São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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"Era a família mais pobre da rua", diz vizinha da casa atingida pela aeronave

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A aposentada Douglaci Nunes de Vasconcelos, 54, olha bem para a câmera da TV, faz uma pausa e aperta os olhos: "Era a família mais pobre da rua, estamos muito tristes. Deus achou que a Claudinha tinha de ficar, justo ela, que, por causa da doença, precisa tanto de ajuda", lamenta.
Douglaci e algumas dezenas de pessoas observavam ontem a retirada dos escombros da casa mais atingida no domingo pelo Learjet que caiu instantes depois de decolar do Campo de Marte (zona norte).
Havia três casas no terreno: uma de oito cômodos, na frente, uma de quatro, nos fundos, e uma terceira, desocupada. A Claudinha a que a aposentada se referia é uma garota de 16, com déficit de aprendizagem, que morava na da frente com os pais, uma irmã e a avó. Morreu todo mundo, menos a garota e uma amiga da vizinhança, Laís, 11, com quem ela brincava.
As casas pertenciam à avó da menina, Lina, 75, ex-empregada doméstica e espécie de matriarca do "complexo". Lina abrigava os dois filhos (João e Ayres) com as mulheres (ambas Rosa) e os netos.
Separado de sua Rosa, João morava no porão da casa principal. Sua ex ocupava a edícula com os cinco filhos do casal. Ayres e os seus moravam com Lina na da frente.
De acordo com a vizinhança, a casa de Lina era uma construção antiquada, nunca reformada, que destoava dos sobrados de classe média da rua. "A casa deles não tinha nenhuma melhoria. Era a mais simples da rua", diz a fisioterapeuta Juliana Lanzani, que mora a três casas de distância daquela que foi a construção mais atingida da rua.

Perfil diferente
A vizinha conta que o perfil da família de Lina era bem diferente do dos outros moradores da rua. "Às vezes minha mãe pegava a Rosa para fazer uma faxina, passar roupa em casa. Eram gente muito boa", relata a fisioterapeuta.
A Rosa sobrevivente trabalhou durante dois anos como garçonete no restaurante Picanharia do Gaúcho, que fica a menos de 400 metros. "Ela tem uma índole excelente", diz Elvo Etangerlim, 41, o gaúcho.
Quando a situação ficava difícil, os vizinhos costumavam se cotizar para ajudar a família. "O Rafael [filho da Rosa] já trabalhou auxiliando no acesso à van da escola do meu marido", conta Miriam Galdi, 42, condutora do veículo. Miriam, o marido e o filho estavam no interior do Estado na hora do acidente.
As duas testemunhas oculares não apareceram ontem na delegacia. Uma delas disse que não poderia ir porque já havia se comprometido a dar uma "entrevista no Datena".


Colaborou JULYANA TRAVAGLIA


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