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HABITAÇÃO
Pesquisa mostra que número de pessoas sem teto subiu 20% e passou de 10 mil; há cerca de 400 universitários nessa situação
SP tem "dois Copans" de moradores de rua
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A cidade de São Paulo tem
10.394 moradores de rua, um contingente capaz de lotar duas vezes
o edifício Copan, um dos símbolos da arquitetura paulistana,
construído em 1951.
Nessa conta estão incluídos tanto os moradores que ficam efetivamente só na rua como os que
vivem nos albergues municipais.
Num sinal dos tempos difíceis,
foram localizados mais de 400
universitários nessa situação em
São Paulo. Nos albergues, onde o
nível de detalhamento é maior, a
prefeitura contou 23 pessoas com
curso superior, entre elas cinco
contadores, três administradores,
três professores, um advogado,
um médico e um jornalista.
Aumento de 20%
Os 10.394 moradores em "situação de rua" representam um crescimento de 19,4% em relação aos
8.706 cidadãos sem moradia identificados em uma pesquisa feita
há três anos. Os dois trabalhos foram realizados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para a prefeitura. O aumento é muito superior ao ritmo
de incremento da população da
cidade, de cerca de 2% ao ano.
Apesar do aumento de quase
20% no número de moradores de
rua, o levantamento revela uma
inversão na quantidade de pessoas que dormem na rua e na dos
que procuram os albergues.
Em 2000, as pessoas que dormiam nas ruas representavam
57,6% do total -eram 5.013. Neste ano, essa parcela caiu para
4.208 (40,5%). Inversamente, os
moradores de albergues quase
que dobraram. Passaram de 3.693
(42,4% do total de pessoas na rua)
para 6.186 (59,5%).
Nos albergues, os moradores de
rua recebem um banho quente,
comida e uma cama, além de consultas com algum assistente social. Em alguns locais, há programas de reinserção. A rede da prefeitura é de 33 albergues.
Maioria está no centro
A maioria desses excluídos se
concentra na região central da cidade, em áreas comerciais, onde
restaurantes e lojas jogam mais lixo, materiais e comida.
Segundo a secretária municipal
da Assistência Social, Aldaíza
Sposati (PT), 26 dos 96 distritos
paulistanos, todos nas regiões
centrais, concentram 91% da população de rua. Isso significa que,
quanto mais periférico o bairro,
menos mendigos há.
O perfil dos moradores de rua
não mudou muito nos últimos
três anos. De acordo com Sposati,
o morador de rua típico é homem
e tem 38 anos. Para a secretária, isso significa que essa pessoa já sofreu uma série de reveses e não
tem muitas perspectivas. "Estamos lidando com pessoas cuja inserção no mercado de trabalho é
mais difícil", afirmou.
Os homens continuam sendo a
maioria e representam quatro em
cada cinco excluídos. Na divisão
por idade, o quadro também segue mais ou menos o mesmo.
Mais da metade, cerca de 55%, está na faixa de 26 a 55 anos.
Houve uma alteração interessante em relação à cor da pele.
Caiu o percentual de brancos (de
33,4% para 29,5%) e o de negros
(30,1% para 25,4%). Já os pardos
saltaram de 29,5% para 37,2% e se
tornaram maioria entre os que
não têm onde viver.
Solidão
Os números desmentem a tese
de que até o mais miserável dos
homens tem uma mulher e um
cachorro. Segundo o levantamento, uma em cada duas pessoas
mora sozinha na rua e apenas 8%
vivem com o cônjuge. No caso de
animais de estimação, só 15% têm
um "companheiro".
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