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AIDS
Estudo indica que alterações metabólicas levam a aumento de gordura no sangue
Coquetel aumenta risco de infarto
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudos realizados pelo Incor
(Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas de São Paulo) e por
centros de pesquisa norte-americanos mostram que os coquetéis
de medicamentos contra o HIV
podem provocar alteração degenerativa da camada íntima das artérias (aterosclerose), aumentando o risco de doenças cardiovasculares (derrames e infartos).
Entre os efeitos dos medicamentos anti-retrovirais -que,
combinados, bloqueiam a proliferação do vírus e controlam a evolução da Aids- estariam alterações metabólicas que causam a
diminuição das taxas de HDL (colesterol bom) e o aumento dos níveis de colesterol ruim e de triglicérides (gordura no sangue).
Dados do Programa Nacional
de DST e Aids, do Ministério da
Saúde, mostram que 40% dos pacientes que utilizam a terapia retroviral apresentam efeitos adversos, entre eles o aumento do colesterol ruim e do triglicérides.
Não há levantamento, porém, do
número de pacientes com doenças cardiovasculares já instaladas.
Segundo o cardiologista e pesquisador da USP Bruno Caramelli, com apenas um ano de uso da
medicação já pode ocorrer um espessamento da camada íntima
das artérias carótidas. Ele apresentou os trabalhos no Congresso
Brasileiro de Cardiologia, ocorrido na semana passada no Rio.
"A epidemia de Aids poderá,
em curto espaço de tempo, aumentar a incidência de doenças
cardiovasculares", diz Caramelli.
Mudança de estilo de vida
Além dos efeitos adversos dos
anti-retrovirais -especialmente
com os medicamentos do grupo
de inibidores de protease-, o
pesquisador acredita que a infecção crônica causada pelo HIV e
outros hábitos de vida freqüentes
entre os portadores do HIV, como o tabagismo e a vida sedentária, contribuam para esse aumento das doenças ateroscleróticas.
Como o coquetel é fundamental
para a sobrevivência dos pacientes, Caramelli defende alterações
no estilo de vida que podem compensar os efeitos colaterais, como
o combate ao tabagismo -56%
dos infectados fumam- e à dislipidemia (alteração nos níveis de
lipídios), que atinge 45% deles.
O pesquisador diz que, se os objetivos não forem alcançados com
as mudanças de estilo de vida, a
associação de medicamentos, como os fibratos, pode ser considerada. O uso das estatinas (para reduzir o colesterol ruim) deve ser
cuidadoso, pois pode provocar
efeitos colaterais graves.
Segundo o infectologista David
Uip, da diretoria do Incor, é possível ministrar a pacientes com riscos cardiovasculares outros tipos
de remédio -como nucleotídeos
e não-nucleosídeos- que causam menos efeitos aterogênicos.
O médico Ronaldo Hallal, do
Programa Nacional de DST e
Aids, afirma que os pacientes com
HIV já são alertados para os riscos
cardiovasculares dos anti-retrovirais e recebem orientações para o
controle dos níveis de colesterol e
triglicérides.
Também, sempre que possível,
é feita a substituição por drogas
que provocam menos efeitos colaterais, segundo Hallal. Ele diz
que, embora não haja um mapeamento de doenças cardiovasculares associadas ao uso do coquetel,
já existem relatos de eventos desse
tipo como angina no peito, infarto
agudo do miocárdio e derrames
em pacientes jovens que, em tese,
não teriam outros fatores de risco
associados.
Até 2003, o Ministério da Saúde
havia notificado 310,3 mil casos
de Aids no Brasil. Desde 1999, a
taxa de mortalidade pela doença
se mantém estabilizada no país:
6,3 óbitos por 100 mil habitantes.
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