São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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EFEITO COLATERAL

É o primeiro processo coletivo contra o medicamento naquele país; internet tem onda de ofertas de advogados

Ação reúne 300 mil contra o Vioxx nos EUA

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Uma onda de ofertas de ações contra a farmacêutica americana Merck, detonada pela revelação de que o antiinflamatório Vioxx aumenta os riscos de problemas cardiovasculares em pacientes que o utilizam cotidianamente por mais de um ano e meio, já tomou os EUA. Ontem, no Estado de Illinois, foi aberta a primeira ação de classe.
Nessa ação, segundo jornais locais, cerca de 300 mil reclamantes pedem que a Merck reembolse gastos com o medicamento desde que ele começou a ser comercializado, em 1999, e gastos com consultas médicas e exames para diagnosticar os efeitos colaterais recém-divulgados.
O primeiro processo "pós-retirada" do Vioxx foi aberto já na sexta-feira, um dia após o anúncio da Merck. Caroline Nevels, do Estado do Missouri, responsabiliza a empresa farmacêutica pela morte de sua filha Shelly South em novembro de 2002.
South, que tinha 34 anos e morreu de ataque cardíaco, usava Vioxx havia dois anos e meio. Nevels acusa a Merck de saber dos riscos e não anunciá-los.

Internet
Quando as palavras "lawsuit" (processo, em inglês) e "Vioxx" são digitadas em mecanismos de busca na internet, dezenas de escritórios e sites de advogados, com títulos como "um advogado do Vioxx para você", oferecem a oportunidade de abrir processos contra a farmacêutica.
A Merck confirmou, na última quinta-feira, já ter sofrido processos nos EUA antes de anunciar a retirada do Vioxx do mercado, mas não revelou quantos. Mas, nesta semana, assessores da empresa nos EUA afirmaram que não comentarão mais o tema.
Procurados pela Folha, nem o Departamento da Justiça dos EUA nem a FDA (agência federal que regula os mercados de medicamentos e alimentos nos EUA) souberam informar o número de processo abertos contra a farmacêutica nos últimos anos.
No Brasil, a Merck não havia sofrido nenhum processo envolvendo o Vioxx até a última semana, segundo João Sanches, diretor de comunicações da Merck, Sharp & Dohme, subsidiária da empresa no país.
Estimativas preliminares da Prudential Equity, uma reputada consultoria financeira, indicam que a Merck poderá sofrer cerca de 16.600 processos legítimos referentes ao Vioxx -um número que o analista Tim Anderson, autor do relatório sobre mercado farmacêutico, não considerou alarmante.
O valor foi calculado com base no número de pessoas que usam Vioxx há mais de 18 meses nos EUA (quando, segundo o estudo da Merck, os efeitos colaterais podem começar a se manifestar) e na porcentagem de usuários que costumam abrir processos em casos semelhantes.

Anúncio
O anúncio da retirada do Vioxx das prateleiras de mais de 80 países onde o medicamento era comercializado foi feito na última quinta-feira pela Merck & Co. Inc., nos EUA.
A empresa disse ter tomado a decisão após um estudo interno mostrar que o medicamento aumenta significativamente as chances de ocorrência de eventos cardiovasculares (como ataques cardíacos e derrames) em pacientes que o usam continuamente por mais de um ano e meio. O uso em período inferior a esse não apresentou riscos.


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