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Só 5 de 29 cursos têm nota reavaliada pelo MEC
Na maioria dos casos, especialistas escalados pelo MEC mantiveram conceito baixo após visitarem os cursos de ensino superior
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Sob intensa pressão do setor
privado para mudar seu sistema de avaliação, o MEC já começou a receber os primeiros
relatórios de especialistas escalados para visitar cursos mal
avaliados no ensino superior.
Os primeiros resultados
mostram que, na maioria dos
casos, os avaliadores mantiveram o conceito baixo do curso.
Apenas cinco de 29 visitas resultaram em mudança. Nos
cinco casos, o conceito aumentou de dois para três, numa escala que vai de um a cinco.
A visita aos cursos mal avaliados faz parte da estratégia de
regulação do ensino superior
do ministério. Antes, todos os
cursos eram avaliados in loco.
A partir deste ano, o MEC limitou as visitas a cursos mal
avaliados (nota 1 ou 2) no recém-criado CPC (Conceito
Preliminar de Curso) ou aos
que tiveram conceito 3 ou 4 e
solicitam, por iniciativa própria, avaliação in loco na expectativa de melhorar a nota.
Somente 27 cursos, de um total de 1.472 com 3 ou 4, pediram
para serem visitados voluntariamente. No caso dos 508 cursos com 1 ou 2 na avaliação de
2007, a visita é obrigatória.
O CPC é o principal alvo das
associações que representam
instituições particulares, que
argumentam, entre outras razões, que a divulgação de dados
ainda preliminares prejudica a
imagem dos cursos.
O indicador sintetiza -dando pesos diferenciados a cada
item- o desempenho dos alunos no Enade (exame substituto do Provão), a qualificação do
corpo docente, a percepção dos
alunos sobre o curso e um cálculo que tenta medir o quanto
cada curso agregou ao formando considerando o perfil socioeconômico dos estudantes.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, defende que o
processo agora ficou mais rigoroso, já que antes a avaliação in
loco não tinha influência da nota dos alunos. Era comum, segundo ele, cursos ma avaliados
no Provão ou no Enade receberem conceitos positivos do especialista.
"Quando o avaliador faz a visita já de posse de indicadores
objetivos que mostram como o
curso está em relação aos demais da área, ele não olha somente as aparências. Ele tem liberdade para mudar o conceito
do curso, mas precisa justificar
essa alteração."
Para o ministro, o fato de somente cinco de 29 cursos já
avaliados até agora terem tido
mudança no conceito -de dois
para três- mostra que a avaliação preliminar é coerente com
o que se verifica in loco.
Para o sociólogo Simon
Schwartzman, ex-presidente
do IBGE, o resultado não surpreende. "Qualquer avaliação,
quando você olha para as pontas somente, tende a ter alto
grau de acerto, já que são cursos ou muito ruins ou muito
bons. A questão mais importante é saber se a avaliação dos
cursos com conceito 3 ou 4, que
estão no meio, foi bem-feita."
A principal crítica de
Schwartzman ao CPC é ao fato
de ele ser incompreensível, em
sua opinião, para o público.
"Deu bastante trabalho para
entender. Ele é resultado de
uma manipulação estatística
que mistura vários indicadores
com pesos diferentes e, depois
de várias regressões e não sei
quantas ponderações, chega-se
a um valor. Continuo achando
irresponsável, por parte do
MEC, divulgar um indicador
tão genérico assim."
O nome dos cursos que tiveram seus conceitos alterados
ainda não pode ser divulgado
pelo MEC porque eles ainda
podem contestar o resultado.
Os cursos mal avaliados mesmo
após a visita dos especialistas
assinam um termo de compromisso para melhorar. Eles podem ter que reduzir as vagas ou,
em último caso, fechar.
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