São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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Laís, 11, recebe alta e descreve "terremoto"

Menina estava na casa atingida pelo jato e afirma que móveis que caíram sobre ela acabaram servindo como proteção

A garota disse estar preocupada com a situação de sua amiga Cláudia, 16, também sobrevivente e que perdeu os pais e a avó

JULLIANE SILVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Parecia um terremoto", conta a menina Laís Gonçalves da Silva Coutinho Melo, 11, uma das sobreviventes do acidente com o avião Learjet 35 na zona norte de São Paulo.
Laís sofreu escoriações leves, levou pontos na testa e na boca e ainda sente dores nas costas e nas pernas. Segundo a garota, foram os móveis que caíram sobre ela que a salvaram até o resgate dos bombeiros. "O guarda-roupa machucou minha boca, mas me protegeu", disse Laís.
O bombeiro Jair Ortiz Esteves, 33, que foi o primeiro a localizar a menina, conta o que viu: "A coragem da garota me impressionou. Ela ainda ajudou a localizar outras pessoas, pois sabia onde estavam."
Ela recebeu alta na tarde de ontem e foi para sua casa, que fica a duas quadras do local da queda -onde brincava com a amiga Cláudia Lima Fernandes, 16, também sobrevivente. Sentada no sofá, cabisbaixa e com expressão séria, Laís respondia às perguntas calmamente, sem demonstrar timidez. De vez em quando, brincava com os cachorros que ziguezagueavam na sala lotada.
Falou do acontecido em detalhes e sabia dizer, inclusive, fatos sobre familiares da amiga, que tiveram a casa atingida pelo avião. "A família da Cláudia era unida, havia brigas, como em qualquer casa, mas eles se davam muito bem."
Ao falar de Cláudia, no entanto, seu semblante ficava mais preocupado, mas não chorou em nenhum momento. E ainda se mostrou animada para voltar à escola na próxima quinta-feira e às aulas de futebol -esporte que adora.  

FOLHA - O que você estava fazendo no momento do acidente?
LAÍS GONÇALVES DA SILVA
- Estávamos no quarto da minha amiga conversando. Meu avô tinha pedido para eu não ir, mas eu saí correndo mesmo assim e fui para a casa dela. Depois de uns 10 segundos que estávamos lá, aconteceu.

FOLHA - Você percebeu o avião caindo?
LAÍS
- Não dava para saber, as coisas caíram em cima de mim e o beliche onde a Cláudia estava voou. Parecia que era um terremoto. Só sei que as madeiras que caíram sobre mim me salvaram.

FOLHA - Você desmaiou?
LAÍS
- Não, fiquei acordada o tempo todo. Comecei a gritar e ouvi meu avô dizendo que eu estava debaixo da terra.

FOLHA - Você achou em algum momento que não iria sobreviver?
LAÍS
- Pensei que os bombeiros não viriam, passava a mão na minha cabeça e sentia o sangue escorrendo. Minha perna esquerda estava enfiada em um buraco e havia muita areia em meus olhos. Respirei muita fumaça e entrou muito pó pelo meu ouvido. Isso me deixou com muito medo, chorei bastante. Ouvia minha amiga gritar, mas não podia vê-la.

FOLHA - Você e a Cláudia são bastante amigas?
LAÍS
- Sim, estudamos na mesma classe, ela é minha melhor amiga. Estou muito preocupada, porque os pais dela e a avó morreram no acidente e eu não sei como ela vai ficar.

FOLHA - E agora? Você se sente melhor?
LAÍS
- Eu estou bem, tive uns pontos na testa e outros na boca e sinto dores nas costas e nas pernas. Estou tomando remédios que também vão ajudar a melhorar meus olhos, que foi machucado durante o acidente.

FOLHA - Quais são seus planos?
LAÍS
- Quero descansar bastante e ter notícias da minha amiga, porque não posso visitá-la no hospital.


Colaborou KLEBER TOMAZ


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