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PESQUISA
Estudo da Unifesp mostra que baixos índices de PSA aumentam a taxa de sobrevida após cirurgia de retirada da glândula
Proteína indica chance de cura de câncer da próstata
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As chances de cura do câncer da
próstata são maiores se os níveis
de PSA (proteína produzida pela
próstata e cuja presença aumenta
nos casos de tumores malignos)
do paciente operado estiverem
abaixo de 4 ng/ml.
É o que mostra um estudo da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), realizado com 440
doentes que se submeteram à retirada da glândula em razão de um
câncer. Os pacientes tinham idade média de 62,5 anos.
Após cinco anos da cirurgia
(prostatectomia), 86% dos homens que tinham apresentado
PSA de até 4 ng/ml quando do
diagnóstico do câncer (43 do total
de avaliados) não apresentaram
recidiva da doença. Entre os que
tinham níveis de 4 a 10 ng/ml
(234) o índice de cura foi de 62%,
e entre os níveis de 10 a 20 ng/ml
(123), de 38%.
Segundo Miguel Srougi, professor titular da Unifesp e coordenador da pesquisa, o trabalho reforça as evidências de que a chance
de câncer em homens com PSA
abaixo de 4 é "bem real" e que,
nessas condições, as chances de
cura da doença são maiores.
"O momento ideal de diagnóstico é com o PSA entre 0 e 4 [ng/
ml], quando os pacientes podem
se beneficiar mais com a cirurgia.
Mas hoje esses homens recebem
os cumprimentos dos médicos
por estarem supostamente livres
da doença", afirma Srougi.
Valores de PSA até 4 ng/ml são
tidos como dentro da faixa de
normalidade pelo conceito clássico do diagnóstico do câncer da
próstata. Por isso, os homens que
apresentam exames com esse resultado -79% do público masculino acima de 50 anos- são
considerados de baixo risco para
doença (7% de chances) e dificilmente fazem biopsia da glândula,
a menos que sejam constatadas
alterações significativas no exame
de toque.
Mas há estudos indicando a necessidade de um olhar mais atento a esse grupo. Um deles, publicado em maio último no "New
England Journal of Medicine",
mostrou que 23% dos homens
com PSA abaixo de 4 ng/ml já
apresentavam a doença. Pelo menos 5% deles tinham taxas entre
0,5 ng/ml e 1 ng/ml.
O caso do médico aposentado
Waldir Mendes Arcoverde, 71, ex-ministro da Saúde na gestão de
João Baptista Figueiredo (1979-1984), que faz parte da pesquisa, é
emblemático. Até os 67 anos, ele
só fazia o exame de PSA, cujo nível não chegava a 2 ng/ml. Em
1998, ao levar um amigo ao urologista, resolveu também se submeter ao exame de toque.
O médico percebeu que uma
pontinha da próstata -de tamanho equivalente a uma cabeça de
alfinete- estava endurecida e indicou uma biopsia. Resultado: estava com câncer.
Cinco anos e meio após a prostatectomia, Arcoverde mantém
índices zero de PSA. "Até a descoberta do tumor, me sentia protegido com os valores baixos de
PSA", diz.
Srougi afirma que tem indicado
a biopsia para pacientes que apresentem PSA acima de 2 ng/ml, especialmente os mais jovens (abaixo de 60 anos) e os que têm casos
de câncer da próstata na família.
"É mais seguro", diz.
A análise do tamanho da próstata, a velocidade com que o nível
de PSA sobe ao longo dos anos e o
exame da fração livre da proteína
são indicadores que podem auxiliar o médico a decidir por pedir
ou não uma biopsia da glândula
quando o PSA estiver abaixo de 4
ng/ml, segundo o urologista.
O PSA no sangue é encontrado
sob duas formas: livre e ligada a
proteínas. A soma dessas frações
corresponde ao PSA total. Nos casos de câncer, a fração livre encontra-se freqüentemente reduzida, e o PSA total, aumentado.
Para Srougi, a tendência é que o
índice de segurança do exame seja
revisto, mas, enquanto isso não
acontece, médicos e pacientes
precisam estar mais cautelosos.
"Um novo paradigma se configura a partir do acompanhamento
desses casos [analisados na pesquisa da Unifesp]", diz.
A pesquisa também mostra que,
mesmo entre os homens com
PSA maior que 4 -em que houve
reicidiva da doença-, o índice de
cura em dez anos foi de 90%.
Segundo Srougi, mesmo depois
de extirpada a próstata, é importante continuar o monitoramento
com o PSA porque, se houver células cancerígenas da glândula
migradas para outros órgãos, o
exame apontará a alteração. Nessa situações de recidiva, os pacientes são tratados com terapias
hormonais e radioterapia.
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