São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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Taxa de separações bate recorde histórico

Total de casamentos em 2005 no país também é o maior em 10 anos, diz IBGE; crescem uniões de separados com mulheres solteiras

Campanhas para legalizar relações estáveis e maior independência feminina explicam as tendências, avaliam especialistas

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Para quem ainda acredita que o casamento é viável, as estatísticas do Registro Civil, divulgadas ontem pelo IBGE, dão um bom argumento para justificar essa posição: nunca se casou tanto no Brasil quanto no ano passado. Essas mesmas estatísticas, no entanto, ajudam também a embasar a tese dos que o consideram uma instituição falida: nunca tantas pessoas se separaram ou divorciaram quanto em 2005.
O crescimento no número de casamentos aconteceu pelo quarto ano consecutivo, chegando em 2005 a 836 mil uniões legais, um número 3,6% maior do que o verificado em 2004. Foi o maior número já verificado nos últimos dez anos. Mesmo levando em conta a população total, os dados do IBGE indicam que, ao menos nos últimos cinco anos, tem aumentado a taxa de nupcialidade. Ela era de 5,8 casamentos por 1.000 jovens e adultos em 2001 e chegou a 6,3 em 2005.
Por outro lado, houve também um aumento tanto no número quanto na taxa de separações e divórcios. No ano passado, foram registrados nos cartórios 251 mil separações ou divórcios, 12,1% a mais do que em 2004. Analisando as taxas, que levam em conta também o crescimento da população, a de separações bateu seu recorde histórico, com 1,3 por 1.000 jovens e adultos. A taxa de divórcio, de 0,9, aumentou em relação a 2005 e só não foi superior a de 1999, de 1,0 divórcio por 1.000 jovens e adultos.
Na avaliação de Cláudio Crespo, gerente de estatísticas vitais e estimativas populacionais do IBGE, os fatores que mais explicam o crescimento no número de casamentos foram as campanhas feitas por poder público, cartórios e igrejas para legalizar a situação de casais que já viviam em união consensual e a estabilização financeira, já que um dos fatores que inibe o casamento legal é a falta de recursos para pagar os custos em cartórios.
O psicólogo social Bernardo Jablonski, professor da PUC-RJ e autor do livro "Até que a Vida nos Separe - A Crise do Casamento Contemporâneo", concorda. Para ele, o aumento recente no número de casamentos acontece mais por efeitos econômicos ou de campanhas de massa do que por uma tendência de comportamento. Já nos caso dos divórcios e separações, Jablonski diz que a tendência é sempre crescente em todos os países.
O crescimento nas separações e divórcios ajuda a explicar também porque o IBGE vem detectando nos últimos anos um aumento constante na proporção de pessoas que estão se casando pela segunda vez. Como há mais solteiros no "mercado matrimonial", a união legal envolvendo ao menos um divorciado representava, em 1995, apenas 8,8% do total. Dez anos depois, esse percentual aumentou para 14,1%.
As estatísticas mostram, no entanto, que esse "mercado" é profundamente desigual em termos de gênero, sempre em favor dos homens. O número de casamentos entre homens divorciados e mulheres solteiras representou 6,2% do total em 2005. Quando a situação é inversa -mulheres divorciadas casando com homens solteiros-, a taxa cai para 3,1%.
Crespo, do IBGE, afirma que um dos fatores a influenciar essa desigualdade em favor dos homens é que as mulheres, em 90% das separações envolvendo filhos, ficam com a guarda. Isso acontece em todos os Estados brasileiros, mas no Rio de Janeiro chega a 95%, enquanto no Acre é de 81%.
"O divórcio tem crescido muito também porque, a partir do momento em que cresce a independência feminina, ela não aceita mais se sujeitar a um casamento em que está infeliz. No entanto, como na maioria dos casos é ela que fica com a guarda dos filhos, é muito mais difícil achar outro parceiro. Uma coisa é você namorar uma mulher com três filhos, outra é você namorar um homem que fica com as crianças apenas de 15 em 15 dias", diz Jablonski.
Outro fator que o psicólogo aponta como inibidor de uma nova união para as mulheres é que o mais comum é o homem se casar com uma mulher mais nova. A idade média do homem ao casar no Brasil é de 30,2 anos. Entre as mulheres, é 26,8. Além disso, os índices de casamentos só são maiores para as mulheres até os 24 anos.


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