|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Guarulhos salta no ranking do IBGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em Guarulhos, o segundo município mais populoso do Estado
de São Paulo, o número de favelas
aumentou 112,5%, entre 91 e 2000.
A quantidade de favelas no período saltou de 64 para 136, fazendo
com que a cidade subisse da 11ª
posição para a 4ª no ranking da
favelização do IBGE.
O aumento das favelas em Guarulhos, embora grande, não surpreende líderes comunitários do
município. A explicação é que
quase 50% da população é formada por migrantes do Norte e do
Nordeste, com baixa escolaridade, que ou estão desempregados
ou têm renda muito baixa, segundo o Mapa da Criança e do Adolescente de Guarulhos, divulgado
em outubro.
A favela da Hatsuda, surgida há
quatro anos, entre as avenidas
Tancredo Neves e Monteiro Lobato, chama mais atenção pela sujeira do que pela pobreza. A coleta
de lixo é feita uma vez por semana
e a favela (cerca de 150 barracos)
sofre um problema crônico de falta de água.
O lixo fica acumulado em montanhas enormes, rodeadas por
moscas, outros insetos e vermes.
As crianças (cerca de 300 de até 6
anos, segundo a Pastoral) brincam nuas nos dejetos e praticamente todas sofrem de doenças
de pele.
A Hatsuda foi criada perto de
uma fábrica abandonada. Os moradores dizem que o terreno pertence ao Banco do Brasil. Apesar
da falta de infra-estrutura, todos
temem perder o barraco, cujo
preço médio é R$ 1.500.
"Essa é a primeira casa que eu
tenho na vida", diz Andreza de
Oliveira, 20. Ela foi criada em um
orfanato e, aos 18 anos, conheceu
o marido, Adão Silva, 27, que viveu em favelas desde que chegou
de Petrolina (PE), aos 10 anos.
A disputa por poder nas favelas
mais antigas é outra causa que leva moradores a procurar ocupações mais recentes.
"Eu abandonei meu barraco na
São Judas (favela perto da rodovia
dos Trabalhadores) porque teve
um tiroteio e meu marido morreu", contou Lucineide Maria José, 27. Ela pegou os sete filhos,
juntou R$ 500 e comprou um barraco dos mais baratos na Hatsuda. "Pelo menos aqui é tranquilo", afirmou.
Mapa
O Mapa da Criança e do Adolescente mostra que a pobreza em
Guarulhos é tão consolidada que
a qualidade de vida considerada
"média" deixa muito a desejar em
relação ao que o senso comum
qualifica como "viver bem".
Desfrutam de qualidade de vida
considerada média famílias que
vivem em domicílios com dois
dormitórios, em que a mãe trabalha como empregada doméstica
ou operária, em que o pai tem um
contrato fixo de trabalho e em que
os filhos menores de 15 anos estão
na escola.
Dessas famílias, 40,5% vivem
em moradias consideradas precárias. Só para se ter uma idéia do
caos urbano, 15,2% desses domicílios localizam-se em favelas.
Essa pesquisa foi feita com base
nos 773 setores censitários do IBGE, entre os quais 26 favelas.
Conceição Garanito, coordenadora da Pastoral da Criança de
Guarulhos, diz que, quando as voluntárias iniciam o trabalho em
uma nova favela, costumam detectar desnutrição em cerca de
50% das crianças. "Isso é muito,
se levarmos em conta que Guarulhos é vizinha da cidade mais rica
do país", diz ela.
Texto Anterior: Periferia atrai novos ocupantes Próximo Texto: Porto Alegre investe em condomínios Índice
|