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Enviada se emociona em favela
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Asma Jahangir foi ontem a duas
favelas da zona norte do Rio. A relatora chegou a se emocionar com
depoimentos de familiares de vítimas da violência policial e disse
que as mães "precisam ser fortes,
para que as crianças também sejam e possam sobreviver".
Após as visitas, ela disse ter tido
uma impressão clara da situação
dos direitos humanos no Rio. "Infelizmente, há aberta e deliberadamente execuções sumárias de
jovens que moram em favelas."
Pela manhã, ela esteve no Ciep
Doutor Antonie Margarinos Torres Filho, diante do morro do Borel, na Tijuca. No local, Jahangir
ouviu, entre outras histórias, a de
Maria Dalva da Costa Correia da
Silva, 49, mãe de Thiago da Costa
Correia da Silva, morto em 16 de
abril no Borel com outros três homens. Policiais militares disseram, à época, que eles eram traficantes. Investigações mostraram
que eles eram trabalhadores. A
chacina levou ao morro o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda.
Depois, Jahangir foi à associação de moradores do morro, para
mais depoimentos. "O mais difícil
no meu trabalho é ouvir as mães
que esperam encontrar o corpo
de seus filhos mortos, crianças
que desapareceram. São mães
que gritam por justiça e sabem
que os filhos não vão voltar. E
passam-se anos e anos e elas não
se esquecem e continuam pedindo justiça", disse a relatora, com
voz embargada.
À tarde, ela foi à escola de samba Unidos do Jacarezinho. O presidente da Associação de Moradores do Jacarezinho, Rumba Gabriel, disse a ela que é difícil os
moradores denunciarem crimes,
pois "eles têm medo de morrer".
Jahangir disse acreditar que sua
visita trará atenção do governo
para a violência policial. Segundo
ela, a ONU só pode ajudar se o governo quiser. "Acho que é positiva a minha visita, pois foi o governo brasileiro que me convidou e
me estimulou a fazer um relatório
independente. Eles não estão negando o que existe aqui." Amanhã ela vai para Brasília e, na
quarta-feira, deixa o Brasil.
(TF)
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