São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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Após morte de jovem no Pará, fórum é depredado

Moradores de Viseu incendiaram também delegacia em protesto contra morte em suposta briga com PM

Três presos foram soltos; Secretaria da Segurança Pública do Pará informou que investigará policiais que fizeram abordagem

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Moradores de Viseu (368 km de Belém) depredaram e incendiaram o fórum e a delegacia da cidade na manhã de ontem, em protesto contra a morte de um jovem durante suposta briga com um policial militar. Ao menos três presos que estavam na carceragem foram libertados.
Segundo a Polícia Militar, o incidente que motivou a revolta dos moradores ocorreu por volta das 18h de anteontem, após PMs receberem denúncia sobre um foragido da Justiça e outras três pessoas que estariam fumando maconha em um local chamado Piçarreiras.
Eles saíram correndo ao serem abordados, de acordo com a PM. Um deles, adolescente de 17 anos, foi alcançado durante a fuga. O policial pediu que ele soltasse uma faca que carregava, mas foi agredido pelo rapaz ao se abaixar para pegá-la. O adolescente acabou levando um tiro durante a briga, segundo a versão da polícia.
Como em Viseu não há infra-estrutura médica para o atendimento, o rapaz foi levado a um hospital em Bragança (PA), distante cerca de 150 km, mas morreu no caminho.
Ao saber da morte, pessoas ligadas ao rapaz -a PM não deu nomes- foram em busca do corpo para enterrá-lo, disse o major César Luiz Vieira. Como não encontraram o cadáver, que havia sido levado ao IML (Instituto Médico Legal) de Castanhal (PA), resolveram promover o quebra-quebra, afirmou o major.

Relatos de moradores
Moradores de Viseu ouvidos pela Folha disseram que os envolvidos no protesto intimidaram os nove policiais militares e civis da cidade, depredaram a delegacia, soltaram presos e, por fim, atearam fogo ao prédio e a carros da polícia.
O fórum local também foi atacado e ficou completamente queimado, contou o gerente de um hotel que fica na mesma rua. Moradores também disseram que a casa do juiz César Augusto Rodrigues, que fica ao lado do fórum, foi saqueada.
O gerente de contas do Banco do Brasil Deive Silva de Souza disse ter acompanhado o tumulto. Afirmou à Folha que não houve uma ação conjunta da população de Viseu, mas de uma "gangue de moleques", que eram "amigos do adolescente". A versão não foi confirmada pelo governo do Pará.
"A população está contra isso [depredação], mas não tem o que fazer", afirmou Souza no final da tarde de ontem, após cerca de 50 PMs chegarem a Viseu, que tem pouco mais de 53 mil habitantes, para reforçar a segurança. O contingente incluía 30 homens da Tropa de Choque e bombeiros que foram apagar o fogo remanescente. Não havia relatos de mais conflitos na cidade até a conclusão desta edição. O promotor e o juiz deixaram a cidade em um helicóptero da PM e foram para Bragança.
O major Vieira disse que "desocupados" integravam o grupo que participou dos ataques. "Não é difícil entender por que fizeram isso. Queimando o fórum, eles queimaram os processos", afirmou. A reportagem conseguiu contato com o major Vieira às 16h30, quando ainda estava em um posto de combustíveis afastado do centro de Viseu. "Viemos para manter a ordem pública."
A Secretaria da Segurança Pública do Pará informou que os três policiais que participaram da abordagem em que houve a morte do adolescente serão investigados.


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