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"Policiais foram levados ao erro", diz delegada
Corregedora do Pará diz acreditar nos policiais que culpam a menina por mentir a idade ao ser presa; "são pessoas que têm formação"
À frente da apuração do caso da garota L., delegada afirma que, segundo depoimentos dos presos, a jovem se insinuava para eles
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Responsável por investigar a
atuação dos policiais que colocaram uma menina de 15 anos
em uma cela com homens em
Abaetetuba (PA), a delegada
corregedora Liane Martins minimizou a culpa dos policiais no
caso e jogou a responsabilidade
para a própria garota.
"A todos os delegados ela se
apresentava como maior de
idade. Não acredito que eles estejam mentindo. São pessoas
que têm formação", disse em
entrevista à Folha.
A corregedora afirmou que
os delegados foram "levados ao
erro" pela adolescente -que
foi abusada sexualmente durante os 26 dias em que permaneceu na cela da delegacia da
cidade do Pará. Por isso, diz ela,
não há motivos suficientes para a demissão dos policiais.
"Eles têm responsabilidade, alguma negligência houve, mas
não é o caso de demissão. Até o
momento, não."
Disse que por várias vezes a
menina provocava sexualmente os presos e insinuou, assim
como o ex-delegado-geral da
Polícia Civil do Pará, Raimundo Benassuly, que a garota tem
algum problema psíquico.
"Ela podia ser submetida a
uma avaliação por assistentes
sociais, psicólogos, para saber
porque fazia isso [falar aos policiais que tinha 19 anos]. Mas
não posso dizer [que a garota
tem problema]. O delegado-geral caiu por causa disso", afirmou a corregedora.
Há uma semana, Benassuly
chamou a jovem de débil mental, durante audiência pública
para discutir o caso no Senado.
No dia seguinte, com a repercussão da declaração, teve de
pedir demissão.
Sistema penal
Durante toda a entrevista, a
corregedora defendeu os policiais. Diz que cabia ao sistema
penal (Justiça e superintendência do sistema prisional) ter
transferido a garota e que a jovem nunca relatou aos agentes
prisionais as agressões sofridas. "Os policiais que eu já ouvi
reforçam que ela estava sob a
custódia do sistema penal. Os
carcereiros também dizem que
ela nunca relatou os fatos a
eles."
Segundo Liane Martins, a garota disse que não recebeu visitas de familiares "porque os
presos não permitiam que ela
se aproximasse das grades". A
delegada responsável pelo flagrante disse que notificou a família, que nega.
A corregedora já ouviu os depoimentos da garota, dos pais
biológicos, dos cinco conselheiros tutelares, de quatro delegados, de dois escrivães, de agentes prisionais e investigadores e
de 17 presos. A investigação da
conduta dos envolvidos teve
início no dia 22. São 30 dias até
a conclusão da sindicância.
Para ela, até agora, a única
dúvida no caso é saber o motivo
de a menina ter mentido a idade. "A todos os delegados, ela se
apresentava como maior. Só
posso tirar a dúvida se a reinquirir, o que acho pouco provável, porque ela está no programa [de proteção federal]."
A entrevista foi concedida na
corregedoria, em Belém. Ela
contou à reportagem que outras quatro mulheres já haviam
ficado na mesma cela, também
com homens. E que os juízes de
Abaetetuba sabiam disso, porque a superintendência da Polícia Civil enviou ofícios pedindo
as transferências e não obteve
resposta.
De acordo com o depoimento
dos presos, disse a corregedora,
apenas um abusou sexualmente da menina. "Os demais [atos
sexuais] foram por livre e espontânea vontade da própria
adolescente. Ela se deitava na
rede dos presos novatos e mantinha relações com eles. Os 17
presos que estiveram na delegacia dizem a mesma coisa."
A corregedora afirmou ainda
que nenhum dos presos ajudou
a garota porque "no cárcere é
cada um por si e ninguém se
mete na vida de ninguém".
"Um dos presos confirma que
ela gritou e pediu ajuda, mas
que não podia se meter, pois ali
dentro existe a lei do silêncio",
disse Liane Martins.
Ela não soube responder ao
fato de os cabelos da menina terem sido cortados a facão por
policiais. A garota disse que poderia até reconhecê-los. "Os
policiais não confirmam isso."
Mexia com os presos
Segundo a delegada, a garota
chegou a fazer sexo com um dos
presos por comida. Disse, no
entanto, que, segundo os depoimentos dos detentos, ela se insinuava para eles. "Quando ela
saía para tomar banho, mexia
com os presos, saía andando se
exibindo nua. Os presos ficavam irritados com ela e a mandavam vestir uma roupa. Ela
não criava jeito."
Em viagem, a governadora do
Pará, Ana Júlia Carepa (PT),
não foi localizada pela reportagem para comentar as declarações da corregedora.
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