São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PESQUISA

Estudo da Unifesp mostra que baixos índices de PSA aumentam a taxa de sobrevida após cirurgia de retirada da glândula

Proteína indica chance de cura de câncer da próstata

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

As chances de cura do câncer da próstata são maiores se os níveis de PSA (proteína produzida pela próstata e cuja presença aumenta nos casos de tumores malignos) do paciente operado estiverem abaixo de 4 ng/ml.
É o que mostra um estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), realizado com 440 doentes que se submeteram à retirada da glândula em razão de um câncer. Os pacientes tinham idade média de 62,5 anos.
Após cinco anos da cirurgia (prostatectomia), 86% dos homens que tinham apresentado PSA de até 4 ng/ml quando do diagnóstico do câncer (43 do total de avaliados) não apresentaram recidiva da doença. Entre os que tinham níveis de 4 a 10 ng/ml (234) o índice de cura foi de 62%, e entre os níveis de 10 a 20 ng/ml (123), de 38%.
Segundo Miguel Srougi, professor titular da Unifesp e coordenador da pesquisa, o trabalho reforça as evidências de que a chance de câncer em homens com PSA abaixo de 4 é "bem real" e que, nessas condições, as chances de cura da doença são maiores.
"O momento ideal de diagnóstico é com o PSA entre 0 e 4 [ng/ ml], quando os pacientes podem se beneficiar mais com a cirurgia. Mas hoje esses homens recebem os cumprimentos dos médicos por estarem supostamente livres da doença", afirma Srougi.
Valores de PSA até 4 ng/ml são tidos como dentro da faixa de normalidade pelo conceito clássico do diagnóstico do câncer da próstata. Por isso, os homens que apresentam exames com esse resultado -79% do público masculino acima de 50 anos- são considerados de baixo risco para doença (7% de chances) e dificilmente fazem biopsia da glândula, a menos que sejam constatadas alterações significativas no exame de toque.
Mas há estudos indicando a necessidade de um olhar mais atento a esse grupo. Um deles, publicado em maio último no "New England Journal of Medicine", mostrou que 23% dos homens com PSA abaixo de 4 ng/ml já apresentavam a doença. Pelo menos 5% deles tinham taxas entre 0,5 ng/ml e 1 ng/ml.
O caso do médico aposentado Waldir Mendes Arcoverde, 71, ex-ministro da Saúde na gestão de João Baptista Figueiredo (1979-1984), que faz parte da pesquisa, é emblemático. Até os 67 anos, ele só fazia o exame de PSA, cujo nível não chegava a 2 ng/ml. Em 1998, ao levar um amigo ao urologista, resolveu também se submeter ao exame de toque.
O médico percebeu que uma pontinha da próstata -de tamanho equivalente a uma cabeça de alfinete- estava endurecida e indicou uma biopsia. Resultado: estava com câncer.
Cinco anos e meio após a prostatectomia, Arcoverde mantém índices zero de PSA. "Até a descoberta do tumor, me sentia protegido com os valores baixos de PSA", diz.
Srougi afirma que tem indicado a biopsia para pacientes que apresentem PSA acima de 2 ng/ml, especialmente os mais jovens (abaixo de 60 anos) e os que têm casos de câncer da próstata na família. "É mais seguro", diz.
A análise do tamanho da próstata, a velocidade com que o nível de PSA sobe ao longo dos anos e o exame da fração livre da proteína são indicadores que podem auxiliar o médico a decidir por pedir ou não uma biopsia da glândula quando o PSA estiver abaixo de 4 ng/ml, segundo o urologista.
O PSA no sangue é encontrado sob duas formas: livre e ligada a proteínas. A soma dessas frações corresponde ao PSA total. Nos casos de câncer, a fração livre encontra-se freqüentemente reduzida, e o PSA total, aumentado.
Para Srougi, a tendência é que o índice de segurança do exame seja revisto, mas, enquanto isso não acontece, médicos e pacientes precisam estar mais cautelosos. "Um novo paradigma se configura a partir do acompanhamento desses casos [analisados na pesquisa da Unifesp]", diz.
A pesquisa também mostra que, mesmo entre os homens com PSA maior que 4 -em que houve reicidiva da doença-, o índice de cura em dez anos foi de 90%.
Segundo Srougi, mesmo depois de extirpada a próstata, é importante continuar o monitoramento com o PSA porque, se houver células cancerígenas da glândula migradas para outros órgãos, o exame apontará a alteração. Nessa situações de recidiva, os pacientes são tratados com terapias hormonais e radioterapia.


Texto Anterior: Hotéis baianos distribuirão camisinhas
Próximo Texto: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.