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Taxa de separações bate recorde histórico
Total de casamentos em 2005 no país também é o maior em 10 anos, diz IBGE; crescem uniões de separados com mulheres solteiras
Campanhas para legalizar relações estáveis e maior independência feminina explicam as tendências, avaliam especialistas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Para quem ainda acredita
que o casamento é viável, as estatísticas do Registro Civil, divulgadas ontem pelo IBGE, dão
um bom argumento para justificar essa posição: nunca se casou tanto no Brasil quanto no
ano passado. Essas mesmas estatísticas, no entanto, ajudam
também a embasar a tese dos
que o consideram uma instituição falida: nunca tantas pessoas
se separaram ou divorciaram
quanto em 2005.
O crescimento no número de
casamentos aconteceu pelo
quarto ano consecutivo, chegando em 2005 a 836 mil
uniões legais, um número 3,6%
maior do que o verificado em
2004. Foi o maior número já
verificado nos últimos dez
anos. Mesmo levando em conta
a população total, os dados do
IBGE indicam que, ao menos
nos últimos cinco anos, tem aumentado a taxa de nupcialidade. Ela era de 5,8 casamentos
por 1.000 jovens e adultos em
2001 e chegou a 6,3 em 2005.
Por outro lado, houve também um aumento tanto no número quanto na taxa de separações e divórcios. No ano passado, foram registrados nos cartórios 251 mil separações ou divórcios, 12,1% a mais do que em
2004. Analisando as taxas, que
levam em conta também o
crescimento da população, a de
separações bateu seu recorde
histórico, com 1,3 por 1.000 jovens e adultos. A taxa de divórcio, de 0,9, aumentou em relação a 2005 e só não foi superior
a de 1999, de 1,0 divórcio por
1.000 jovens e adultos.
Na avaliação de Cláudio
Crespo, gerente de estatísticas
vitais e estimativas populacionais do IBGE, os fatores que
mais explicam o crescimento
no número de casamentos foram as campanhas feitas por
poder público, cartórios e igrejas para legalizar a situação de
casais que já viviam em união
consensual e a estabilização financeira, já que um dos fatores
que inibe o casamento legal é a
falta de recursos para pagar os
custos em cartórios.
O psicólogo social Bernardo
Jablonski, professor da PUC-RJ e autor do livro "Até que a
Vida nos Separe - A Crise do
Casamento Contemporâneo",
concorda. Para ele, o aumento
recente no número de casamentos acontece mais por efeitos econômicos ou de campanhas de massa do que por uma
tendência de comportamento.
Já nos caso dos divórcios e separações, Jablonski diz que a
tendência é sempre crescente
em todos os países.
O crescimento nas separações e divórcios ajuda a explicar também porque o IBGE
vem detectando nos últimos
anos um aumento constante na
proporção de pessoas que estão
se casando pela segunda vez.
Como há mais solteiros no
"mercado matrimonial", a
união legal envolvendo ao menos um divorciado representava, em 1995, apenas 8,8% do total. Dez anos depois, esse percentual aumentou para 14,1%.
As estatísticas mostram, no
entanto, que esse "mercado" é
profundamente desigual em
termos de gênero, sempre em
favor dos homens. O número
de casamentos entre homens
divorciados e mulheres solteiras representou 6,2% do total
em 2005. Quando a situação é
inversa -mulheres divorciadas
casando com homens solteiros-, a taxa cai para 3,1%.
Crespo, do IBGE, afirma que
um dos fatores a influenciar essa desigualdade em favor dos
homens é que as mulheres, em
90% das separações envolvendo filhos, ficam com a guarda.
Isso acontece em todos os Estados brasileiros, mas no Rio de
Janeiro chega a 95%, enquanto
no Acre é de 81%.
"O divórcio tem crescido
muito também porque, a partir
do momento em que cresce a
independência feminina, ela
não aceita mais se sujeitar a um
casamento em que está infeliz.
No entanto, como na maioria
dos casos é ela que fica com a
guarda dos filhos, é muito mais
difícil achar outro parceiro.
Uma coisa é você namorar uma
mulher com três filhos, outra é
você namorar um homem que
fica com as crianças apenas de
15 em 15 dias", diz Jablonski.
Outro fator que o psicólogo
aponta como inibidor de uma
nova união para as mulheres é
que o mais comum é o homem
se casar com uma mulher mais
nova. A idade média do homem
ao casar no Brasil é de 30,2
anos. Entre as mulheres, é 26,8.
Além disso, os índices de casamentos só são maiores para as
mulheres até os 24 anos.
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