São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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GILBERTO DIMENSTEIN

Figurinhas carimbadas


Gabriel Bá e Fábio Moon viraram personagens mundiais na história das HQs; ganharam o Eisner Awards, o Oscar da área

QUANDO OS PAULISTANOS Gabriel Bá e Fábio Moon receberam neste ano a encomenda de uma editora americana para escrever em inglês uma série de livros de histórias em quadrinhos, usando São Paulo como cenário -a dupla era uma aposta fora do Brasil -, o nome deles circulava apenas nas rodinhas mais especializadas.
Na semana passada, um fato fez deles personagens mundiais das histórias em quadrinhos. Ganharam, nos Estados Unidos, o Eisner Awards, uma espécie de Oscar das HQs. "São Paulo é, para nós, um cenário e um personagem", conta Fábio, desafiado a projetar a cidade que o projetou.

 
Nascidos e criados na Vila Madalena, Gabriel e Fábio são irmãos gêmeos. Estudaram na mesma escola (Vera Cruz), entraram nos mesmos cursos, em diferentes faculdades (Faap e USP) e optaram por licenciatura em artes plásticas. Preferiram, porém, não dar aulas, dedicando-se ao cartunismo -uma influência que veio de casa. A mãe deles, uma psicóloga, sempre adorou desde menina as histórias em quadrinhos, compradas constantemente pelo pai. Toda essa coleção, acrescida de novos exemplares, fez com que Fábio e Gabriel estivessem sempre cercados de desenhos. "Meu avô nos distraía lendo as revistas", lembra Fábio, que, ao lado do irmão, produz tiras ilustradas desde os nove anos.
 

Ainda quase adolescentes, eles criaram um fanzine batizado de "10 pãezinhos" -esse era o número de pães que seu pai comprava todos os dias para o café da manhã. Logo estariam ganhando alguns dos principais prêmios brasileiros para desenhistas.
No ano passado, verteram para a linguagem HQ o conto "O Alienista", de Machado de Assis, imaginando que, assim, aproximariam os estudantes do escritor. Para eles, a escola foi interessante porque serviu de janela para a arte. "O que nos ajudou é que tínhamos bons professores de arte."

 
Apesar de receberem pouco dinheiro, eles economizavam o que podiam para uma extravagância.
Nos últimos 12 anos, viajaram para a convenção de autores e produtores de HQs, em San Diego ( EUA), onde, ao final de quatros dias de oficinas e debates, são escolhidos os vencedores do Eisner Awards. Eram anônimos artistas latino-americanos, quase indiferenciados na platéia que vinha das várias partes do mundo.
Desta vez, Fábio e Gabriel não ficaram na platéia. Subiram ao palco para receber o prêmio.

 
Com isso, despertaram ainda mais interesse entre os editores americanos. Diariamente, os irmãos trancam-se no seu ateliê para desenhar e entregar a encomenda no prazo. "Por sua diversidade metropolitana, São Paulo, um espaço cosmopolita, é uma ótima inspiração", aposta Fábio.

gdimen@uol.com.br


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