São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2001

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Guarulhos salta no ranking do IBGE

DA REPORTAGEM LOCAL

Em Guarulhos, o segundo município mais populoso do Estado de São Paulo, o número de favelas aumentou 112,5%, entre 91 e 2000. A quantidade de favelas no período saltou de 64 para 136, fazendo com que a cidade subisse da 11ª posição para a 4ª no ranking da favelização do IBGE.
O aumento das favelas em Guarulhos, embora grande, não surpreende líderes comunitários do município. A explicação é que quase 50% da população é formada por migrantes do Norte e do Nordeste, com baixa escolaridade, que ou estão desempregados ou têm renda muito baixa, segundo o Mapa da Criança e do Adolescente de Guarulhos, divulgado em outubro.
A favela da Hatsuda, surgida há quatro anos, entre as avenidas Tancredo Neves e Monteiro Lobato, chama mais atenção pela sujeira do que pela pobreza. A coleta de lixo é feita uma vez por semana e a favela (cerca de 150 barracos) sofre um problema crônico de falta de água.
O lixo fica acumulado em montanhas enormes, rodeadas por moscas, outros insetos e vermes. As crianças (cerca de 300 de até 6 anos, segundo a Pastoral) brincam nuas nos dejetos e praticamente todas sofrem de doenças de pele.
A Hatsuda foi criada perto de uma fábrica abandonada. Os moradores dizem que o terreno pertence ao Banco do Brasil. Apesar da falta de infra-estrutura, todos temem perder o barraco, cujo preço médio é R$ 1.500.
"Essa é a primeira casa que eu tenho na vida", diz Andreza de Oliveira, 20. Ela foi criada em um orfanato e, aos 18 anos, conheceu o marido, Adão Silva, 27, que viveu em favelas desde que chegou de Petrolina (PE), aos 10 anos.
A disputa por poder nas favelas mais antigas é outra causa que leva moradores a procurar ocupações mais recentes.
"Eu abandonei meu barraco na São Judas (favela perto da rodovia dos Trabalhadores) porque teve um tiroteio e meu marido morreu", contou Lucineide Maria José, 27. Ela pegou os sete filhos, juntou R$ 500 e comprou um barraco dos mais baratos na Hatsuda. "Pelo menos aqui é tranquilo", afirmou.

Mapa
O Mapa da Criança e do Adolescente mostra que a pobreza em Guarulhos é tão consolidada que a qualidade de vida considerada "média" deixa muito a desejar em relação ao que o senso comum qualifica como "viver bem".
Desfrutam de qualidade de vida considerada média famílias que vivem em domicílios com dois dormitórios, em que a mãe trabalha como empregada doméstica ou operária, em que o pai tem um contrato fixo de trabalho e em que os filhos menores de 15 anos estão na escola.
Dessas famílias, 40,5% vivem em moradias consideradas precárias. Só para se ter uma idéia do caos urbano, 15,2% desses domicílios localizam-se em favelas.
Essa pesquisa foi feita com base nos 773 setores censitários do IBGE, entre os quais 26 favelas.
Conceição Garanito, coordenadora da Pastoral da Criança de Guarulhos, diz que, quando as voluntárias iniciam o trabalho em uma nova favela, costumam detectar desnutrição em cerca de 50% das crianças. "Isso é muito, se levarmos em conta que Guarulhos é vizinha da cidade mais rica do país", diz ela.


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