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Serra tira do HC gestão de Instituto Doutor Arnaldo
Governador pretende transferir para organização social a administração do novo hospital, a ser inaugurado neste mês
Médico afirma que o modelo proposto por José Serra coloca em risco a qualidade do atendimento médico da instituição
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O governador José Serra
(PSDB) decidiu transferir novamente a administração do
IDA (Instituto Doutor Arnaldo), na avenida de mesmo nome, para a Secretaria de Estado
da Saúde. No mês passado, o vice-governador Alberto Goldman assinou decreto transferindo a gestão do prédio para o
HC (Hospital das Clínicas).
Serra revogou o decreto.
O instituto, que tem 726 leitos e será inaugurado neste
mês, está no centro de uma polêmica que envolve médicos do
HC e o governo. Serra e o secretário de Saúde, Luiz Roberto
Barradas Barata, entendem
que o hospital deve ser administrado por uma organização
social por meio de um contrato
que defina metas de atendimento e de gastos -cerca de R$
120 milhões anuais. A organização escolhida para a tarefa foi a
Fundação Faculdade de Medicina, ligada à USP.
A decisão já estava praticamente tomada quando, há um
mês, o médico Miguel Srougi,
professor titular de urologia da
Faculdade de Medicina da USP,
liderou um movimento de resistência à medida.
Em carta enviada aos professores da faculdade, ele afirmava
que o modelo de administração
desejado pelo governo colocará
"em risco o papel inigualável de
atendimento médico-hospitalar, de formação de recursos
humanos e de pesquisas biomédicas exercido pelo HC",
pois, aos profissionais de saúde,
não será possível "desenvolver,
na plenitude, a sua missão acadêmica, já que terão que se ater
a um projeto rígido e asfixiante
de metas assistenciais, o que é
bastante difícil quando ações
nas áreas de ensino e pesquisa
têm de ser contempladas concomitantemente".
Srougi também afirmava na
carta, entre outras ponderações, que a divisão criará um
"problema incontornável de
identidade" entre os médicos
que forem transferidos do HC
para o novo instituto. "Nenhum desses indivíduos, com
histórias pessoais ricas em embates e conquistas acadêmicas,
percorreu esses caminhos para
se transformar em burocrata,
subjugado a um sistema de metas e cotas assistenciais e submetido às inevitáveis ingerências e constrangimentos, comuns no sistema político e dirigente brasileiros".
A carta chegou ao conhecimento de Serra, que decidiu
abrir negociações com os médicos que resistiam ao modelo de
administração já definido.
Nesta semana, a situação ficou tensa após Srougi declarar
à Folha, na terça, que o IDA
"pode se transformar num tremendo instrumento de manipulação política, com deputados e vereadores de todo o país
querendo colocar seus cupinchas lá dentro". Dois dias depois, Serra baixou o decreto
que transfere novamente o instituto do HC para a secretaria.
O decreto inspirou preocupação entre alguns médicos,
que entenderam que as negociações estavam encerradas.
Mas a Folha apurou que Serra
pretende dar continuidade às
conversas.
A tendência do governador e
do secretário Barradas, porém,
é manter a decisão de contratar
uma organização social para
administrar o IDA -provavelmente a Fundação Faculdade
de Medicina, ligada à USP.
O governo entende que é necessário fixar metas de atendimento e de gastos diante da necessidade de se abrir hospitais
no interior e na periferia, que
têm poucos leitos em contraponto aos disponíveis na região
central da capital.
Na visão do governo, as áreas
de pesquisa e ensino não serão
"asfixiadas" pois continuarão
no HC, que não estará submetido às metas de gastos do IDA.
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