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"Era a família mais pobre da rua", diz vizinha da casa atingida pela aeronave
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A aposentada Douglaci Nunes de Vasconcelos, 54, olha
bem para a câmera da TV, faz
uma pausa e aperta os olhos:
"Era a família mais pobre da
rua, estamos muito tristes.
Deus achou que a Claudinha tinha de ficar, justo ela, que, por
causa da doença, precisa tanto
de ajuda", lamenta.
Douglaci e algumas dezenas
de pessoas observavam ontem
a retirada dos escombros da casa mais atingida no domingo
pelo Learjet que caiu instantes
depois de decolar do Campo de
Marte (zona norte).
Havia três casas no terreno:
uma de oito cômodos, na frente, uma de quatro, nos fundos, e
uma terceira, desocupada. A
Claudinha a que a aposentada
se referia é uma garota de 16,
com déficit de aprendizagem,
que morava na da frente com os
pais, uma irmã e a avó. Morreu
todo mundo, menos a garota e
uma amiga da vizinhança, Laís,
11, com quem ela brincava.
As casas pertenciam à avó da
menina, Lina, 75, ex-empregada doméstica e espécie de matriarca do "complexo". Lina
abrigava os dois filhos (João e
Ayres) com as mulheres (ambas Rosa) e os netos.
Separado de sua Rosa, João
morava no porão da casa principal. Sua ex ocupava a edícula
com os cinco filhos do casal.
Ayres e os seus moravam com
Lina na da frente.
De acordo com a vizinhança,
a casa de Lina era uma construção antiquada, nunca reformada, que destoava dos sobrados
de classe média da rua.
"A casa deles não tinha nenhuma melhoria. Era a mais
simples da rua", diz a fisioterapeuta Juliana Lanzani, que mora a três casas de distância daquela que foi a construção mais
atingida da rua.
Perfil diferente
A vizinha conta que o perfil
da família de Lina era bem diferente do dos outros moradores
da rua. "Às vezes minha mãe
pegava a Rosa para fazer uma
faxina, passar roupa em casa.
Eram gente muito boa", relata a
fisioterapeuta.
A Rosa sobrevivente trabalhou durante dois anos como
garçonete no restaurante Picanharia do Gaúcho, que fica a
menos de 400 metros. "Ela tem
uma índole excelente", diz Elvo
Etangerlim, 41, o gaúcho.
Quando a situação ficava difícil, os vizinhos costumavam se
cotizar para ajudar a família. "O
Rafael [filho da Rosa] já trabalhou auxiliando no acesso à van
da escola do meu marido", conta Miriam Galdi, 42, condutora
do veículo. Miriam, o marido e
o filho estavam no interior do
Estado na hora do acidente.
As duas testemunhas oculares não apareceram ontem na
delegacia. Uma delas disse que
não poderia ir porque já havia
se comprometido a dar uma
"entrevista no Datena".
Colaborou JULYANA TRAVAGLIA
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