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VALÊNCIO XAVIER NICULITCHEFF (1933-2008)
"O primeiro escritor romancista gráfico"
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando "O Mez da Grippe"
ganhou nova edição em 1998,
o escritor paulista Valêncio
Xavier Niculitcheff afirmou a
esta Folha: "É como ler meu
livro pela primeira vez".
Inicialmente, a obra teve
pequena tiragem. "O que saiu
em 1981 era de baixa qualidade, a impressão era muito
ruim", disse. Poucos livros no
mercado e qualidade duvidosa de impressão (na opinião
do autor) não impediram que
o poeta concretista Décio Pignatari, por exemplo, lesse e
admirasse o trabalho.
Décio chegou a escrever sobre Valêncio, também em
1998: "Não fez romance ilustrado, nem ilustração romanceada; abriu um novo caminho para a escritura. Escritura gráfica. É o nosso primeiro
escritor romancista gráfico".
Naquele ano de 1981, Valêncio preparava uma reportagem sobre a epidemia de
gripe espanhola no início do
século passado, em Curitiba
(PR) -cidade onde viveu por
longos anos. Além do texto
jornalístico, lançou o livro,
com toques experimentais.
"O Mez da Grippe" chamou
a atenção de Décio por trazer
recortes de textos, fotos e
anúncios de jornais de época
junto de versos eróticos escritos pelo próprio autor e depoimentos de mulheres que
sobreviveram à epidemia.
Mas os trabalhos de Valêncio não se resumiram à literatura e ao jornalismo -escreveu para a revista "Nicolau",
"Revista USP", "Gazeta do
Povo" e para o caderno Mais!,
da Folha. Sua obra esteve
sempre ligada à imagem.
"Não consigo pensar em
uma obra minha que não tenha imagens. Desde pequeno,
sempre preferi os livros que
tinham fotos e ilustrações.
Para mim, a imagem e a palavra têm o mesmíssimo peso."
No cinema, ganhou prêmio
com o filme "Caro Signore
Feline", de 1980. Foi ainda
cenógrafo (desenhou cenários para a rede Tupi), roteirista e diretor de televisão.
Dizia, porém, ter perdido o
interesse pela área: "A TV hoje é um espaço só para publicitários, e isso não me agrada". Sobre como escrevia,
contou: "Meu cérebro é do tamanho de um grão de arroz
partido ao meio, e não costumo pensar muito enquanto
estou escrevendo. As coisas
simplesmente vêm".
Valêncio morreu ontem,
aos 75, em Curitiba, após
complicações decorrentes de
uma pneumonia.
obituario@grupofolha.com.br
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