São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2008

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VALÊNCIO XAVIER NICULITCHEFF (1933-2008)

"O primeiro escritor romancista gráfico"

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando "O Mez da Grippe" ganhou nova edição em 1998, o escritor paulista Valêncio Xavier Niculitcheff afirmou a esta Folha: "É como ler meu livro pela primeira vez".
Inicialmente, a obra teve pequena tiragem. "O que saiu em 1981 era de baixa qualidade, a impressão era muito ruim", disse. Poucos livros no mercado e qualidade duvidosa de impressão (na opinião do autor) não impediram que o poeta concretista Décio Pignatari, por exemplo, lesse e admirasse o trabalho.
Décio chegou a escrever sobre Valêncio, também em 1998: "Não fez romance ilustrado, nem ilustração romanceada; abriu um novo caminho para a escritura. Escritura gráfica. É o nosso primeiro escritor romancista gráfico".
Naquele ano de 1981, Valêncio preparava uma reportagem sobre a epidemia de gripe espanhola no início do século passado, em Curitiba (PR) -cidade onde viveu por longos anos. Além do texto jornalístico, lançou o livro, com toques experimentais.
"O Mez da Grippe" chamou a atenção de Décio por trazer recortes de textos, fotos e anúncios de jornais de época junto de versos eróticos escritos pelo próprio autor e depoimentos de mulheres que sobreviveram à epidemia.
Mas os trabalhos de Valêncio não se resumiram à literatura e ao jornalismo -escreveu para a revista "Nicolau", "Revista USP", "Gazeta do Povo" e para o caderno Mais!, da Folha. Sua obra esteve sempre ligada à imagem.
"Não consigo pensar em uma obra minha que não tenha imagens. Desde pequeno, sempre preferi os livros que tinham fotos e ilustrações.
Para mim, a imagem e a palavra têm o mesmíssimo peso."
No cinema, ganhou prêmio com o filme "Caro Signore Feline", de 1980. Foi ainda cenógrafo (desenhou cenários para a rede Tupi), roteirista e diretor de televisão.
Dizia, porém, ter perdido o interesse pela área: "A TV hoje é um espaço só para publicitários, e isso não me agrada". Sobre como escrevia, contou: "Meu cérebro é do tamanho de um grão de arroz partido ao meio, e não costumo pensar muito enquanto estou escrevendo. As coisas simplesmente vêm".
Valêncio morreu ontem, aos 75, em Curitiba, após complicações decorrentes de uma pneumonia.

obituario@grupofolha.com.br


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