal.
A lei proíbe que o governo contraia obrigações de despesa, a partir de 1º de maio, que não possam
ser pagas no próprio mandato ou
que tenha parcelas previstas para
o exercício seguinte, sem verba
disponível para o pagamento.
As obras dos 24 CEUs foram dividida igualmente entre oito
construtoras, vencedoras de licitação. Em média, cada uma receberá R$ 60 milhões para construir
três escolões, com custo estimado
de R$ 20 milhões por unidade.
Segundo a prefeitura, caso Marta não seja reeleita, o futuro prefeito poderá rescindir os contratos sem ter de pagar indenização.
"Esse risco não existe porque a
gente não deu autorização para o
início das obras", afirmou Maria
Aparecida Perez, secretária de
Educação. Para ela, como não
houve prejuízo para as empresas,
não haveria porquê ressarci-las.
No entanto, especialistas ouvidos pela Folhaafirmam o contrário. Maria Silvia Zanello de Pietro,
professora de direito administrativo da USP, disse que "se for eleito outro prefeito e ele quiser rescindir esses contratos, estará sujeito a pagar indenização".
Segundo ela, existe a possibilidade legal de a prefeitura rescindir um contrato, desde que comprove o interesse público. Por outro lado, em eventual disputa judicial, caberá às construtoras provarem seus prejuízos com o rompimento unilateral do contrato.
Para Odete Medauar, também
professora de direito administrativo na USP, "não se rescinde contrato gratuitamente". "É uma certa leviandade fazer um contrato
que não se sabe se vai ser executado." Segundo ela, mesmo sem o
início das obras, as construtoras
podem vir a ter prejuízo, por
exemplo, na contratação de pessoal e na compra do material.
No Capão Redondo (zona sul),
uma das regiões onde há obra
prevista, a possibilidade de haver
um escolão tem gerado expectativas. A única reclamação é sobre a
demora na implantação do CEU.
Para o morador Daniel Correia,
23, a impressão é de que o processo de construção da unidade próxima à sua casa está "enrolado".
"Tem terreno, tem placa, mas não
acontece nada", afirmou.
O vereador Roberto Tripoli
(PSDB) critica a prefeitura. Pelos
seus cálculos, em vez das 57 mil
vagas a serem geradas com os novos CEUs, poderiam ser criadas
270 mil vagas, desde que o dinheiro fosse utilizado na construção
de escolas convencionais.
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