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Selo em cadeirinha só será exigido em 2009
Exigência de certificado estava em vigor desde 1º de outubro e foi adiada, pelo próprio Inmetro, para 31 de março
Estudo aponta que uso adequado do equipamento reduz os riscos de morte em 71% e a necessidade de hospitalização em 69%
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Inmetro cedeu ao lobby do
comércio e da indústria e decidiu liberar a venda de cadeirinhas automotivas infantis sem
selo de certificação -ou seja,
que não passaram por testes de
segurança do instituto- até 31
de março do ano que vem.
A exigência de só vender ao
consumidor os assentos para
transportar crianças com selo
do Inmetro estava em vigor
desde 1º de outubro, mas foi
adiada por uma portaria expedida pelo órgão há uma semana. Justificativa oficial: as lojas
precisam desovar os produtos
antigos que estão em estoque
-mesmo que eles não tenham
a comprovação de qualidade.
"Estendemos esse prazo para
que possam fazer uma queima
de estoque e, a partir de então,
vender só produtos certificados", afirma Gustavo Kuster,
gerente de qualidade do Inmetro, embora ele mesmo só recomende a compra de cadeirinhas com selo do instituto.
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) é
uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento do governo Lula (PT).
Um estudo americano apontou que a utilização adequada
das cadeirinhas infantis nos
veículos reduz os riscos de
morte em 71% e a necessidade
de hospitalização em 69%.
Frustração
A prorrogação do prazo pelo
Inmetro foi alvo de críticas devido à avaliação de que incentiva a venda promocional nos
próximos meses de dispositivos que podem ser inseguros.
"É uma grande frustração, é
lamentável", afirma Luciana
O'Reilly, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, para quem a compra de uma cadeirinha sem a certificação do
Inmetro pode dar uma "falsa
sensação de segurança".
"O selo é muito importante
porque não dá para julgar pela
cara, só porque é bonitinha,
porque tem a tira de segurança
grossa", defende O'Reilly.
Hoje há 27 assentos de retenção infantis certificados pelo
Inmetro, de oito marcas.
"Pode até ser que haja bons
produtos [sem certificação].
Mas [sem selo do Inmetro] não
existe uma garantia mínima",
afirma Elizete Fernandes da
Silva, chefe da divisão de fiscalização do Ipem-SP (Instituto de
Pesos e Medidas), que chegou a
fazer a apreensão de uma cadeirinha irregular numa loja
antes de a exigência ser adiada.
A indústria já estava obrigada
desde junho a só produzir novas cadeirinhas automotivas
com selo de certificação do instituto. Mas, como há estoques
de dispositivos antigos tanto ligados às fábricas como ao comércio, ambos reivindicaram a
nova tolerância ao Inmetro.
Credibilidade
"O que seria feito com os produtos antigos?", questiona Debora Treves, da Abrapur (Associação Brasileira de Produtos
Infantis), que reconhece haver
muitos assentos de má qualidade hoje no mercado, mas recomenda ao consumidor que se
oriente pela "credibilidade" e
"renome" do fabricante.
O Inmetro e a Abrapur também alegam que, pelo código do
consumidor, os comerciantes
são responsáveis pela qualidade do produto que vendem.
O uso de cadeirinhas, bebês
conforto e assentos de elevação
infantis é considerado essencial por especialistas para atenuar a possibilidade de lesão e
morte em acidentes viários.
A obrigatoriedade dos assentos para transportar crianças
de até sete anos e meio, entretanto, só será obrigatória a partir de junho de 2010, sob pena
de multa de R$ 191,54. Hoje há
brecha na lei permitindo que
elas sejam levadas no banco
traseiro com cinto de segurança normal -considerado inadequado para essa faixa etária.
O próprio Inmetro questionou anos atrás a qualidade das
cadeirinhas vendidas no país
-somente depois fixou a certificação compulsória.
Na época, dos testes com seis
marcas, quatro não passaram
nos ensaios de impacto -para
aferir se os dispositivos são capazes de segurar a criança num
acidente. Todas os manuais de
instrução foram reprovados
-problema considerado grave
porque, sem instalação adequada, a cadeirinha não resolve.
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