São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2001

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Favelização intensifica-se no Pará

ELIANE SILVA
DA AGÊNCIA FOLHA

O Pará foi o Estado onde se registrou o maior aumento percentual de favelas da década de 90 em consequência das invasões de terrenos e conjuntos habitacionais. Nesse período, foi em 1996, um ano eleitoral, em que ocorreu uma explosão de invasões.
A avaliação é do arquiteto Flávio Nassar, 48, professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) e ex-diretor da Cohab do Estado, órgão que cuida das questões habitacionais.
Para Dario Lisboa Fernandes, 48, presidente-interino da Cohab, a favelização foi mais expressiva nos primeiros anos da década e está em declínio.
Maria dos Anjos Luz, 47, discorda. Segundo ela, que é coordenadora de uma entidade social que reúne 110 associações de centros comunitários e que tem como principal bandeira a reforma urbana, as invasões na região metropolitana da capital do Estado, Belém, não estão em declínio, mas a "todo o vapor".
De acordo com dados do IBGE, Belém, que ocupava a 32ª posição no ranking com 20 favelas, em 91, hoje está na 10ª com 93 (no Estado são 140), o que implica significativo aumento de 365%.
O termo favela não é comum no Estado do Pará. Invasões e palafitas são as denominações utilizadas com mais frequência pela população.
Segundo o professor Nassar, as invasões na década de 80 eram organizadas pelos movimentos sociais e pela Igreja.
A partir da década de 90, no entanto, com o empobrecimento crescente do Estado e o surgimento de ondas migratórias, especialmente a partir do Maranhão, as invasões deixaram de ser movimentos de caráter reivindicatório e passaram a ter peso econômico, valendo como mercadoria no processo eleitoral.
O arquiteto afirma que as invasões irregulares de terrenos já fazem parte da cultura do paraense e são toleradas, ou até incentivadas, pelos governos municipal e estadual há muitos anos.
Fernandes admite que houve muita complacência das autoridades nas invasões urbanas no Estado, mas alega que essa permissividade é coisa do passado.
O presidente da Cohab afirma que, no final de 96, o órgão chegou a contabilizar no Estado 350 terrenos invadidos com mais de 50 famílias cada um. Boa parte dessas áreas foi legalizada nos últimos anos. Segundo ele, desde 1997, o governo investiu R$ 86,5 milhões no setor, urbanizando 12 mil lotes e dotando de infra-estrutura 11,5 mil unidades invadidas.
A reportagem tentou por três vezes ouvir o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PT), sobre o assunto, mas não obteve retorno das ligações telefônicas.
Entre as últimas grandes invasões na capital estão as de Terra Nossa, Novo Milênio e Cabano, que ocorreram no ano passado. Cada área é habitada por cerca de mil famílias.
A desempregada Celita de Jesus Pinheiro, 32, está vivendo há dois meses na Terra Nossa. Sua filha Débora de Jesus Pinheiro, 12, diverte-se colecionando bonecas velhas que encontra jogadas na região. Seu maior sonho é conseguir estudar. Ela acredita que poderá realizá-lo ainda este ano.


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