São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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ENTREVISTA

Psicólogo hospitalar luta contra o tempo para auxiliar internados

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O paciente com um câncer no intestino é internado cinco dias antes da cirurgia. Quando sair da operação, estará sem parte do reto e passará a viver com uma bolsa coletora. Para a equipe que vai operá-lo, o foco está no órgão doente e na avaliação clínica e cirúrgica. Para o psicólogo que o acompanha, o importante é saber como lidará com sua doença e com a mutilação.
"Para alguns pacientes, a perda de um órgão traz uma decadência moral tão grande que supera o próprio sentido da morte", diz Mara Cristina Souza de Lucia, diretora da divisão de psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Se fosse em consultório, traumas dessa dimensão seriam cuidados ao longo de meses. Dentro do hospital, à beira do leito, o psicólogo tem algumas sessões e uns poucos dias antes que o paciente seja levado para a cirurgia.
Ao trabalhar com a fragilidade do doente e na velocidade da doença, a psicologia hospitalar é talvez a especialidade mais instigante dentro da psicologia. Sua atuação será debatida no 6º Congresso Brasileiro de Psicologia Hospitalar, que acontece de 10 a 13 deste mês, em São Paulo, promovido pelo Centro de Psicoterapia Existencial. A coordenação é de Valdemar Augusto Angerami-Camon, um dos pioneiros dessa especialidade no Brasil.
Abaixo, trechos da entrevista com a psicóloga Mara Cristina.

Folha - Como é cuidar de pacientes doentes e internados?
Mara Cristina Souza de Lucia
- A equipe de psicologia do HC tem 60 profissionais e faz o diagnóstico e o tratamento de cerca de 4.000 pacientes por mês. Muitos têm enfermidades graves e estão passando por cirurgias que mudarão suas vidas. Outros, com doenças sem sintomas, como a hipertensão, terão que mudar seus hábitos alimentares e de vida. Nos dois casos, os pacientes buscam um significado para suas doenças. O psicólogo está ali para avaliar e tratar o paciente enquanto parte viva e pensante de sua própria doença.

Folha - E quando a situação é insuportável para aquele paciente?
Mara
- O caso é colocado numa reunião com profissionais de diferentes áreas. A equipe vai considerar se a cirurgia trará ou não qualidade de vida que compense. Não adianta buscar a cura a qualquer preço se o paciente não vai suportar. Às vezes a cirurgia é adiada e o paciente passa a ter sessões de terapia. Mas às vezes prevalece a prática médica de tratar o paciente por partes, e seu estado psíquico não é considerado.


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