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Projeto para bancar Olimpíada ameaça bacia hidrográfica
Texto aprovado permite o adensamento populacional na bacia de
Jacarepaguá, área de "fragilidade ambiental", segundo a prefeitura
Bairros daquela região vão
abrigar 40% das competições
em 2016; nova lei aguarda
sanção do prefeito Eduardo
Paes, que apoia o projeto
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
O projeto aprovado na última
terça pela Câmara Municipal
do Rio para financiar obras da
Copa do Mundo de 2014 e da
Olimpíada de 2016 vai permitir
o aterramento e a ocupação de
áreas alagadas na zona oeste.
Isso pode afetar uma das importantes bacias hidrográficas
da cidade, causando o desaparecimento de aves e anfíbios e
aumentando a presença de
mosquitos nessa região.
A tramitação a toque de caixa, de só uma semana, contrariou vereadores da oposição,
que acionaram o Ministério
Público. O projeto, de autoria
de 11 comissões da Câmara Municipal, não foi discutido em
audiência pública, como determina o Estatuto das Cidades.
Os bairros da zona oeste concentrarão 40% das competições da Olimpíada de 2016. A
bacia de Jacarepaguá, na região, é considerada pela própria
prefeitura uma área de "fragilidade ambiental", conforme
consta na proposta do Executivo para o Plano Diretor.
A Folha procurou a Secretaria Municipal de Urbanismo
para comentar o projeto. Até a
conclusão desta edição, não havia obtido resposta.
O Projeto de Estruturação
Urbanística das Vargens define
novos gabaritos para os bairros
da zona oeste. Ele amplia o limite de altura dos prédios na
região e possibilita pagar por
ainda mais potencial construtivo, por meio do instrumento de
outorga onerosa. O adensamento está condicionado à
proteção ambiental e à melhoria na infraestrutura.
O valor arrecadado com a outorga onerosa será investido
em obras na região prometidas
ao Comitê Olímpico Internacional, como a construção do
Corredor T5 (via expressa de ligação Barra-zona norte). Na
área abrangida pelo projeto, ficarão a Vila Olímpica e os equipamentos esportivos sediados
onde hoje está o autódromo.
Também nessa região, a CBF
planeja construir sua nova sede
e um novo centro de treinamento para a seleção brasileira.
Para Helia Nacif, ex-secretária de Urbanismo, a construção
de prédios em área alagadiça
prejudica a ligação entre as lagunas da região. Composta por
cinco lagunas, 39 rios, dois arroios, dois córregos e três canais, a bacia é interligada por
essas áreas alagadas.
"Ao aterrar, corta toda a geografia, interferindo violentamente no local", diz Nacif.
Na avaliação do biólogo Mario Moscatelli, o adensamento
vai causar o desaparecimento
de aves e anfíbios e aumentar a
presença de mosquitos, causando desequilíbrio ecológico.
A região foi ocupada irregularmente desde o final da década de 80 por casas e restaurantes. A prefeitura, diz Nacif, tentou sem sucesso definir como
padrão urbanístico casas baixas, áreas rurais e restaurantes.
O primeiro padrão da área foi
criado em 2005, mas o projeto
da prefeitura foi todo alterado
pela Câmara, que ampliou os
gabaritos propostos. A nova lei,
que aguarda sanção do prefeito
Eduardo Paes (PMDB), amplia
ainda mais o limite de altura e
de ocupação na região.
Paes apoiou o projeto. "Cobrando, a prefeitura pode fazer
a infraestrutura necessária para aquela região", afirmou.
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