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Favelização intensifica-se no Pará
ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA
O Pará foi o Estado onde se registrou o maior aumento percentual de favelas da década de 90 em
consequência das invasões de terrenos e conjuntos habitacionais.
Nesse período, foi em 1996, um
ano eleitoral, em que ocorreu
uma explosão de invasões.
A avaliação é do arquiteto Flávio Nassar, 48, professor da UFPA
(Universidade Federal do Pará) e
ex-diretor da Cohab do Estado,
órgão que cuida das questões habitacionais.
Para Dario Lisboa Fernandes,
48, presidente-interino da Cohab,
a favelização foi mais expressiva
nos primeiros anos da década e
está em declínio.
Maria dos Anjos Luz, 47, discorda. Segundo ela, que é coordenadora de uma entidade social que
reúne 110 associações de centros
comunitários e que tem como
principal bandeira a reforma urbana, as invasões na região metropolitana da capital do Estado,
Belém, não estão em declínio,
mas a "todo o vapor".
De acordo com dados do IBGE,
Belém, que ocupava a 32ª posição
no ranking com 20 favelas, em 91,
hoje está na 10ª com 93 (no Estado
são 140), o que implica significativo aumento de 365%.
O termo favela não é comum no
Estado do Pará. Invasões e palafitas são as denominações utilizadas com mais frequência pela população.
Segundo o professor Nassar, as
invasões na década de 80 eram organizadas pelos movimentos sociais e pela Igreja.
A partir da década de 90, no entanto, com o empobrecimento
crescente do Estado e o surgimento de ondas migratórias, especialmente a partir do Maranhão, as
invasões deixaram de ser movimentos de caráter reivindicatório
e passaram a ter peso econômico,
valendo como mercadoria no
processo eleitoral.
O arquiteto afirma que as invasões irregulares de terrenos já fazem parte da cultura do paraense
e são toleradas, ou até incentivadas, pelos governos municipal e
estadual há muitos anos.
Fernandes admite que houve
muita complacência das autoridades nas invasões urbanas no
Estado, mas alega que essa permissividade é coisa do passado.
O presidente da Cohab afirma
que, no final de 96, o órgão chegou a contabilizar no Estado 350
terrenos invadidos com mais de
50 famílias cada um. Boa parte
dessas áreas foi legalizada nos últimos anos. Segundo ele, desde
1997, o governo investiu R$ 86,5
milhões no setor, urbanizando 12
mil lotes e dotando de infra-estrutura 11,5 mil unidades invadidas.
A reportagem tentou por três
vezes ouvir o prefeito de Belém,
Edmilson Rodrigues (PT), sobre o
assunto, mas não obteve retorno
das ligações telefônicas.
Entre as últimas grandes invasões na capital estão as de Terra
Nossa, Novo Milênio e Cabano,
que ocorreram no ano passado.
Cada área é habitada por cerca de
mil famílias.
A desempregada Celita de Jesus
Pinheiro, 32, está vivendo há dois
meses na Terra Nossa. Sua filha
Débora de Jesus Pinheiro, 12, diverte-se colecionando bonecas
velhas que encontra jogadas na
região. Seu maior sonho é conseguir estudar. Ela acredita que poderá realizá-lo ainda este ano.
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