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Laís, 11, recebe alta e descreve "terremoto"
Menina estava na casa atingida pelo jato e afirma que móveis que caíram sobre ela acabaram servindo como proteção
A garota disse estar preocupada com a situação de sua amiga Cláudia, 16, também sobrevivente e que perdeu os pais e a avó
JULLIANE SILVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Parecia um terremoto",
conta a menina Laís Gonçalves
da Silva Coutinho Melo, 11,
uma das sobreviventes do acidente com o avião Learjet 35 na
zona norte de São Paulo.
Laís sofreu escoriações leves,
levou pontos na testa e na boca
e ainda sente dores nas costas e
nas pernas. Segundo a garota,
foram os móveis que caíram sobre ela que a salvaram até o resgate dos bombeiros. "O guarda-roupa machucou minha boca,
mas me protegeu", disse Laís.
O bombeiro Jair Ortiz Esteves, 33, que foi o primeiro a localizar a menina, conta o que
viu: "A coragem da garota me
impressionou. Ela ainda ajudou a localizar outras pessoas,
pois sabia onde estavam."
Ela recebeu alta na tarde de
ontem e foi para sua casa, que
fica a duas quadras do local da
queda -onde brincava com a
amiga Cláudia Lima Fernandes, 16, também sobrevivente.
Sentada no sofá, cabisbaixa e
com expressão séria, Laís respondia às perguntas calmamente, sem demonstrar timidez. De vez em quando, brincava com os cachorros que ziguezagueavam na sala lotada.
Falou do acontecido em detalhes e sabia dizer, inclusive,
fatos sobre familiares da amiga,
que tiveram a casa atingida pelo avião. "A família da Cláudia
era unida, havia brigas, como
em qualquer casa, mas eles se
davam muito bem."
Ao falar de Cláudia, no entanto, seu semblante ficava
mais preocupado, mas não chorou em nenhum momento. E
ainda se mostrou animada para
voltar à escola na próxima
quinta-feira e às aulas de futebol -esporte que adora.
FOLHA - O que você estava fazendo
no momento do acidente?
LAÍS GONÇALVES DA SILVA - Estávamos no quarto da minha amiga
conversando. Meu avô tinha
pedido para eu não ir, mas eu
saí correndo mesmo assim e fui
para a casa dela. Depois de uns
10 segundos que estávamos lá,
aconteceu.
FOLHA - Você percebeu o avião
caindo?
LAÍS - Não dava para saber, as
coisas caíram em cima de mim
e o beliche onde a Cláudia estava voou. Parecia que era um
terremoto. Só sei que as madeiras que caíram sobre mim me
salvaram.
FOLHA - Você desmaiou?
LAÍS - Não, fiquei acordada o
tempo todo. Comecei a gritar e
ouvi meu avô dizendo que eu
estava debaixo da terra.
FOLHA - Você achou em algum momento que não iria sobreviver?
LAÍS - Pensei que os bombeiros
não viriam, passava a mão na
minha cabeça e sentia o sangue
escorrendo. Minha perna esquerda estava enfiada em um
buraco e havia muita areia em
meus olhos. Respirei muita fumaça e entrou muito pó pelo
meu ouvido. Isso me deixou
com muito medo, chorei bastante. Ouvia minha amiga gritar, mas não podia vê-la.
FOLHA - Você e a Cláudia são bastante amigas?
LAÍS - Sim, estudamos na mesma classe, ela é minha melhor
amiga. Estou muito preocupada, porque os pais dela e a avó
morreram no acidente e eu não
sei como ela vai ficar.
FOLHA - E agora? Você se sente melhor?
LAÍS - Eu estou bem, tive uns
pontos na testa e outros na boca e sinto dores nas costas e nas
pernas. Estou tomando remédios que também vão ajudar a
melhorar meus olhos, que foi
machucado durante o acidente.
FOLHA - Quais são seus planos?
LAÍS - Quero descansar bastante e ter notícias da minha amiga, porque não posso visitá-la
no hospital.
Colaborou KLEBER TOMAZ
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