São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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60% dos alunos de medicina são reprovados em exame

É a maior reprovação desde a criação da prova do Conselho Regional de Medicina, em 2005

Mais da metade dos 679 alunos não soube responder quando o médico deve suspeitar de tuberculose; exame não é obrigatório

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Seis em cada dez estudantes prestes a concluir o curso de medicina foram reprovados no exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). É a maior reprovação desde que a prova foi criada, em 2005. O exame não é obrigatório. "Não foi uma prova difícil. Exigiu-se aquilo que um médico que acabou de terminar a faculdade precisa saber", diz o presidente do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves. "A porta de entrada desses médicos para o mercado de trabalho são o ambulatório e a emergência. Ou seja, estão indo para essas áreas estratégicas justamente os médicos menos qualificados. Eles colocam vidas em risco." Neste ano, de 679 alunos, 61% não conseguiram passar da primeira fase. É quase o dobro dos 31% reprovados em 2005, quando 998 fizeram a prova. A estimativa é que cerca de 2.500 médicos se formem no Estado de São Paulo neste ano. Os alunos tiveram que resolver, na primeira fase, um teste com 120 questões. Mais da metade não soube responder a uma pergunta sobre quando se deve suspeitar de tuberculose -tosse com expectoração por três ou mais semanas, febre, perda de peso e falta de apetite. Dos 231 estudantes que fizeram a segunda fase, prática, apenas 24 foram reprovados. Alunos de 23 faculdades do Estado participaram, mas só 13 tiveram mais de 20 alunos fazendo a prova, número mínimo para o Cremesp considerar a participação representativa. Das 13 instituições, só três conseguiram aprovar mais da metade dos alunos -a aprovação credencia o aluno a fazer a segunda fase do exame. Foram elas: Unifesp, com 64% de aprovados; Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP, com 56%; e USP, com 52%. As escolas privadas tiveram os piores desempenhos. O curso da Universidade São Francisco, de Bragança Paulista, está na ponta da lista. Dos 28 alunos que realizaram o exame, só três foram aprovados. A Folha procurou a faculdade, mas ninguém se manifestou. Para o presidente do Cremesp, os cursos são ruins porque as faculdades trabalham com a lógica do lucro. "O curso de medicina exige professores capacitados, materiais e hospital universitário. É caro demais para ser custeado só com as mensalidades. Ou a faculdade dá prejuízo, ou a faculdade dá lucro, mas oferece um curso de má qualidade", diz Gonçalves. Além de cada vez mais baixo o total de aprovados, os 679 participantes deste ano representaram a menor adesão desde o início da prova do Cremesp. Não participam a Unicamp e a USP-Ribeirão.


Colaborou RICARDO WESTIN , da Reportagem Local



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